Endividamento das famílias chega a 77,5%, maior valor em 12 anos, aponta CNC
Segundo levantamento, alta inflação pressiona orçamento das famílias, que recorrem a fontes de crédito para complementar a renda
A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC) publicada nesta quinta-feira (31) pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) aponta que 77,5% das famílias estão endividadas.
Segundo a Confederação, esse é o maior valor no índice nos últimos 12 anos. Os dados são referentes ao mês de março.
De acordo com a PEIC, há um ano, a proporção dos endividados era de 67,3%, 10,2 pontos abaixo do percentual atual.
Na comparação com o mês anterior, o indicador teve um aumento de 0,9 ponto percentual. A pesquisa considera dívidas a vencer gastos com cheque pré-datado, cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, crédito consignado, empréstimo pessoal, prestação de carro e de casa.
Segundo a CNC, o principal tipo de dívida é a de cartão crédito, com 87% das famílias com esses compromissos futuros.
Em seguida vêm os gastos com carnês, com 18,7%, seguido pelo financiamento de carro, que ocupa o orçamento de 11,2% dos entrevistados.
O levantamento aponta que a alta inflação faz com que as famílias necessitem recorrer a empréstimos e outras fontes de crédito para complementar a renda.
Mesmo com juros mais altos, a tendência de aumento do endividamento se mantém.
Ambas as faixas de renda pesquisadas, acima e abaixo de dez salários-mínimos, tiveram aumento no endividamento. Entretanto, as famílias com maior poder aquisitivo apresentaram uma variação maior no percentual na comparação entre fevereiro e março.
A CNC aponta que 73,7% das famílias com renda superior a dez salários estão endividadas, antes os 72,2% registrados em fevereiro. Já nas famílias que ganham abaixo de dez salários, o percentual do mês de março foi de 78,5%, ante os 77,8% encontrados no mês anterior.
A proporção de endividados entre as famílias de maior poder aquisitivo foi puxada por gastos com cartão de crédito, com a proporção recorde de 89,3% dos gastos sendo com essa categoria.
A retomada do consumo por esse grupo, especialmente de serviços, em um ambiente de reajuste de preços, ajuda a explicar o maior uso dessa modalidade de pagamento por esses consumidores.
Já o indicador de inadimplência, que avalia famílias com contas já vencidas e não pagas, ainda está 3,7 pontos acima do número apurado antes da pandemia, em fevereiro de 2020.
O percentual de famílias com dívidas ou contas em atraso também alcançou o maior patamar em 12 anos, atingindo 27,8% do total de famílias.
Isso representa um aumento de 0,8 ponto percentual na comparação com o mês de fevereiro, e 3,4 pontos acima do apurado em março de 2021.
“A alta da inflação tem deteriorado os orçamentos domésticos, culminando no acirramento dos indicadores de inadimplência desde o início do ano”, avaliam os pesquisadores.
“Mesmo com os juros médios de mercado quase 7 pontos percentuais maiores do que há um ano, o endividamento encerrou o primeiro trimestre na maior proporção história e apontando tendência de alta.”