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    Com juro alto, mais brasileiros acham que acesso ao crédito está difícil, diz pesquisa

    Crédito tem se concentrado na modalidade do cartão de crédito, com prazos médios de sete meses, segundo dados da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor

    Danilo Moliternoda CNN , São Paulo

    Uma pesquisa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) mostra que 37% dos brasileiros acreditam que o acesso ao crédito está “mais difícil” e, segundo a confederação, a taxa básica de juros é um dos motivos para isso.

    Izis Ferreira, responsável pelo estudo e economista da entidade, diz que o patamar elevado da Selic (atualmente em 13,75%) torna o crédito menos acessível por dois fatores: a elevação do custo do crédito e a maior seletividade das empresas que operam esses recursos.

    “Quando o consumidor vai procurar crédito, ele se depara com um custo maior. Mas estamos vendo hoje não só o maior custo do recurso de terceiro, mas também uma maior seletividade com a alta da inadimplência”, aponta.

    Izis Ferreira indica ainda que, de acordo com os dados recolhidos pela CNC, o acesso ao crédito está mais difícil “principalmente para os consumidores de menor renda”.

    “As empresas que operam crédito estão mais seletivas porque a inadimplência está mais alta — principalmente entre os clientes de menor renda, que são os que estão mais inadimplentes. E é nessa faixa de renda que o problema pode ser mantido com os juros altos”, aponta.

    Para o economista-chefe do Banco Master e professor de economia da FGV-SP, Paulo Gala, com a taxa de juros mais alta, o comprometimento da renda das pessoas fica mais elevado.

    “As parcelas dos empréstimos subiram, seja para crédito imobiliário, para compra de um carro, seja o que for. Quando o comprometimento dessa renda aumenta, os bancos nem concedem o crédito, porque eles sabem que a probabilidade de você honrar [a dívida] diminui muito”, explica.

    Thais Zara, economista-sênior da LCA Consultores, concorda que o encarecimento do juro tende a afetar os mais pobres de maneira mais contundente.

    “Naturalmente, quando você tem uma alta da taxa, [as pessoas mais pobres] são aquelas que vão sofrer com a hipótese de a parcela não caber dentro da sua renda”, explica.

    Zara indica ainda que o alto patamar da Selic faz com que investimentos em títulos públicos, que rendem com base nessa taxa, se tornem mais atrativos e seguros aos bancos do que outras modalidades de empréstimo.

    “Os bancos têm a alternativa de, em vez de emprestar esse dinheiro para as pessoas, emprestar para o governo em taxas mais altas. Considerando os riscos do negócio de fazer empréstimos para as pessoas, é óbvio que você vai acabar elevando as taxas de juros também na ponta final”, comenta.

    O levantamento da CNC apontou que para 27,5% dos entrevistados o acesso ao crédito está mais fácil e 21,3% dizem que a situação está igual ao ano passado. Outros 14,2% não sabiam ou não responderam.

    Ainda de acordo com a pesquisa, o índice que analisa as compras a prazo caiu 0,8% em março, ficou em 90,5 e se manteve com avaliação negativa (a avaliação é considerada positiva a partir de 100). Além disso, três em cada quatro consumidores consideram que o momento não é favorável para aquisição de bens duráveis.

    A CNC aponta que o crédito mais caro e seleto tem levado mais consumidores — principalmente os de menor renda — a repensar compras de longo prazo. O crédito tem se concentrado na modalidade do cartão de crédito, com prazos médios de sete meses, segundo dados da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic).

    Intenção de consumo cresce, mas perde fôlego

    O indicador Intenção de Consumo das Famílias (ICF), medido pela CNC, avançou 0,8% em março, descontados os efeitos sazonais. O indicador chegou a 96,7 pontos, maior nível desde março de 2020, superando o registrado no mês passado.

    Apesar da tendência de alta, o índice apresenta sinais de desaceleração: o avanço foi o menos expressivo em um ano, e a intenção de consumo segue abaixo da zona de avaliação positiva (100 pontos) desde 2015.

    Izis Ferreira destaca que “o acesso ao crédito é um dos principais indicadores que vem desacelerando a intenção de consumo das famílias de forma geral”.

    Responsável pelo estudo, ela destaca ainda que a alta do indicador vem sendo preservada, em grande parte, por famílias de maior renda. “Para as de maior renda, o otimismo avançou de forma mais expressiva neste mês de março. O consumidor de alta renda que fez com que o indicador crescesse mais”.

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