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    Entenda por que Lula critica União Europeia sobre acordo com o Mercosul

    Para especialistas, descontentamento do presidente está relacionado a dificuldades comerciais que o Brasil enfrentaria ao acatar as condições impostas pelo bloco europeu

    Lula voltou a falar sobre a carta enviada pela UE ao Mercosul
    Lula voltou a falar sobre a carta enviada pela UE ao Mercosul Lewis Joly/Pool via REUTERS

    Da CNN

    Durante a sua passagem pela Europa, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a criticar, nesta sexta-feira (23), condições que a União Europeia (UE) acrescentou ao tratado que busca a integração com o Mercosul.

    Na visão do brasileiro, a carta enviada pelo bloco europeu faz “ameaça” a um parceiro estratégico.

    Especialistas ouvidos pela CNN afirmam que o descontentamento do presidente com acordo está ligado a dificuldades comerciais e industriais que o país enfrentaria ao acatar as condições impostas pela UE.

    “O que acontece é que tem pontos que são inaceitáveis ou ameaçam, porque implicam em questões bastante severas ao meio ambiente”, explica a professora de Relações Internacionais da Unifesp, Regiane Bressan.

    O acordo entre Mercosul e União Europeia vem sendo discutido exaustivamente desde 1999 e chegou a ser assinado em 2019, durante o governo de Jair Bolsonaro.

    No entanto, em março deste ano, a UE enviou um documento que reabriu as negociações e passou a exigir compromissos ambientais para desbloquear o acordo de livre comércio entre as nações.

    “A União Europeia está totalmente alinhada aos acordos de Paris e aos acordos ambientais das organizações multilaterais, mas impor isso neste acordo vai dificultar muito para que o Brasil consiga, de fato, fazer comércio […]. Exigir que todo produto tenha inspeção, selo verde… Nem tudo a gente vai conseguir, esse é o ponto”, complementa a especialista.

    Em uma visão semelhante, o professor de Relações Internacionais da ESPM, Leonardo Trevisan, compara as novas demandas dos europeus como mudar as regras do jogo com a partida em andamento.

    “Agora, todos os produtos comprados pela UE terão que obedecer a uma nova regra de desmatamento regular, com data retroativa. Isso cria uma dificuldade enorme para a exportação brasileira”, explica.

    Na visão de Trevisan, por trás das condições, estão os interesses do agronegócio europeus, sobretudo dos franceses.

    “Eles, evidentemente, têm uma poderosa indústria láctea, mas que é de menor produtividade do que a indústria láctea brasileira”, explica.

    “Se o Mercosul conseguir uma abertura para entrar no mercado europeu, os franceses e outros países menores da União Europeia vão perder espaço”, diz.

    Além das questões ambientais, outro ponto que incomoda o presidente Lula está ligado à industrialização — questão muito levantada pelo petista ainda durante a campanha presidencial e que poderia sofrer implicações.

    “Não digo que o acordo impediria uma nova industrialização, mas ele cerceia e implica uma industrialização vinculada ao desenvolvimento sustentável”, explica Bressan.

    Além disso, a professora afirma que, no que diz respeito às compras governamentais, o novo acordo poderia levar o Brasil a perder concorrência para empresas europeias devido à estatização de áreas estratégicas.

    “Não que o governo não possa desestatizar, mas ele pode vender para empresas nacionais. Ele não precisa necessariamente vender para empresas europeias. Quando abrimos a concorrência, ficamos muito mais vulneráveis”, conclui.

    O professor de Relações Internacionais da Universidade Federal de Sergipe, Cairo Junqueira, pontua que a partir de julho a Espanha assumirá a presidência do Conselho da União Europeia.  “Com isso, há uma expectativa do governo brasileiro de que, com a presidência espanhola na UE, este processo possa avançar mais”, afirma.

    Publicado por Amanda Sampaio, com informações de Marina Toledo e Danilo Moliterno.