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    Entenda se seca na região Amazônica pode impactar sua conta de luz e o fornecimento de energia

    No início de outubro, hidrelétrica Santo Antônio, localizada em Rondônia, teve operação interrompida, diante da baixa dos níveis do rio Madeira

    Rebocador e balsa ficam encalhados no Rio Negro por causa da seca no Amazonas
    Rebocador e balsa ficam encalhados no Rio Negro por causa da seca no Amazonas Suamy Beydoun/Agif - Agência de Fotografia/Estadão Conteúdo (19.out.2023)

    Danilo MoliternoThiago Félixda CNN

    São Paulo

    Especialistas consultados pela CNN indicam que o Sistema Interligado Nacional (SIN) tem mecanismos para responder à seca na região Amazônica do país, mas não descartam a possibilidade de o fenômeno encarecer o preço da energia elétrica.

    Em 2 de outubro, a hidrelétrica Santo Antônio, localizada em Rondônia, teve operação interrompida, diante da baixa dos níveis do rio Madeira. A usina têm potência instalada de 3.568 megawatts. Em 2022, ocupou a quarta posição no ranking de geração de energia.

    A retomada das operações ocorreu no último dia 16. Mas a interrupção acendeu sinal de alerta para possíveis impactos da seca na região para a geração de energia elétrica no país.

    Professor da FGV e Ph.D. em Planejamento Energético, Vanderlei Martins indica que, caso a situação persista, o setor elétrico tem mecanismos para continuar o atendimento sem interrupções, “contudo, poderá incorrer em custos mais elevados ao consumidor”.

    “Poderá ocorrer aumento nos custos de geração nacional, rateados para todo o SIN, caso mais usinas hidrelétricas sejam afetadas. Com isso, poderá ser necessário acionar usinas térmicas, que geralmente têm um custo de geração mais alto”, indica.

    Este aumento pode ocorrer, indica o especialista, por meio dos mecanismos de bandeira tarifária e encargos setoriais.

    Gerente de monitoramento estratégico da Esfera Energia, Daniel Ito reitera a possibilidade de a seca impactar o encargo de serviço de sistema (ESS) — que diz respeito a custos que não estavam previstos inicialmente nas operações de energia e são rateados entre os consumidores.

    “Se realmente tiver o uso de usinas térmicas para segurar a demanda da região, pode impactar e onerar todos os consumidores”, aponta.

    Ambos os especialistas destacam, contudo, a baixa relevância da energia hidrelétrica gerada na região para a formação do preço. O Norte responde por, em média, 6% da capacidade total dos reservatórios da operação nacional.

    Procurado pela CNN, o Ministério de Minas e Energia afirmou que, a partir da identificação da possibilidade de o Brasil enfrentar um período de El Niño severo, o titular da pasta, Alexandre Silveira, determinou que as vinculadas do setor elétrico agissem preventivamente no enfrentamento das consequências.

    “Para a região Norte, especialmente nos sistemas isolados, a orientação foi de mobilizar recursos de forma preventiva para a plena garantia do atendimento. As empresas já se prontificaram nesse sentido, provendo maior autonomia a esses sistemas, o que vem garantindo uma operação de energia elétrica de forma segura e confiável”, afirmou a pasta em nota.

    “O MME destaca que tal iniciativa não causa impactos no custo dos consumidores de energia elétrica”, completou.

    A CNN também procurou Belo Monte, a maior usina hidrelétrica 100% brasileira, para que comentasse os efeitos do fenômeno climático para sua operação. Wady Charone Júnior, diretor de Operação e Manutenção da usina, negou que a seca afete as operações neste momento.

    “A usina foi construída a fio d’água [sem reservatório], a sazonalidade do rio Xingu durante o verão amazônico reduz naturalmente a geração de energia do empreendimento. Apesar da seca verificada em regiões da Amazônia, as previsões de vazão do rio Xingu, até o momento, não afetam o Complexo Hidrelétrico Belo Monte”, disse.

    Mecanismos do SIN afastam risco de apagão

    Para Daniel Ito, a probabilidade de um apagão regional por conta da seca é baixa, por conta da “capacidade de intercâmbio” do SIN. A geração de outros subsistemas poderiam ajudar a suprir a demanda energética do Norte.

    “As condições do Sudeste estão confortáveis e isso reduz muito o risco de qualquer possibilidade de apagão, estamos no final do período seco do Sudeste, mas com o nível de reservatório muito acima do normal”, indica.

    Vanderlei Martins reitera que o SIN possibilita utilizar o despacho de outras usinas para apoiar a operação setorial, “o que garante a segurança energética e mantém o
    fornecimento até mesmo em situações emergenciais”.

    O especialista indica que a maioria das usinas da região, inclusive a de Santo Antônio, foram construídas na modalidade a fio-d’água, o que faz o empreendimento contar apenas com a disponibilidade momentânea do recurso hídrico para a geração.

    Essa composição não tem reservatório de acumulação, por conta dos impactos ambientais associados.

    “Esse tipo de usina já indica a necessidade de “back-ups” na operação do sistema, por meio da contratação de energia de reserva, de forma que traga segurança energética
    nos momentos de crise hídrica, como já vivido pelo país em outras ocasiões”, explica.

    Apesar de descartar um possível apagão, Martins aponta para impactos econômicos da seca, que afetariam a produção industrial e o emprego, bem como para prejuízos sociais, “já que famílias de baixa renda podem ser desproporcionalmente afetadas por aumentos nas tarifas de energia”.

    Veja também – Seca na região Norte pode impactar Black Friday