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    Enquanto investidores locais vendem ações na B3, estrangeiros vão às compras

    Internacionais têm saldo positivo de R$ 7,3 bilhões entre compra e venda de ativos na B3 em agosto de 2021

    Maxim Hopman/Unsplash

    Matheus Pradodo CNN Brasil Business

    São Paulo

    Do início do mês de agosto até o fechamento do pregão do último dia 23, investidores estrangeiros tinham um saldo positivo de R$ 7,3 bilhões entre compra e venda de ativos na B3. Já os investidores institucionais locais retiraram R$ 9,5 bilhões da bolsa nacional, e os investidores individuais sacaram outros R$ 2,3 bilhões.

    Enquanto isso acontece, o mercado acionário brasileiro vai se descolando de Wall Street nas últimas semanas por conta de ruídos internos. O Ibovespa está praticamente zerado no ano, já o S&P 500 carrega valorização na casa dos 20%.

    Nessa linha, é interessante ver que o investidor de fora do país, que costuma ser mais sensível aos riscos locais, está com um comportamento mais comprador que seus pares brasileiros.

    Daí surgem as perguntas: o que os gringos estão vendo nas empresas brasileiras que os players nacionais não viram? Ou o contrário, quais riscos locais, mais evidentes para nós, o pessoal lá fora não conseguiu mapear?

    É claro que, na prática, não há nada tão definitivo assim no mercado financeiro, mas alguns fatores ajudam a explicar esse descompasso, ainda que breve, nas leituras atuais. Entenda:

    Ciclo natural

    Via de regra, um negócio só ocorre no mercado financeiro (e em qualquer outro ambiente) se uma parte quiser vender e outra estiver disposta a comprar um ativo pelo mesmo valor, certo?

    Segundo Renato Breia, sócio-fundador da Nord Research, estamos enxergando uma inversão de papéis em relação ao que ocorreu no ano passado.

    Em 2020, os estrangeiros fugiram do risco e venderam boa parte do que tinham alocado por aqui. Neste momento, investidores individuais foram às compras e ajudaram o IBOV a terminar o ano com viés positivo.

    “Até apelidamos o momento de vingança das sardinhas”, brinca. “Diferentemente de outras crises, e graças ao melhor nível de educação financeira que estamos atingindo, os pequenos investidores compraram na baixa e agora estão vendendo, acomodando o retorno natural dos estrangeiros.”

    Ativos baratos

    A tendência é essa, mas naturalmente os investidores internacionais não estão voltando à toa. Ajuda, e muito, a temporada de balanços do segundo trimestre ter sido extremamente positiva por aqui.

    “Mercados desenvolvidos estão operando em máximas históricas e com empresas sendo negociadas a múltiplos de preço/lucro bem acima dos valores habituais, porque a situação econômica permite”, diz Henrique Esteter, analista da Guide Investimentos.

    “Já no mercado local, os mesmos múltiplos das companhias estão em níveis abaixo da média histórica, por conta de questões econômicas, políticas e sanitárias.”

    O analista indica, então, que este “desconto” nos papéis nacionais pode estar atraindo aportes mais voltados para o longo prazo, para além das turbulências de curto prazo.

    Câmbio e juros

    Pesa ainda a favor do investidor estrangeiro a deterioração do real e contra o investidor nacional a perspectiva de crescimento nas taxas de juros.

    Com uma das piores performances do mundo em 2020, o câmbio brasileiro até deu sinais de melhora no primeiro semestre, mas voltou a piorar.

    Erminio Lucci, CEO da BGC Liquidez, diz que a divisa reflete o nível de instabilidade do país. “As contas externas do país estão boas, ajudando o câmbio, mas está refletindo as incertezas atuais.”

    O gestor cita algumas suspeitas de costume: inflação, possível relaxamento das políticas fiscais e as eleições de 2022. “É o elefante na sala. Enquanto não estiver resolvida [a eleição], com um presidente assumindo com clima institucional calmo, acredito que nada vai mudar.”

    Para quem está vendo (e comprando) de fora, quanto mais desvalorizada a moeda local, mais baratos ficam os negócios em dólar.

    Já em termos de juros, com a curva de médio e longo prazo se abrindo e passando de dois dígitos, o efeito é adverso para os investidores brasileiros.

    “Neste ambiente, o prêmio necessário para estar comprado em papéis de uma empresa aumenta, porque a renda fixa já vira um competidor de maior calibre. Isso já é uma realidade.”

    Sentimento do investidor

    Com tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo, analistas apontam, por fim, que o sentimento do investidor local está sendo mais prejudicado pela conjuntura.

    “Investidores residentes podem ter uma sensação térmica mais elevada, uma vez que estamos vivendo as notícias”, diz Fernando Barbará, head de renda variável do Andbank Brasil. “Talvez o investidor estrangeiro consiga, neste momento, alongar um pouco mais os horizontes.”

    Lucci corrobora o sentimento e diz que o bom humor dos internacionais também tem limite. “Os ruídos políticos vão contaminar cada vez mais. Investidor não gosta de incerteza.”