Emprego e consumo devem amenizar desaceleração do PIB no 2º tri, dizem analistas
IBGE divulga na sexta-feira (1º) o resultado da economia entre abril e junho; estimativas falam em altas de 0% a 0,3% ante janeiro a março
Sem a ajuda excepcional que teve da agropecuária nos três primeiros meses de 2023, o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro no segundo trimestre deve vir mais fraco e confirmar uma trajetória de desaceleração que já se desenha desde meados do ano passado, conforme os juros subiam.
Alguns motores da economia, entretanto, devem continuar ajudando a transformar as quedas em um pouso mais suave, de acordo com economistas consultados pela CNN.
É o caso, principalmente, do consumo das famílias e de atividades, como os serviços, resguardados em parte, a despeito dos juros altos, por um mercado de trabalho que se mantém aquecido e com taxas de desempregos baixas.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga nesta sexta-feira (1º) o resultado do PIB do segundo trimestre.
As projeções falam em variações entre 0% e 0,3% ante o período imediatamente anterior, depois de a economia brasileira crescer 1,9% no primeiro trimestre, na mesma margem de comparação.
A alta foi impulsionada por um salto de 21,6% no setor da agropecuária, turbinado pela maior safra de soja da história no período.
“Há um processo de desaceleração contínua desde meados do ano passado”, diz o economista e analista do Santander, Gabriel Couto.
“Mesmo no primeiro trimestre, quando se separa o que foi efeito do impacto positivo muito grande vindo da agropecuária, via-se que os outros setores já mostravam essa desaceleração.”
Na banda das projeções mais pessimistas, o Santander estima um crescimento próximo de zero no segundo trimestre, com uma sutil alta de 0,1%, na comparação com o primeiro.
A agropecuária, em um movimento de ajuste após a forte alta do período anterior, deve cair 1,6%.
Do lado da demanda, tanto o consumo do governo (-0,5%), quanto os investimentos (-0,7%) — estes especialmente sensíveis a juros altos —, devem ser negativos, restando apenas o consumo das famílias em ritmo de crescimento, com alta de 0,8%.
“O consumo das famílias tende a ser o destaque desse segundo trimestre”, diz Couto. “E isso é o resultado de um mercado de trabalho ainda bastante resiliente”.
A taxa de desemprego no trimestre encerrado em junho ficou em 8%, de acordo com o IBGE, no menor nível dos últimos nove anos.
Além da ajuda do emprego e da renda resistentes, a equipe do Itaú destaca também o apoio dado “por estímulos fiscais como o aumento do salário mínimo e a elevação do bolsa família”.
“Do lado da demanda, destaque positivo para o consumo das famílias”, escreveu o banco em relatório. Em sua estimativa, este segmento deve crescer 3% na comparação com o mesmo trimestre do ano passado.
A projeção do banco é que o PIB cresça 0,3% na comparação com o primeiro trimestre, e 2,7% ante o mesmo período de 2022.
A Genial Investimentos vê essa “ajuda” do consumo impactando o PIB por meio do setor de serviços, que pode crescer 0,5% no trimestre.
“O avanço do setor no período reflete a combinação da resiliência do mercado de trabalho, a melhora da inflação corrente e mudança no perfil de consumo das famílias de bens para serviços”, diz o relatório da corretora.
A estimativa da Genial é que a economia brasileira cresça 0,3% na comparação com o primeiro trimestre, e 2,6% ante o segundo trimestre do ano passado.
“A leitura [do PIB do segundo trimestre] será fundamental para compreender o nível da desaceleração ou resiliência da atividade e suas consequência nas expectativas de inflação”, escreveu a equipe econômica do BTG Pactual em relatório.
Isto porque o ritmo de crescimento da economia é preponderante para que o Banco Central possa dosar a intensidade com que deve seguir baixando a Selic, a taxa básica de juros.
Uma economia que se mostra forte demais pode manter a inflação alta e retardar o processo de redução da taxa.
Nas contas do BTG, o PIB deve subir 0,24% na passagem do primeiro para o segundo trimestre, com uma queda de 5,5% na agropecuária.
Do lado da demanda, o consumo das famílias, de acordo com o banco, se dirige para um avanço de 0,6%, enquanto os investimentos — medida que verifica as expansões físicas feitas pelas empresas e pela construção — devem cair 0,2%.