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    Empresas usam blockchain para rastrear e organizar doações, veja como funciona

    Rede oferece mais confiança sobre destino e uso de doações, evitando, por exemplo, duplicidades em recebimentos

    Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas utiliza o blockchain para organizar e distribuir assistência à Bangladesh, Jordânia e Líbano
    Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas utiliza o blockchain para organizar e distribuir assistência à Bangladesh, Jordânia e Líbano Getty Images

    Artur Nicocelido CNN Brasil Business

    em São Paulo

    Com a segurança e transparência como vantagem, o blockchain tem sido adotado por empresas e instituições que vão do setor financeiro ao de educação. Mais recentemente, o sistema também tem sido adotado por empresas que trabalham com doações monetárias e de alimentos.

    O braço da ONU (Organização das Nações Unidas) conhecido como Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas  (WFP, na sigla em inglês), por exemplo, utiliza a tecnologia para rastrear onde determinadas doações foram feitas para que não exista duplicidade no fornecimento de produtos, desperdiçando recursos ou excluindo famílias que precisam de assistência, explicou Vincent Matak, gerente de comunicação na divisão de tecnologia do Programa Mundial de Alimentos.

    Já a companhia Ribon usa o blockchain para rastrear as transações financeiras, para que as pessoas consigam saber se sua doação foi realmente destinada ao lugar escolhido.

    Michael Jordan, pesquisador em blockchain e analista da DLT 360 diz que “a tecnologia serve para dar mais confiabilidade e organização no processo de doação e visa construir uma confiança maior entre os doadores [e as companhias]”.

    Organização

    O blockchain da WFP é conhecido como Building Blocks, e funciona como um sistema em que organizações podem se cadastrar e  compartilhar informações de forma segura e em tempo real.

    O Programa Mundial de Alimentos criou um aplicativo para as organizações fazerem  registros atualizados dos serviços prestados às pessoas, “ajudando a garantir o fornecendo suporte eficaz e bem direcionado”, afirmou a ONU, em nota.

    O app também permite rastrear, coordenar e fornecer vários tipos de assistência, incluindo dinheiro, alimentos, água, saneamento, itens para higiene e medicamentos.

    Ao todo, desde 2017, a organização já recebeu cerca de US$ 325 milhões e o montante foi destinado para 1 milhão de refugiados em Bangladesh, Jordânia e Líbano.

    Matak afirmou que a ONU só irá ampliar o uso da tecnologia e destinar os valores para outras regiões quando sentir necessidade.

    Controle

    Os doadores, ao entrarem na Ribon, recebem vouchers de doação – valores frutos de um fundo acumulativo que a empresa possui.

    As pessoas então escolhem para qual projeto social têm interesse em realizar uma doação e, após fazerem, têm a opção de adicionar uma quantia de dinheiro do próprio bolso ao fundo para que, no futuro, outras pessoas também recebam vouchers e o processo se repita.

    O ticket médio das doações é perto de R$ 30. E, para manter as operações, a companhia retém cerca de 10% de cada valor adicionado. Porém, essa porcentagem só é retida se o valor for usado por novos doadores posteriormente.

    Em média, 60% dos doares acrescentam algum valor ao fundo. E, desde sua fundação, em 2016, 428.093 pessoas doaram um total de R$ 1.072.691,15 para 28 projetos sociais do Brasil e do mundo.

    Moriah Rickli, gerente da Ribon, afirma que a maior vantagem do blockchain é transacionar valores de forma totalmente transparente e auditável. Ou seja, é possível a pessoa confirmar se o dinheiro doado foi realmente para o beneficiário escolhido ou não.

    A companhia usa o blockchain Polygon.

    Riscos

    O analista da DLT 360 apontou, por outro lado, que um dos maiores problemas em usar o sistema é a falta de conhecimento das pessoas sobre o blockchain. “Leva tempo para as pessoas confiarem nessas novas tecnologias e se sentirem no controle de si”.

    Outro risco, para o especialista, são as questões legais de vulnerabilidade dos contratos inteligentes, também conhecidos como smart contracts, que funcionam como protocolos que possuem a mesma finalidade de instrumentos contratuais físicos que são estabelecidos entre duas partes. Porém, em vez de serem em papel, são feitos digitalmente.

    Neles, é possível ocorrer transações fraudulentas e não ter como ser revertida, já que são realizadas sem a presença de um agente central, ou problemas com privacidade de informação dos usuários.

    “A privacidade é uma preocupação para algumas pessoas, principalmente aquelas que valorizam doações anônimas. E existem alguns equívocos comuns sobre algumas redes serem dessa forma”, diz Jordan. O rede bitcoin não é anônima, por exemplo.

    Assim,  embora o anonimato seja possível com alguns protocolos usando criptografia, ele diz ser importante para quem quer fazer doação, antes de enviar algum valor monetário, realizar uma pesquisa prévia sobre o blockchain utilizado por uma companhia.