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    Entenda importância de Jackson Hole e o que mudou desde último encontro do Fed

    Expectativa do mercado é que presidente do banco central dê pistas sobre ciclo de alta de juros nos Estados Unidos

    Simpósio de Jackson Hole foi criado em 1978
    Simpósio de Jackson Hole foi criado em 1978 AaronP/Bauer-Griffin / Getty Images

    João Pedro Malardo CNN Brasil Business

    em São Paulo

    Com início nesta quinta-feira (25), o simpósio de Jackson Hole é o foco do mercado nesta semana, e contará com um discurso do atual presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, na sexta-feira (26). Com mais de 40 anos de história, o encontro se tornou uma tradição na agenda do banco central dos Estados Unidos.

    O título do simpósio deste ano, que vai até sábado (27), é “Reavaliando as restrições à economia e à política”.

    Realizado anualmente, Powell falará sobre uma economia bastante diferente da de um ano atrás. Em 2021, o presidente da autarquia destacou que a economia norte-americana progredia em direção às condições para uma redução de programas emergenciais de apoio durante a pandemia.

    O que é o Jackson Hole
    O que é o Jackson Hole / CNN

    Naquela época, a inflação já dava sinais de crescimento, mas longe dos maiores níveis em 40 anos registrados em 2022. Por isso, Powell continuou a adotar um discurso de que o fenômeno era transitório, “confinado a um grupo relativamente estreito de bens e serviços”.

    Powell manteve uma posição contrária a uma alta de juros devido às chances de prejudicar a recuperação do emprego no país, que à época estava consideravelmente distante do pleno emprego, na visão dele.

    Um ano depois, a inflação disparou, em parte piorada pela guerra na Ucrânia, e o Fed precisou iniciar um novo ciclo de alta de juros a partir de março. Desde então, os juros subiram do intervalo de 0% a 0,25% ao ano para 2,25% a 2,5%, com o mercado ainda esperando novas elevações até 2023.

    Ao mesmo tempo, o mercado de trabalho, grande preocupação de Powell, teve uma recuperação sólida, com a taxa de desemprego em 3,5%, um patamar de pleno emprego e o menor valor em 50 anos.

    O foco dos investidores, agora, é nas possíveis sinalizações que o presidente do Fed dará em seu discurso, em meio a apostas de que os Estados Unidos entrarão em recessão devido à desaceleração da economia conforme os juros sobem.

    O que esperar do Jackson Hole
    O que esperar do Jackson Hole / CNN

    Os dirigentes do banco central já indicaram que as próximas elevações de juros serão feitas dependendo dos dados que forem divulgados entre cada reunião, com isso reforçando o peso de indicadores no comportamento e apostas do mercado.

    “O que eles esperam ouvir de Jay Powell é que o Fed agirá para reduzir a inflação, mas estará suficientemente confiante de que pode reverter o curso no início do próximo ano. Não acho que eles vão ouvir isso”, disse Randall Kroszner, ex-governador do Fed e vice-reitor de programas executivos e professor de economia da Universidade de Chicago.

    Em vez disso, ele disse que o Federal Reserve espera que, ao aumentar as taxas de juros rapidamente, não precise elevá-las muito. “Se for esse o caso, eles podem evitar uma desaceleração significativa, mas isso não é garantido”, afirma.

    “Acho que Powell vai tentar e fazer é continuar sua narrativa sobre o combate à inflação enquanto tenta dissuadir o mercado da noção de que o Fed fez um pivô dovish”, disse David Norris, sócio e chefe de crédito na TwentyFour Asset. “Não acho que ele vá surpreender os mercados com suas declarações”.

    A história de Jackson Hole

    Em 1978, a regional do Federal Reserve do estado de Kansas iniciou um simpósio para discutir o papel da política monetária no desenvolvimento agrícola.

    Mais de 40 anos depois, o encontro se tornou um ambiente que reúne, anualmente, economistas, políticos, empresários e os presidentes dos principais bancos centrais do mundo para discutir assuntos importantes que mexem com a economia americana e global.

    Simão Silber, professor da FEA-USP, afirma que os temas discutidos no evento não seguem uma agenda rígida, mas são os “mais quentes da hora”.

    Na década de 1980, por exemplo, uma edição discutiu as flutuações na cotação do dólar. Em 2007, o tema foi o mercado imobiliário e a influência da política monetária, quando o colapso desse setor gerou uma das maiores crises econômicas da história.

    Já em 2021, o simpósio discutiu o impacto desigual da pandemia na população. “A ideia foi discutir o que a política do governo pode fazer para as minorias que foram mais atingidas pela pandemia. No fundo, é a distribuição de renda que piorou para os pobres”, afirma Silber.

    O professor diz que o simpósio de Jackson Hole tem origem na própria autonomia que os 12 bancos regionais do Fed possuem.

    O evento foi criado pela regional de Kansas City, que fica no estado do Missouri. A cidade abrigou as primeiras edições, sendo sucedida por duas cidades no Colorado e, a partir de 1982, passou a ocorrer em Jackson Hole.

    A cidade fica no estado de Wyoming, próxima ao parque nacional de Yellowstone. Com cerca de 11 mil habitantes, o local ficou famoso na internet em 2016 após postar no YouTube uma transmissão ao vivo das mais de 80 câmeras da cidade, que continua até hoje.

    O ano de 1982 foi importante para o evento não apenas pela mudança de cidade, mas também por ser o primeiro a contar com a presença do presidente do Federal Reserve, atraindo, com isso, representantes de bancos centrais de todo o mundo. O que passou a ser o tradicional discurso do presidente do Fed começou apenas em 1989.

    Jackson Hole permite troca de experiências entre bancos centrais

    Silber considera que o evento é “uma troca de ideias entre banqueiros centrais”, o que o torna bastante influente, recebendo representantes de mais de 70 países desde 1982. “Tem influenciado muito a maneira pela qual se fez política monetária nos principais países do mundo”, diz ele.

    Para o professor, o simpósio também reflete um movimento da década de 1970, em que os bancos centrais ganharam cada vez mais autonomia e poder para influenciar a economia dos países, dentro do chamado câmbio flutuante.

    “A troca de experiências, o que dá certo e errado, tem uma importância muito grande nesse cenário”, afirma Silber.

    O professor diz que, hoje, são os bancos centrais que “mandam” na política econômica, por isso é importante saber o que pensam seus presidentes. Como exemplo, ele diz que um banco central pode elevar a taxa de juros sem precisar de aprovação do Congresso, mas um ministro da Economia não consegue aprovar planos e medidas sem o aval do Legislativo.

    Com informações da Reuters e do CNN Business