Arábia Saudita mira no mercado de carros elétricos com planos de produzir 150 mil unidades por ano
Lucid Motor, fabricante americana de veículos movidos 100% a eletricidade, acaba de inaugurar no país em uma planta de mais de 1,35 milhão de metros quadrados
A Arábia Saudita, conhecida como a gigante do petróleo, vem reforçando seus planos para fabricar carros elétricos e ganhar destaque nesse mercado.
Em setembro deste ano, a fabricante de veículos elétricos de luxo, a Lucid Motors, com sede na Califórnia, nos Estados Unidos, abriu sua a primeira fábrica de automóveis na Arábia Saudita, enquanto o país busca se estabelecer como um player global na corrida de veículos elétricos.
A fabricante, que pertence parcialmente ao Fundo de Investimento Público árabe — o Fundo Soberano — se instalou na Cidade Econômica King Abdullah (KAEC na sigla em inglês), com sede em Jeddah (ou Gidá ou Jedá), a segunda maior cidade do país.
Em maio de 2022, a Lucid Motors assinou contrato para iniciar a construção de sua fábrica em KAEC com capacidade de produção de 155 mil veículos.
Em entrevista à CNN, o diplomata e representante do Ministério de Investimentos da Arábia Saudita, Abdulrahman T. Bakir, destacou que a unidade fabril estende-se por uma área de mais de 1,35 milhão de metros quadrados, ocupando cerca de 31% da área total atribuída à indústria automóvel de KAEC.
A empresa de carros elétricos informou que cerca de 95% da produção será exportada, o que abrirá novas oportunidades de investimento e apoiará as cadeias de abastecimento e a balança de pagamentos da Arábia Saudita.
A Arábia Saudita, a Turquia e o Egito, países geralmente associados à produção de petróleo, estão com planos ambiciosos para se tornarem grandes produtores de veículos movidos à eletricidade.
Leonardo Paz, pesquisador do Núcleo de Prospecção e Inteligência Internacional da FGV (FGV NPII), ressalta que, atualmente, a maioria dos países pretende fazer parte do contexto de descarbonização.
“Não resta dúvida que a Arábia Saudita, como um dos principais produtores de petróleo do mundo, deve também se preocupar, porque, apesar do abundante volume de reservas da commodity, se olhar no longo prazo, tende, em algum momento, ver a redução deste volume”, avalia.
Para ele, enquanto a estratégia geopolítica dos países caminha nessa direção, “nada mais justo” se voltar para itens que efetivamente desfrutem de uma tecnologia muito forte e fazer frente ao grande poder aquisitivo que a Arábia Saudita possui.
Início das operações
A Lucid inaugurou oficialmente a fábrica na Arábia Saudita no dia 27 de setembro. A unidade — a primeira internacional da empresa — se concentrará inicialmente na remontagem de kits de veículos enviados dos Estados Unidos.
“Com o apoio do governo saudita, temos orgulho de impulsionar o desenvolvimento local na indústria de tecnologia”, disse o CEO da Lucid, Peter Rawlinson, em comunicado.
“Estamos ansiosos para entregar carros montados na Arábia Saudita para clientes no país e em outros lugares”, completou.
O governo saudita também tem um acordo com a Lucid para comprar até 100 mil veículos da empresa durante um período de 10 anos.
A nova fábrica entregará inicialmente veículos Lucid que já foram montados na primeira fábrica da empresa nos Estados Unidos, depois desmontados para envio e remontados na fábrica na Arábia Saudita.
Embora a fábrica tenha inicialmente uma capacidade de produção anual de 5.000 veículos, a empresa afirma que pretende iniciar a produção do zero na fábrica saudita “após meados da década”, com uma capacidade anual adicional de 150.000 veículos.
A Arábia Saudita planeja que, até 2030, 30% dos automóveis novos vendidos no reino sejam elétricos.
Fundo soberano
“O principal papel do Fundo Soberano é diversificar a economia e torná-la menos dependente de um só produto, que é o petróleo. Entre os setores que estão se beneficiando com esse fundo podemos destacar a parte de indústria e manufaturas. A intenção, atualmente, é trazer indústrias farmacêuticas”, disse o embaixador do Brasil na Arábia Saudita, Sérgio Eugênio de Risios Bath à CNN.
Outros setores, empresas de bens de capitais, máquinas, material elétrico, também estão no alvo dos investimentos sauditas.
Bath detalhou as ações do governo saudita para atingir a meta ambiciosa de US$ 1,07 trilhão até 2025 e mais de US$ 2 bilhões até 2030 para o Fundo Soberano.
Em 2022, o Fundo criou uma marca de veículos elétricos apoiada pelo governo, chamada Ceer, que, em agosto, anunciou um acordo com a Siemens para projetar e construir carros elétricos.
Paz, da FGV, explica que quem iniciou essa política foi a China. O pesquisador destaca que a estratégia dos chineses era atrair, sob a forma de associações, as empresas de fora para entrarem no mercado chinês de automóveis até que chegasse o momento em que eles conseguissem incentivar e fomentar grupos que se aventurassem nessa direção.
“Quem exigiu que a Arábia Saudita seguisse o mesmo caminho foi o Fundo Soberano, que investe fora do país de origem. De uma forma geral, há um interesse de que outras nações participem de determinados investimentos e que fomentem o desenvolvimento do negócio na economia árabe”, afirma Leonardo Paz.
Porém, o pesquisador não acredita que exista uma intenção da Arábia Saudita em dominar esse mercado.
“Hoje, vejo o domínio maior quando se tem uma população gigantesca, e a China e a Índia vêm com vantagens multi-competitivas nesse processo. No entanto, o interesse maior da Arábia Saudita é de, eventualmente, disponibilizar dentro do seu território, algo que desfrute de uma visibilidade muito grande”, conclui Paz.