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    Bitcoin sobe no 1º semestre, assim como outras criptomoedas – vale investir?

    Depois de serem vistas como minas de ouro, criptomoedas lutam para recuperar imagem de moedas do futuro

    André Jankavski, do CNN Brasil Business, em São Paulo

    As palavras criptomoeda e bitcoin tiveram alguns sinônimos distintos nos últimos anos. No início, a palavra revolução era a que tinha mais força, dada a importância que o blockchain, que é o protocolo de segurança por trás das criptomoedas, poderia ter na sociedade. Na visão mais futurista e otimista, as criptomoedas poderiam substituir todas as moedas correntes atualmente.  

    Com a forte valorização posterior, especialmente nos anos de 2017 e 2018, muitos passaram a ver o bitcoin como uma mina de ouro. Milhões de pessoas foram atrás de valorizações gigantescas em pouco tempo. Não por acaso, as criptomoedas passaram a ser vistas também como pirâmide financeira, ou seja, associadas a ativos que prometem ganhos fáceis que em geral não se concretizam.

    Vários fatores ajudaram a construir essa imagem. Começaram a ser lançadas criptomoedas de todos os tipos e sem uma explicação para que elas serviriam. 

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    Um dos casos mais notórios foi a moeda do ex-jogador Ronaldinho Gaúcho, que prometia rendimentos de 2% ao dia. O motivo da existência dessa criptomoeda? Ninguém sabia explicar. Agora, ele e os responsáveis pela 18k Ronaldinho estão sendo processados acusados de terem criado uma pirâmide.

    Mas, depois da euforia daqueles que queriam ser milionários sem muito esforço, o mercado está se assentando. No fim das contas, ainda não houve uma revolução – porém, ela está em curso na visão de especialistas.

    E se o valor ainda está distante dos picos do fim de 2017, quando chegou a bater o preço de US$ 20 mil, o bitcoin já aparece novamente como um ativo de forte valorização. Mais: com menos volatilidade do que em outros tempos, porém ainda grande se comparada a outros tipos de investimento mais tradicionais.

    “A pandemia foi boa para o bitcoin, pois fez com que as pessoas procurassem por outros tipos de ativos além dos tradicionais”, diz Lucas Schoch, CEO e fundador da Bitfy, que criou uma carteira digital para bitcoins. “As pessoas estão vendo esse mercado mais no longo prazo e enxergam o bitcoin, por exemplo, tanto quanto o ouro.”

    No primeiro semestre de 2020, por exemplo, o Bitcoin, que representa cerca de 75% do mercado de criptomoedas (no Brasil, chega a ser 90%), chegou a ter valorização de quase 30%. Em abril, assim como diversos ativos de renda variável, sofreu com o início da pandemia. A Ethereum também subiu no período, ao contrário da Ripple. 

    “O brasileiro está mais consciente agora e entendeu a criptomoeda como um ativo que faz sentido no portfólio – e não para especulação”, diz João Canhada, CEO da corretora Foxbit, especializada em compra e vendas de criptomoedas. 

    A queda brutal vista em 2018 mudou o perfil dos investidores e afastou os especuladores. Pelo menos, foi isso o que aconteceu na corretora Foxbit. Hoje, por exemplo, há no máximo 700 cadastros de novos investidores ao dia na startup. Em 2017, o pico chegou a ser de 6 mil cadastros por dia. Isso quer dizer que a empresa está pior do que antes? Não necessariamente. 

    É verdade que a startup teve queda de faturamento de quase 30% em 2019, para R$ 10 milhões. Mas Canhada acredita que é possível chegar a R$ 20 milhões em 2020 com essa maior maturidade dos investidores. Afinal, eles estão transacionando mais e enxergando o bitcoin com uma visão de longo prazo – e não vão tirar o dinheiro da corretora no primeiro solavanco do mercado. 

    Regulação

    Um dos motivos é o avanço da regulação das criptomoedas e do blockchain, que é a tecnologia “mãe” do bitcoin e de outras moedas, nos bancos centrais de todo o mundo. 

    No Brasil, por exemplo, o Banco Central passou a registrar a mineração de criptomoedas no balanço externo – documento que indica entrada e saída de dólares do Brasil – em agosto do ano passado. Foi a primeira regulação para criptomoedas no país, mas essas regras ainda têm muito o que evoluir em relação ao exterior.

    Para especialistas, as criptomoedas, especialmente o bitcoin, vão ter menos volatilidade quando assumirem, de fato, o papel de moedas. Esse é o grande sonho de todos as pessoas desse mercado: a popularização do bitcoin e do ethereum, entre outras, como uma unidade para troca e venda de produtos.

    A premissa é bem simples: imagine que você esteja viajando para os Estados Unidos. Você iria preferir trocar os seus reais por dólares e ficar refém do sobe e desce das cotações ou ter uma carteira de bitcoins exatamente para esse fim? Ou até mesmo para fazer compras no exterior pela internet sem a necessidade de um cartão de crédito (e seu câmbio pouco favorável para o cliente). 

    “As pessoas precisam entender que a criptomoeda não é um investimento, mas a compra de uma moeda”, diz Ricardo Teixeira, professor dos cursos de MBA da Fundação Getulio Vargas. “Eu enxergo as criptomoedas substituindo o papel moeda no futuro.” A questão, no entanto, é saber quando essa moeda poderá ser usada de maneira mais frequente. 

    No exterior já é uma prática mais comum, mas pouquíssimas grandes empresas no Brasil aceitam o bitcoin atualmente. Dois exemplos mais notórios são a varejista de roupas Reserva e a construtora Tecnisa. No entanto, a participação delas nos meios de pagamento ainda é instável – e a varejista até encerrou a opção deste tipo de pagamento. 

    No caso da Tecnisa, a empresa começou a vender imóveis por bitcoin em 2015. Até 2017, no entanto, nenhuma unidade havia sido vendida em troca de criptomoedas. Isso mudou em 2018 e 2019 – quase R$ 40 milhões em imóveis foram vendidos tendo o bitcoin como moeda. Em 2020, no entanto, não houve mais vendas.

    O vice-presidente de marketing e transformação digital da Tecnisa, Romeo Busarello, prefere não fazer estimativas para o futuro. Explica-se: o aumento de vendas ocorrido em 2018, principalmente, ocorreu pela forte valorização do bitcoin. Como as pessoas precisavam realizar lucros e os imóveis apareciam como grandes oportunidades, as vendas na Tecnisa deram esse salto.

    “Tivemos alguns escândalos envolvendo bitcoins, que não ajudaram na imagem da criptomoeda”, diz Busarello. “Para as vendas voltarem, dependerá muito da cotação.” Se a valorização seguir o ritmo do primeiro semestre, pode ser que o futuro das criptomoedas seja positivo mais rápido do que se imagina. 

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