Prime Time

seg - sex

Apresentação

Ao vivo

A seguir

    Ex-funcionária da Itaipu perseguida na ditadura é reintegrada 46 anos após demissão

    Sonia Lúcia Castanheira foi desligada em fevereiro de 1977 “sob suspeita de atividades subversivas”; reparação também inclui indenização a ser dada pela empresa

    Atualmente com 78 anos, Sonia relata que foi desligada da empresa sem saber o motivo
    Atualmente com 78 anos, Sonia relata que foi desligada da empresa sem saber o motivo Divulgação/ Itaipu Binacional

    Luiza Palermoda CNN*

    São Paulo

    Depois de ser demitida durante o período da ditadura militar, a ex-funcionária da usina de Itaipu Sonia Lúcia Castanheira foi reintegrada ao quadro de trabalhadores da hidrelétrica nesta segunda-feira (10), como secretária bilíngue e tradutora.

    A reparação chega quase cinco décadas após a demissão da profissional, desligada em fevereiro de 1977, “sob suspeita de atividades subversivas”, pelo então diretor-geral brasileiro da usina, general Costa Cavalcanti.

    Atualmente com 78 anos, Sonia relata que foi desligada da empresa sem saber o motivo. Na época, a tradutora chegou a questionar diretamente o diretor-geral, mas recebeu como resposta que eram “ordens superiores”.

    “Eu não era a favor da ditadura, mas nunca participei de nenhuma atividade contrária ao governo”, afirma.

    Foi somente em 2009, com a abertura dos arquivos da ditadura militar pela Lei da Anistia, que Sonia descobriu que a causa da demissão era política.

    “Fui em busca de uma explicação e achei uma carta sobre meu desligamento. Meu marido trabalhava na Unicon [prestadora de serviços da Itaipu] e foi demitido antes de mim, em 1976”, relembra.

    “Uma mulher nos acusou de estarmos envolvidos em atividades contrárias à repressão. Nós nunca fizemos nada”.

    Em 2012, Sonia teve acesso ao documento completo e entrou com uma ação trabalhista na 1ª Vara do Trabalho de Foz do Iguaçu, buscando o reconhecimento de seu vínculo empregatício.

    A sentença favorável a ela foi concedida em 2017 pela juíza do Trabalho, Erica Yumi Okimura.

    dsd
    Divulgação/ Itaipu Binacional

    Acompanhada dos seus filhos e advogados, Sonia foi recebida nesta segunda-feira (10) de volta à Itaipu pelo atual diretor-geral brasileiro, Enio Verri, e pelo diretor jurídico, Luiz Fernando Delazar.

    Apesar da saúde debilitada devido a um tratamento contra o câncer, ela passou por um exame admissional e recebeu seu crachá funcional.

    “Minha maior alegria é estar viva neste momento, em que a injustiça cometida contra mim e a minha família é reconhecida”, disse emocionada. “Não guardo rancor da Itaipu, eu amava a empresa e não entendia se eu tinha falhado ou o que poderia ter feito de errado”, relatou.

    Além da reintegração, a tradutora também receberá uma indenização da empresa e terá direito aos benefícios oferecidos por ela, como assistência médica e odontológica.

    O advogado de Sonia, Daniel Godoy, reconheceu a iniciativa. “A direção da Itaipu está promovendo uma reparação histórica e indicando o respeito aos direitos humanos para que fatos como esse não mais se repitam no futuro”.

    Divulgação/ Itaipu Binacional

    Perseguição na ditadura militar

    Em carta endereçada ao chefe do Serviço Nacional de Inteligência (SNI), general João Baptista Figueiredo, o general Costa Cavalcanti comunicou as providências adotadas após receber uma documentação a respeito de Sonia e seu marido, Dario Anibal Galindo.

    O texto informava ao mandatário que, com base nas “conclusões resultantes de documentos biográficos produzidos pela Assessoria de Segurança desta Entidade, em relação aos antecedentes dos citados”, ambos foram demitidos de seus cargos em 17 de novembro de 1976 e 15 de fevereiro de 1977, relevando “a oportunidade das medidas tomadas”.

    Sonia acredita que uma das razões para a sua perseguição política tenha sido o fato de ter morado no Conjunto Residencial da Universidade de São Paulo (USP), conhecido como Crusp, precisamente em 1965.

    Naquele ano, o movimento estudantil promoveu uma greve no alojamento em protesto contra o aumento do preço das refeições e da moradia. “Fizeram um dossiê sobre mim, no qual constava que eu era moradora do Crusp”, afirma.

    *Sob supervisão de Gabriel Bosa, da CNN