Banco Central cumpre expectativa e corta juros em 0,5 ponto, para 12,75% ao ano
Movimento intensifica ciclo de queda da Selic; investidores enxergam espaço para taxa básica cair a 11,75% ao fim de 2023
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil (BC) decidiu, nesta quarta-feira (20), fazer um novo corte de 0,50 ponto percentual (p.p) na taxa básica de juros. O movimento passa a Selic de 13,25% para 12,75% ao ano, o mesmo patamar de maio de 2022, quando os juros estavam em ritmo de alta.
O grau do corte veio em linha ao esperado pelo mercado, que já previa a manutenção da estratégia de alívio da política monetária iniciada no último encontro do Copom, em agosto.
À época, o colegiado também reduziu os juros em 0,50 p.p, o primeiro movimento para baixo na taxa básica em três anos.
A decisão foi unânime entre todos os nove membros do colegiado.
Em nota, o BC afirmou que o cenário atual demanda “serenidade e moderação” na condução da política monetária.
“O Comitê reforça a necessidade de perseverar com uma política monetária contracionista até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas”, informou.
O colegiado do BC ainda disse que, caso o cenário previsto se mantenha, a Selic deve sofrer novo corte de 0,50 p.p no próximo encontro, levando a taxa básica para 12,25% ao ano, e que este ritmo é “apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”.
“O Comitê ressalta ainda que a magnitude total do ciclo de flexibilização ao longo do tempo dependerá da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular as de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos”, disse em nota.
A autoridade monetária ainda citou pressões que mantêm o cenário incerto. No ambiente externo, a preocupação vem com a continuidade do processo de desinflação, “a despeito de núcleos de inflação ainda elevados e resiliência nos mercados de trabalho de diversos países”.
“O Comitê notou a elevação das taxas de juros de longo prazo dos Estados Unidos e a perspectiva de menor crescimento na China, ambos exigindo maior atenção por parte de países emergentes”, citou.
Já no cenário doméstico, o Copom pontuou que houve mair resiliência da atividade econômica do que o esperado, mas que segue antecipando um quadro de perda de fôlego nos próximos trimestres.
“Como antecipado, ocorreu uma elevação da inflação cheia ao consumidor acumulada em doze meses no período recente. As medidas mais recentes de inflação subjacente apresentaram queda, mas ainda se situam acima da meta para a inflação”, afirmou em nota.
Novos cortes à vista
O Copom ainda possui duas reuniões neste ano: entre 31 de outubro e 1º de novembro, e 12 e 13 de dezembro. Os agentes do mercado apostam na manutenção do ciclo de baixa com a redução de 0,50 p.p em cada encontro.
Segundo dados do boletim Focus, pesquisa do BC que reúne a mediana de mais de uma centena de agentes do mercado e instituições para os principais indicadores econômicos, divulgados nesta segunda-feira (18), a Selic deve chegar em 12,25% em novembro e em 11,75% ao fim de 2023.
O ritmo de queda deve ser mantida ao longo do ano que vem. Segundo o levantamento do BC, as estimativas apontam para a Selic em 9% ao ano no encerramento de 2024.
Lula mantém críticas
O ciclo de baixa mantido pelo BC nesta semana ocorre após intensas críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), além de outros membros do governo e representantes de atividades econômicas, sobre a estratégia de política monetária adotada pela autarquia nos últimos meses.
Antes de baixar os juros na reunião de agosto, a autoridade presidida por Roberto Campos Neto havia segurado a Selic em 13,75% — o maior patamar desde novembro de 2016 — por cerca de um ano.
Mesmo após deflagrar a estratégia de corte, Lula manteve o tom crítico ao presidente do BC. No início deste mês, o petista voltou a defender a queda dos juros e afirmou que Campos Neto “não conversa” com ele.
Lula também disse que era importante todos saberem que “o presidente do Banco Central não foi indicado por nós, foi indicado pelo governo anterior”.
“Esse cidadão, se ele conversa com alguém, não é comigo. Ele deve conversar com quem o indicou, e quem o indicou não fez coisas boas nesse país. A sociedade brasileira vai descobrir com o tempo”, disse.
Lula ainda afirmou que iria continuar “brigando” pela queda dos juros e pontuou os efeitos que as taxas elevadas infligem nas atividades.
“Não pensem que eu acho que o juro tá baixo. O juro ainda tá alto”, afirmou. “E precisa abaixar os juros. Não é possível. Como que o empresário vai investir? Como que vai fazer uma fábrica? Como vai fazer um investimento qualquer, se ele vai pegar a taxa de juros muito alta? Então nós vamos continuar brigando”.
Campos Neto fala em “pouso suave” da inflação
Também no começo de setembro, Campos Neto pontuou que o Brasil está fazendo um “pouso suave” no combate à inflação, sem trazer grandes consequências para o crescimento econômico ou ao mercado de trabalho.
“O Brasil tem conseguido realizar um pouso suave, diminuindo a inflação com impacto atenuado sobre o PIB, desemprego e crédito”, disse.
Os últimos dados do Índice de Preços ao Consumidor (IPCA) mostram que a inflação foi de 0,23% em agosto — abaixo do esperado pelos analistas —, com acúmulo de 4,61% nos últimos 12 meses.
O BC persegue neste ano a meta de inflação de 3,25% — com limites entre 1,75% e 4,75%, ou seja, o acumulado até agosto mantém o IPCA abaixo do teto.
O mercado, porém, vê que o índice fechará 2023 acima do limite máximo, em 4,86%, segundo dados do Focus desta semana.
Já para o ano que vem, os analistas consultados pelo BC acreditam no retorno da inflação à banda estabelecida, com IPCA encerrando a 3,86%. Em 2024, o BC segue a meta de 3%, podendo entregar um resultado entre 1,50% e 4,50%.
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