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    Expansão da tarifa social de energia dobrará despesa para custeio do benefício

    Medida beneficiará mais 12,4 milhões de famílias, mas programa é custeado por encargo na conta do consumidor regulado

    Roraima teve queda no fornecimento de energia
    Roraima teve queda no fornecimento de energia Daniel Reche no Pexels

    Stéfano Sallesda CNN

    Rio de Janeiro

    Regulamentada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a expansão da tarifa social para todos os consumidores inscritos no Cadastro Único (CadÚnico) e no Benefício de Prestação Continuada (BPC) fará com que o benefício alcance 23,7 milhões de famílias a partir de janeiro de 2022.

    O número quase dobra o total de domicílios que usufruíam do benefício até então: 11,3 milhões, ou 91% de crescimento. A medida fará com que a despesa prevista para atender essa camada aumente em proporção semelhante: passará de R$ 3,6 bilhões para R$ 7 bilhões (94,4%), o que tem preocupado especialistas pelo potencial de aumento tarifário.

    Esse valor sai da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), um encargo cobrado nas contas de energia dos clientes do mercado regulado. A tarifa social oferece descontos entre 10% e 60% na conta, de acordo com a faixa de consumo. No entanto, os clientes precisavam até então procurar as concessionárias para efetuar o cadastro. As empresas também procuravam, por busca ativa, clientes que teriam direito ao benefício.

    Assim, a medida atualmente beneficia apenas cerca de 52% da população que teria direito à tarifa social. A partir de janeiro, a aplicação será automática. O número apontado pela Aneel é um potencial, porque é necessário associar o cadastro da família nos programas governamentais com o cadastro da unidade consumidora, mantido pelas empresas distribuidoras de energia elétrica.

    Na terça-feira (30), durante a 45ª Reunião Pública Ordinária da Aneel, Sandoval Feitosa, diretor da agência, defendeu que a medida enfrenta um problema que pode ser classificado como “pobreza energética”. Superintendente de Regulação dos Serviços de Distribuição da Agência, Hugo Lamin explicou de onde sairão os recursos para custear a medida.

    “A tarifa (social) é custeada por um encargo. Então, na Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) existe tudo regulamentado justamente para bancar essa subvenção. Hoje temos 12,3 milhões de famílias contemplada e outras 11,3 milhões que atendem aos critérios legais, mas que ainda não recebem o benefício. Esse aprimoramento na regulamentação é justamente para atender a essas famílias”, explica.

    Especialistas entendem que a medida é importante e aliviará a situação de uma parcela da população em vulnerabilidade social, em um momento de alta na tarifa, por conta da crise hídrica e do acionamento das usinas termelétricas, que produzem energia mais cara. No entanto, eles entendem que ela não deveria ser custeada pelo consumidor, como explica o ex-diretor do Observatório Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e consultor do Instituto Clima e Sociedade (ICS), Luiz Eduardo Barata:

    “No aspecto social é uma boa medida, mas o custo não deveria ser pago pelo consumidor. O correto seria que viesse de uma nova fonte, saindo do Tesouro Nacional. Agora o sistema será automatizado, o que é importantíssimo. Mas o governo faz agora uma bondade com o chapéu alheio, porque não revisa seus gastos para custear isso e reduzir despesas menos meritórias para garantir recursos para a medida. Tudo isso será custeado pelo consumidor, que já está sufocado por conta da tarifa de escassez hídrica e com os aumentos tarifários previstos para 2022”, afirma.

    Professora da Escola de Química da UFRJ e diretora do instituto Ilumina, Clarice Ferraz destaca que a medida ocorre em um momento no qual o país pratica um nível de tarifas muito elevado. De acordo com a especialista, o adequado seria, além de desonerar o consumidor regulado, encontrar uma alternativa que reduza o custo da energia desse público que passará a ser beneficiado pela expansão da tarifa social a partir de 2022.

    “As tarifas estão distorcidas por conta dos leilões de emergência, pelo excessivo despacho termelétrico e pelas importações de energia em nível máximo. Agora, o custeio é complexo, porque a CDE é um encargo, e a tarifa tem que ser elevada o suficiente para garantir os recursos necessários para ele”, diz a pesquisadora.

    “O que acontece em situações de grande desequilíbrio é que os governos fazem aportes do tesouro para diminuir o impacto da conta. Essas razões nos fazem esperar um aumento muito forte em 2022. Seria hora de encontrar mecanismos estruturais de redução da tarifa e do consumo de famílias subvencionadas. Como poderia ser feito? Com painéis solares, em um programa audacioso de geração distribuída”, diz.

    A adoção da bandeira de escassez hídrica, no fim de agosto, taxou os consumidores em R$ 14,20 e cada 100 kWh (quilowatts hora) consumidos. Até então, vigorava a tarifa vermelha patamar dois, quando se cobrava R$ 9,49 pelo esmo padrão de consumo. Apesar do reajuste de 66%, esse patamar não foi suficiente para custear todas as despesas de geração.

    A área técnica da Aneel já projeta um reajuste tarifários da ordem de 21% para 2022. O governo estuda ainda um empréstimo de até R$15 bilhões para as distribuidoras, para reduzir o déficit do valor não coberto pelas bandeiras tarifárias e evitar reajustes elevados como os previstos pela agência reguladora.