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    De Doge a bitcoin: entenda o Pump e Dump, que Musk foi acusado de fazer

    Pump e Dump, em linhas gerais, é a ação de um grupo ou individuo para manipular artificialmente o preço de alguma ação, ativo ou tese

    Sofia Kercherdo CNN Brasil Business*

    Dentro do mercado tradicional, o Pump e Dump (inflar e largar, do inglês) é um esquema de manipulação que existe há bastante tempo. Ilegal no Brasil, esse movimento está ganhando novas formas, especialmente no universo das criptomoedas.

    Inspirados no sucesso repentino de altcoins como a Shiba Inu e Dogecoin, indivíduos, grupos e até celebridades estão se aproveitando do mercado para mexer artificialmente nos preços de certos criptoativos — prejudicando muitos investidores iniciantes.

    O que é o Pump e Dump?

    Para quem nunca ouviu falar do termo, o Pump e Dump, em linhas gerais, é a ação de um grupo ou individuo para manipular artificialmente o preço de alguma ação, ativo ou tese.

    Depois de comprar uma quantidade bastante significativa do ativo, um fraudador começa a divulgar suposições sensacionalistas, exageradas ou simplesmente mentirosas sobre ele, incentivando as pessoas a investirem no projeto.

    Essa parte é chamada de “pump”, o ato de comprar e depois inflar o ativo com especulações de valorização, com a intenção de fazer um grande volume de investidores aplicarem ali seu dinheiro.

    Como aqueles que acompanham o autor do esquema começam a investir na tese, o ativo, de fato, obtém uma valorização.

    Depois de conseguir o lucro que desejava, entra o “dump”, quando o fraudador começa a desmontar toda a sua posição no ativo, vendendo seu estoque e, consequentemente, fazendo os preços despencarem.

    Qual o resultado desse movimento? Enquanto a pessoa responsável por cometer o crime consegue lucros de maneira totalmente artificial, aqueles que foram influenciados a comprar o ativo acabam tomando prejuízo.

    No mercado cripto, a coisa fica ainda mais complicada. Pela facilidade de criar criptomoedas, pessoas estão fabricando novos ativos, que são vendidos à base de promessas de retorno rápido, conquista do primeiro milhão e até atrelados a causas sociais.

    Influenciadores e personalidades da internet são pagos para divulgar esses projetos, e vendem a ideia para sua ampla base de seguidores, disparando o preço e dando credibilidade a teses pouco fundamentadas.

    Espaço para crescer

    Apesar de existir faz tempo, especialistas notaram um aumento significativo desse crime no mercado das criptomoedas.

    Lucas Freitas, sócio da One Investimentos, diz que esse mercado ainda não é regulamentado. “Não tem como você impor nenhuma sanção, nenhum processo administrativo, em cima das pessoas que acabam fazendo essa manipulação de mercado.” Ao contrário do mercado de ações, não existe nenhum órgão regulador ou regulação específica para o universo cripto.

    Vale destacar que o mercado também é bastante novo, e os investidores também. Um estudo realizado pela consultoria Grimpa no meio do ano, que ouviu 500 homens e mulheres com mais de 18 anos, mostrou que a maior parte das pessoas que investiam em criptomoedas tinham disposição arrojada para investir, e a maioria possuía entre 18 a 24 anos.

    Em outras palavras, menos regulação, mais volatilidade e investidores menos experientes podem ser algumas causas deste aumento.

    Saiba se prevenir

    Pode parecer simples, mas existe uma linha muito tênue entre manipulação de mercado e emitir uma mera opinião. Para saber diferenciar as duas coisas, os especialistas aconselham: é preciso estudar e conhecer os protocolos antes de aplicar dinheiro neles.

    Para Lucas, todo ganho ter que ser seguido de um fundamento. “Não tem jeito, a pessoa tem que conhecer o mercado, e não seguir aquilo que está sendo veiculado por alguém prometendo ganhos absurdos.”

    Ele cita o exemplo das memecoins, moedas que diz não ter fundamentação, mas que já trouxeram lucros exorbitantes. “Essas são moedas que não têm nenhum valor específico, mas podem vão subir muito porque várias pessoas estão comprando.”

    Vinícius Bazan, analista de criptomoedas da Empiricus, complementa. “É preciso buscar pontos de informação confiáveis e olhar para projetos que tenham um valor subjacente”.

    “O projeto precisa ter um valor por trás. Não precisa ser operacional, pois estamos falando de um mercado em que as pessoas querem comprar projetos antes mesmo de eles saírem às ruas. Mas olhar quem são os desenvolvedores, equipe, proposta e se existe um problema real a ser resolvido. Economicamente falando, ele precisa fazer sentido.”

    Elon Musk

    Desde 2018, Elon Musk, o CEO da maior montadora de carros elétricos do planeta, a Tesla, está sob investigação pela SEC, Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos. O motivo? Manipulação do mercado de ações americano por meio de publicações no twitter.

    De acordo com o órgão, as publicações podem ter sido feitas com segundas intenções, principalmente por contarem com uma série de informações capazes de enviesar a tomada de decisão de milhares de investidores.

    Mas, afinal, Elon Musk cometeu mesmo Pump e Dump?

    Para Bazan, é necessário levar em conta que estamos falando de um dos homens mais influentes do mundo, com milhões de seguidores. “Para tudo que uma celebridade falar, existirão pessoas que vão se espelhar. Se o Neymar falasse que ele está comprando bitcoin, por exemplo, muitos investidores também comprariam”, diz o analista.

    Para ele, o mercado sempre irá reagir quando Musk publica algo sobre criptomoedas, especialmente as criptomoedas menos conhecidas, de menor Market Cap. “Para mim, Musk não faria uma besteira dessas. Perceba que, nas publicações, ele é sempre bastante cauteloso, utiliza de mensagens sutis. Eu entendo que, nesse caso, exista uma zona cinzenta.”

    Freitas pensa da mesma forma. Para ele, por Musk ser um influenciador, ele pode estar promovendo um movimento de manada — ou pump — mas de maneira indireta. Isso pode gerar um movimento de dump, ou seja, uma queda abrupta de preços, depois que as pessoas já conseguiram o lucro que buscavam no ativo, mas isso não foi necessariamente promovido de maneira proposital pelo CEO da Tesla.

    No fim do dia, o que comprovaria o movimento, finaliza Vinícius, é Musk movimentar grandes quantidades dos criptoativos antes de ir à internet. Como não se tem acesso às exchanges e contas em corretora do excêntrico bilionário, segundo ele, é impossível concluir com certeza se o crime foi cometido ou não.

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