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    Entenda o que é o programa de financiamento bancário dos EUA que pode impedir outro colapso como o do SVB

    Programa deve durar um ano, mas não há nada que impeça o Fed de estender esse prazo

    Nicole Goodkindda CNN*

    Depois do colapso do Silicon Valley Bank (SVB) e do Signature Bank, o governo dos Estados Unidos interveio com uma medida extraordinária para resgatar clientes. Alguns desses clientes têm muitos milhões de dólares em depósitos não segurados que, de outra forma, teriam sido zerados.

    Mas um segundo plano de resgate, talvez ainda mais significativo, ficou em segundo plano nas discussões públicas sobre o tema: Bank Term Funding Program – BTFP (Programa de Financiamento Bancário a Prazo), programa de empréstimo bancário a prazo do Federal Reserve (Fed).

    Os economistas disseram que ele é uma ferramenta essencial para evitar que outro banco parecido com o SVB quebre.

    Saiba mais sobre o plano de estabilização de emergência do Fed.

    O que é?

    O Fed diz que criou o BTFP para fornecer “uma fonte adicional de liquidez contra títulos de alta qualidade, eliminando a necessidade de uma instituição de vender rapidamente títulos em momentos de estresse”.

    O novo programa tem três partes essenciais. A primeira são os empréstimos que fornece aos bancos. As instituições financeiras poderão pedir dinheiro emprestado ao seu Federal Reserve Bank por até um ano usando títulos, títulos hipotecários e outros tipos de dívida como garantia.

    Isso significa que, se um banco precisar de aumentar rapidamente o caixa para atender ao ritmo dos saques de clientes, ele vai conseguir.

    A segunda parte do programa é valorizar os títulos do tesouro do banco e outros títulos com paridade.

    Os aumentos das taxas do Fed minaram o valor dos títulos do tesouro dos quais os bancos dependem como uma fonte crítica de capital.

    Os bancos dos EUA têm atualmente cerca de US$ 620 bilhões (cerca de R$ 3,2 trilhões) em perdas não realizadas em títulos, de acordo com o FDIC.

    Se algum deles precisar de acesso a muito dinheiro rapidamente, teriam de vender tais títulos com prejuízo, talvez uma perda substancial, como o SVB fez na semana passada.

    O BTFP tem como objetivo resolver este problema valorizando os títulos utilizados como garantia de empréstimo com paridade. Se um banco traz um título que comprou por US$ 1 mil que vale apenas US$ 600 agora, ele ainda receberá US$ 1 mil em dinheiro.

    A terceira parte do programa é destinada a injetar confiança no sistema bancário dos EUA. Estes empréstimos serão apoiados por US$ 25 bilhões (cerca de R$ 132 bilhões) do Tesouro dos EUA. Se um banco não puder pagar seu empréstimo, o governo irá pagar.

    Qual o objetivo do programa?

    O BTFP é em parte ideia de Douglas Diamond e Philip Dybvig, que ganharam o Prêmio Nobel no ano passado (ao lado do ex-presidente do Fed, Ben Bernanke) por seu trabalho sobre movimentos de retiradas bancárias em massa e como evitá-las.

    Eles descobriram que, se os clientes sabem que seus depósitos bancários estão segurados, uma corrida ao banco é muito improvável.

    É isso que o programa pretende fazer: quando os bancos vendem grandes quantidades de ativos muito seguros, como títulos do Tesouro, com prejuízo, isso sinaliza que eles esgotaram todas as outras opções para levantar capital para pagar os clientes – e falharam.

    O programa do Fed tira esse cenário da mesa, dando aos correntistas garantias de que o seu dinheiro está seguro e é apoiado pelo Tesouro dos EUA.

    Parece estar funcionando. As ações do banco se recuperaram significativamente na terça-feira (14) depois do recorde de queda na segunda-feira e na semana anterior.

    Alguém já usou o programa?

    Não sabemos ainda! Mas nesta segunda-feira (20) o Fed divulga o seu balanço semanal. Não haverá nomes anexados aos empréstimos, mas veremos quanto foi para os bancos.

    Para aqueles com mais paciência, o Fed apresentará os nomes dos bancos e quanto eles emprestaram um ano após o término do programa.

    O programa deve durar um ano, mas não há nada que impeça o Fed de estender isso indefinidamente.

    Alguém vai usar o programa?

    É aqui que as coisas ficam complicadas. Se um banco fizer um empréstimo no Fed, ele está projetando em voz alta suas lutas de liquidez para os investidores.

    É como colocar uma marquinha vermelha ao lado do nome do banco, como comparou à CNN o economista-chefe da auditoria e consultoria global RSM Joe Brusuelas.

    Mas o Fed sabe disso. Foi um problema comum com programas similares instituídos durante a crise financeira de 2008.

    É por isso que Brusuelas suspeita que poderia haver algumas manobras feitas pelo presidente do New York Federal Reserve, John Williams, e alguns dos maiores bancos dos EUA.

    Tais bancos coordenarão para receber empréstimos do Fed ao mesmo tempo, no mesmo dia, ao lado de bancos menores. Dessa forma, o total de empréstimos será bastante grande e amorfo, tornando difícil para os investidores decifrar quais bancos emprestaram o que.

    Dinheiro mais barato?

    Você tem razão, embora o Fed não chame isso de “flexibilização quantitativa” – apelido do programa de compra de ativos que ele usou para impulsionar a economia durante a crise financeira global. Ele prefere “compras de ativos em grande escala”.

    Faz aproximadamente um ano que o Fed pratica o aperto quantitativo (QT na sigla em inglês) para reduzir as taxas de inflação. Estão sendo vendidos atualmente cerca de US$ 60 bilhões (cerca de R$ 317 bilhões) em títulos do Tesouro a cada mês.

    O novo programa faz o oposto disso: injeta dinheiro no sistema bancário. Mas Brusuelas diz que US$ 25 bilhões (cerca de R$ 132 bilhões) em empréstimos vão compensar ligeiramente os efeitos do aperto.

    Vale a pena evitar uma época corrida aos bancos que pode desestabilizar toda a economia, acrescentou.

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