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    Especialistas apontam “poder de barganha” da China sobre embargo à carne brasileira

    Principal parceiro comercial brasileiro, China foi destino de 58% dos envios de carne bovina neste ano, ou US$ 3,8 bilhões; há 9 anos, valor não chegava a US$ 40 milhões

    Carnes são armazenadas em frigorífico
    Carnes são armazenadas em frigorífico Foto: Divulgação/Ministério da Agricultura

    Ligia Tuondo CNN Brasil Business São Paulo

    O embargo chinês à carne bovina brasileira, que já dura seis semanas, não é inédito nem o mais longo da história comercial entre os dois países.

    Em 2012, por exemplo, o fluxo foi interrompido pelo mesmo motivo: casos atípicos de “vaca louca” (Encefalopatia Enpongiforme Bovina – EEB), e retomado dois anos depois. Hoje, porém, o Brasil é muito mais dependente dessa parceria.

    A China é o principal parceiro comercial brasileiro, e foi destino de 58% dos embarques de carne bovina de janeiro a setembro de 2021, o que corresponde a US$ 3,8 bilhões. Há nove anos, esse valor não chegava a US$ 40 milhões.

    “Desde que os embarques do setor à China se restabeleceu, em 2014, houve um crescimento contínuo de vendas, com um momento de euforia a partir de 2018”, diz Tulio Cariello, diretor de conteúdo e pesquisa do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC).

    O avanço desse mercado foi significativo sobretudo nos últimos três anos, por conta de uma série de motivos que fez o cenário favorável para o Brasil. Entre os principais, está a guerra comercial entre Estados Unidos e China.

    Essa disputa entre os dois países abriu espaço para o mercado brasileiro. Além disso, o país acabou se beneficiando da necessidade da China de importar carne suína em meio a uma peste altamente contagiosa, que chegou ao país asiático em 2018 e se espalhou rapidamente pelos porcos, principal fonte proteica da dieta chinesa.

    “Desde 2018, o Brasil vivia um mar de rosas em relação às exportações para a China. Além da demanda aquecida no país por conta da doença dos porcos, os vetos chineses em relação ao mercado norte-americano e, mais recentemente, australiano, acabaram beneficiando o Brasil”, diz Cariello.

    Só de janeiro a setembro deste ano houve uma alta de 35% no volume de exportações desse setor, além da carne suína e de aves, em relação ao mesmo período de 2020. “Agora, esse veto pelo caso atípico de “vaca louca” pegou os exportadores de surpresa, porque a China está mantendo esse veto indeterminadamente”, diz.

    Tudo pela barganha

    Tanto em 2012 quanto atualmente, o motivo dos embargos da China à carne do Brasil foram os casos de “vaca louca”. Para especialistas ouvidos pela CNN, porém, essa justificativa se soma a outro motivo: o poder de barganha por serem a segunda maior economia do mundo.

    “O risco sanitário não é motivo real para esse veto, assim como não foi naquela época. É, antes de mais nada, uma questão de barganha. A carne está cara no mundo todo. Eles querem negociar”, diz Cariello.

    “Historicamente, a China tem uma visão super comercial de tudo. Negociam em qualquer oportunidade e sabem o poder que têm como comprador. Afinal, são os maiores importadores não só de carne, mas de soja e vão ser de milho, algodão, celulose etc”, diz Marcos Jank, professor de agronegócio no Insper, coordenador do centro “Insper Agro Global” e conselheiro do Núcleo Agro do Cebri (Centro Brasileiro de Relações Internacionais).

    Isso dá a eles um certo poder de monopólio. Eles têm uma vantagem pelo volume que eles compram e usam esse tipo de justificativa – pode ser um problema sanitário, técnico e até relacionado à Covid-19, como fizeram no ano passado, para negociar preços menores”, diz.

    Em meio à pandemia, a China chegou a interromper as importações do Brasil por conta de um risco potencial de Covid-19 nas embalagens, risco que já se provou praticamente nulo.

    Carne suína x carne bovina

    A China planeja ficar perto da autossuficiência na produção de carne suína, à medida que a situação da peste suína chega perto de estar controlada no país asiático. Em relação à carne bovina, por outro lado, a história é outra.

    Eles precisam importar 30% do consumo doméstico de carne bovina. Por isso, a atual suspensão não deve demorar a acabar, já que o Brasil é o maior fornecedor nesse sentido”, diz Jank.

    Apesar de serem dependentes da importação de carne bovina, é verdade também que esse tipo de proteína não é um produto estratégico em termos de segurança alimentar para os chineses, que ainda podem se beneficiar das importações que vem via Hong Kong.

    “A carne básica da China é o porco ou frango. Eles ainda têm tempo para negociar”, diz Cariello.

    Ministra da Agricultura quer encontro presencial

    O governo aguarda retorno de uma carta enviada ao ministro-chefe da Administração Geral de Alfândegas da China (Gacc, na sigla em inglês) sobre o assunto.

    A informação foi confirmada pelo Ministério da Agricultura à CNN. Na carta, a chefe da pasta, Tereza Cristina, se coloca à disposição para tratar pessoalmente sobre o embargo às exportações de carne bovina brasileira ao país asiático.

    “Da forma como está acordado hoje, a decisão cabe à China. A revisão do protocolo, iniciada em 2019, é um dos muitos temas sobre a mesa em negociação entre os dois países. A ministra Tereza Cristina enviou uma carta ao ministro-chefe da GACC (autoridade chinesa responsável) e se colocou à disposição para tratar pessoalmente do tema. Ela está aguardando resposta”, diz em nota.