Ata consolida ritmo de corte e abre discussão sobre piso da Selic, dizem economistas
Mercado precifica que taxa básica de juros terminará 2023 em 11,75% ao ano e prevê patamar "terminal" próximo dos 9%
A ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), divulgada nesta terça-feira (8), consolida o entendimento de que a Selic receberá novos cortes 0,5 ponto nos próximos encontros do grupo e abre a discussão sobre qual seria o piso ideal para a taxa básica de juros, avaliam os economistas consultados pela CNN.
“A ata afasta expectativas de aceleração dos cortes nas próximas reuniões, como já está precificado na curva de juros“, aponta a economista-chefe do Inter, Rafaela Vitória.
Para Gabriel Barros, economista-chefe da Ryo Asset, o documento indica que é pouco provável que haja uma aceleração do ritmo do afrouxamento monetária, o que só ocorreria em algum destes cenários: “alteração significativa na reancoragem das expectativas de inflação; abertura de hiato no Produto Interno Bruto (PIB) ou dinâmica mais benigna da inflação de serviços”.
Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), concorda e reitera que o ritmo de corte está consolidado. Ele destaca, ainda, o fato de não haver no documento menção ao fim do ciclo.
“Vamos entrar em 2024 debatendo quando chega ao fim este ciclo. Há atores que pensam em um piso acima de 10%. Acredito que a Selic caminha até cerca de 9%. Deve ser o grande debate do começo do ano que vem”, aponta Gala.
Rafaela Vitória indica que “o cenário externo também é de cautela” e pode trazer impacto ao piso da Selic, calculado em cerca de 9%.
De acordo com o Boletim Focus desta semana, o mercado já precifica cortes de 0,5 ponto nas três reuniões do Copom deste ano, o que levaria a taxa básica de juros a 11,75% no fim de 2023.
Corte robusto mantém política contracionista
Em sua leitura da ata, Gabriel Barros indica que o ritmo de corte dado, de 0,5 ponto, “é o adequado para manter a política monetária em território contracionista”.
Também para Rafaela Vitória, o corte foi considerado parcimonioso e permite a manutenção de uma política contracionista, “garantindo a convergência da inflação para a meta até 2025”.
“De fato, com a Selic no atual patamar, nesse ritmo de cortes teríamos 10 reuniões até chegar a uma taxa próxima de 9%, no segundo semestre de 2024, quando o ritmo poderia ser então reduzido, ou mesmo pausado”, explica a economista.
Ela destaca, ainda, que o Copom voltou a mencionar a importância do ajuste fiscal e a possibilidade de “políticas parafiscais”, como crédito direcionado.
Por outro lado, Gala indica que o Copom, apesar de mencionar a política fiscal, não condicionou os cortes na Selic a este fator, como fez em atas e comunicados anteriores.
“Todo aquele temor fiscal que aparecia nas atas passadas não estão nesta ata. Importante lembrar de momentos em que o Copom quase que condicionava o corte ao avanço da política fiscal”, indica.
Corte robusto, ata robusta
De acordo com levantamento da LCA Consultores, uma ata do Copom não continha tantas palavras desde a gestão de Alexandre Tombini, encerrada em 2016.
Nenhum dos documentos divulgados nas gestões de Ilan Goldfajn, que sucedeu Tombini, ou Roberto Campos Neto, atual presidente da autoridade monetária, teve tamanha robustez.
A ata de hoje contém 3.101 palavras, enquanto as demais atas do atual mandato têm uma média de 1.811 palavras. A gestão de Goldfajn teve média semelhante, 1.851, mas a de Tombini foi bem maior: atas com uma média de 4.188 palavras;
“Por ser a reunião com divisão mais apertada da história, o Copom teve que gastar mais tempo e vocabulário para explicar sua visão”, aponta Bruno Imaizumi, economista da LCA Consultores.
O corte de 0,5 ponto foi definido em meio a divergências: cinco membros do colegiado optaram pelo corte robusto, enquanto outros quatro pediam uma baixa “parcimoniosa”, de 0,25 ponto.