“Taxa de juros hoje é incompatível com a expectativa de crescimento da indústria”, diz presidente da Anfavea
Entidade representativa do setor industrial automotivo aponta possibilidade de continuidade de retração do setor se patamar de juros for mantido
O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) criticou a atual taxa de juros da economia brasileira, mantida em 13,75% na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).
Para a entidade representativa do setor industrial automotivo, que faz parte Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social Sustentável, o Conselhão, a Selic é incompatível com a perspectiva de crescimento da indústria no país.
“Sabemos que não é uma conta fácil. Agora, com esse juro elevado, o mercado continuará em um processo de retração, o mercado não cresce. Tivemos paradas das fábricas, adequação de demanda. Continuaremos anunciando paradas de fábricas ou as notícias serão ainda piores se essa taxa de juros permanecer elevada? A taxa de juros hoje é incompatível com a expectativa de crescimento da indústria”, disse Márcio de Lima Leite em coletiva para divulgações da produção e emplacamentos do setor em abril.
Na última reunião do Copom, realizada na semana passada, o Banco Central manteve a Selic em 13,75%, trajetória de juros que começou em meados de 2022. O presidente do BC, Roberto Campos Neto, vem defendendo que a decisão do Copom é técnica, e que não fosse a elevação da taxa de juros, a inflação estaria em patamar mais elevado.
A Anfavea ressalta que a atual taxa de juros inviabiliza a contratação de financiamentos automotivos junto aos bancos. Em abril, a porcentagem das vendas financiadas foi de 33% e as à vista 67%, o que demonstra a dificuldade em obtenção de crédito por parte dos consumidores de menor poder aquisitivo.
Leite ainda ressaltou que se o mercado não reagir, a geração de empregos e os investimentos no setor serão prejudicados. No mesmo sentido, uma das bandeiras do governo federal é a reindustrialização.
Queda de quase 20% na produção de veículos
A Anfavea divulgou nesta segunda o balanço da produção e dos licenciamentos de automóveis no mês de abril no país. Foram produzidos 178,9 mil veículos ante 221,8 mil no mês de março, redução de 19,4%.
Na comparação com o mês de 2022, a redução é 3,9%, quando foram montados 186 mil autoveículos pelas fábricas instaladas no Brasil. O total inclui automóveis de passeio, comerciais leves, caminhões e ônibus.
Já em relação aos licenciamentos de veículos novos nacionais e importados, a queda é mais expressiva, em 19,2%. No mês passado, 160,7 mil automóveis foram emplacados. Em março, foram 198.974 unidades. Apesar da redução entre os dois últimos meses, a comparação entre abril de 2023 e 2022 é positiva, com aumento de 9,2% no total de automóveis licenciados.
O resultado negativo de abril tem reflexo das paradas coletivas realizadas pelas montadoras. Diversas fábricas anunciaram férias a todos os funcionários e paralisação da produção de veículos em suas plantas no Brasil.
Entre os motivos, as empresas citaram a falta de equipamentos e o cenário econômico brasileiro, com a alta dos juros e da inflação, o que levou à queda nas vendas de veículos.
Além disso, o mês de abril concentrou 9 das 13 paradas, além dos feriados do mês. Segundo o presidente da entidade, o resultado reflete ainda um ajuste de mercado “à real demanda” atual.