Com desaceleração econômica, Fitch rebaixou mais empresas em 2023 do que ao longo de 2021 e 2022
Movimento, segundo especialistas consultados pela CNN, é sintomático também de um mercado de crédito retraído
A Fitch Ratings, agência de classificação de risco, rebaixou notas de empresas brasileiras mais vezes neste primeiro trimestre do que ao longo dos dois últimos anos.
De acordo com a agência, 9 emissores foram rebaixados em 2021, 9 em 2022 e 11 nos três primeiros meses de 2023.
O movimento, segundo especialistas consultados pela CNN, é sintomático de uma economia em desaceleração e de um mercado de crédito retraído — fruto, ao mesmo tempo, do elevado patamar da taxa Selic, em 13,75% ao ano desde agosto de 2022, e do Caso Americanas, que trouxe mais cautela por parte de bancos credores.
“2021 e 2022 foram anos de recuperação econômica após a fase mais crítica da pandemia, então era natural que o número de upgrades (elevação de notas, em inglês) fosse maior que o de downgrades (rebaixamentos)”, afirma Rafael Schiozer, professor de Finanças da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV EAESP).
“Este ano, porém, é de menor potencial econômico, inclusive de pouco crescimento do PIB e baixo estímulo com os juros altos como estão. Tudo isso afeta a classificação de risco das empresas, principalmente as que ‘aproveitaram’ para se endividar mais quando os juros estavam baixos. Com a Selic no patamar que está, a qualidade creditícia dessas empresas piora.”
O especialista destaca, também, que o caso Americanas pode ter desencadeado uma maior restrição de crédito a empresas — que podem, inclusive, não ter relação com o setor varejista.
“O caso Americanas pode ter respingado também nas cadeias do varejo, principalmente fornecedores menores que têm a Americanas como principal parceira. Acaba tendo uma restrição de crédito maior por esse ‘apetite por risco’ diminuído por parte dos credores, e, somado à desaceleração que já vinha acontecendo e à instabilidade no mercado exterior, ainda mais agora com a crise bancária cuja dimensão ainda não conseguimos mensurar, o resultado é uma fragilidade maior nos negócios.”
Camilla Dolle, head de renda fixa da XP Investimentos, reafirma a leitura de que o cenário econômico atual proporciona uma maior restrição de crédito para as empresas, principalmente, para as de menor porte.
“De maneira geral, isso tem relação com o nosso cenário de juros mais altos e a restrição maior ao crédito para determinadas empresas, principalmente, empresas menores. Empresas grandes devem continuar mais ilesas a esse movimento do que empresas micro, médias e pequenas”, disse.
Na avaliação da especialista, nos anos anteriores era observada uma tendência oposta ao que está ocorrendo atualmente, ou seja, mais emissores sendo elevados do que sendo rebaixados.
Para Dolle, fica claro que essa tendência atual é também um reflexo do cenário macroeconômico de desaceleração.
Na última quarta-feira (22), o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu por manter a taxa básica de juros – a Selic – em 13,75% ao ano. Foi a quinta decisão seguida pela manutenção da taxa. Assim, o patamar de juros continua no maior nível desde dezembro de 2016.
O comunicado mais duro do que o esperado do BC reforçou a visão de grandes bancos e outras instituições financeiras de que reduções na taxa Selic ficarão para o segundo semestre do ano, possivelmente só no final desse período, mesmo diante da pressão do governo por cortes de juros.