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    Em crise, Exxon enfrenta rebelião de acionistas

    Pela primeira vez na história moderna, empresa enfrenta a desconfiança de investidores frustrados que procuram destituir seu conselho de administração

    Matt McFarland, do CNN Business, em Nova York

     

    Por décadas, a ExxonMobil foi uma máquina irrefreável e invejada pela indústria do petróleo. Agora, a máquina quebrou e os críticos da Exxon estão caindo em cima.

    Pela primeira vez na história moderna, a Exxon (XOM) enfrenta a desconfiança de investidores frustrados que procuram destituir seu conselho de administração.

    Liderado por uma nova firma de investidores ativistas chamada Engine Nº 1, a ação pede que a Exxon controle suas ambições de gastos massivos, reformule os salários dos executivos e explore a busca por uma energia limpa. A Engine Nº 1 recebeu apoio da Church of England e de um dos fundos de pensão mais poderosos da América: o California State Teachers’ Retirement System, ou CalSTRS.

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    Mas isso não é tudo. O fundo de hedge ativista D.E. Shaw conquistou uma participação maior na Exxon do que a detida pelo CalSTRS e Engine Nº 1 e está pressionando a empresa de petróleo a cortar gastos para economizar seus dividendos e melhorar seu desempenho ruim, segundo uma pessoa familiarizada com o assunto, não autorizada a falar publicamente, contou à CNN Business. A Bloomberg News foi a primeira a relatar a campanha do D.E. Shaw.

    Esses esforços mostram o tamanho do tombo da Exxon. Outrora a empresa de capital aberto mais valiosa do mundo, sua avaliação de mercado desmoronou em impressionantes US$ 266 bilhões desde meados de 2014. A Exxon está perdendo dinheiro pela primeira vez em décadas e foi expulsa do Dow Jones Industrial Average depois de 92 anos fazendo parte do exclusivo índice.

    “Historicamente, a Exxon nunca teve que se preocupar muito com os acionistas. Agora eles têm pessoas sacudindo suas bases”, opinou Peter McNally, analista do Third Bridge Group. 

    A dissidência dos acionistas tem se infiltrado nos últimos anos na Exxon, especialmente na frente climática, conforme os ativistas exigem propostas visando forçar a Exxon a divulgar metas de emissões, testar os estresse de seu  risco climático e separar as funções de CEO e presidente do conselho.

    A batalha, agora, é diferente: trata-se de uma campanha para assumir o controle das cadeiras do conselho. A Engine Nº 1 revelou quatro indivíduos com fortes credenciais no setor de energia que concordaram em ser indicados, “se necessário”, para o conselho da Exxon.

    “Por muito tempo, a Exxon foi uma máquina. Ela só gerava fluxo de caixa ano após ano”, afirmou Stewart Glickman, analista da CFRA Research. “Quando uma empresa começa a lutar em horas turbulentas, sempre aparece um ativista”.

    Série de erros na Exxon

    A Engine Nº 1, cuja equipe executiva inclui o ex-sócio da JANA Charlie Penner e a ex-executiva da BlackRock Jennifer Grancio, destacou o fraco desempenho da Exxon e sugeriu que a empresa enfrenta uma crise existencial. Em uma carta enviada na semana passada ao conselho da Exxon, o grupo ativista aponta que o retorno total para os acionistas da empresa nos períodos anteriores de três, cinco e dez anos está atrás de seus pares e do S&P 500.

    “Acreditamos que para a ExxonMobil evitar o destino de outras empresas norte-americanas que já foram icônicas, ela deve se posicionar melhor para a criação de valor sustentável de longo prazo”, escreveu a Engine Nº 1 na carta.

    Há muito tempo a Exxon se orgulha de poder gastar com sabedoria, mesmo quando o mercado de petróleo, mesmo em expansão, não cooperava. Mas uma série de erros recentes abriu um buraco nesse argumento e agora ameaça o precioso dividendo da empresa.

    Na década passada, a Exxon estava muito atrasada para o boom do óleo de xisto nos Estados Unidos, embora ele tenha sido descoberto em seu próprio quintal no Texas. No lugar disso, a empresa decidiu investir em projetos complexos no exterior, alguns dos quais, incluindo uma joint venture com a petrolífera russa Rosneft, não deu certo.

    Além disso, com o benefício de uma retrospectiva, a aquisição da gigante de gás natural XTO Energy pela Exxon em 2009 foi considerada um “erro épico”. Os preços do gás natural estão sendo negociados a menos da metade dos níveis da época da aquisição de US$ 41 bilhões. A Exxon disse recentemente que reduzirá o valor de suas propriedades de gás natural em impressionantes US$ 17 bilhões a US$ 20 bilhões.

    A Engine Nº 1 criticou a Exxon por sua “estratégia ruim de alocação de capital de longo prazo” e pediu à empresa que reduzisse os gastos.

    Em uma carta para a Exxon, o fundo D.E. Shaw pediu à empresa que corte os gastos de capital para um nível de manutenção de apenas US$ 13 bilhões, segundo uma pessoa familiarizada com o assunto. Isso representaria uma queda acentuada do plano da Exxon de gastar US$ 23 bilhões este ano.

    Antes que as cartas dos ativistas se tornassem públicas, a Exxon anunciou uma retirada de seus planos de gastos agressivos, embora não tanto quanto os ativistas desejariam.

    A Exxon deve diversificar?

    A crise climática continua pairando sobre a gigante do petróleo. Segundo uma fonte, o D. E. Shaw está pressionando a Exxon para melhorar sua reputação ambiental e definir metas de emissões claras e mensuráveis e incluí-las em seus planos de compensação.

    A Engine No. 1 disse que a Exxon deveria “explorar totalmente” maneiras de usar sua escala e experiência investigando áreas de crescimento, incluindo “investimentos mais significativos em fontes de energia com emissões zero líquidas e infraestrutura de energia limpa”.

    Ao contrário das principais petrolíferas europeias, incluindo Royal Dutch Shell (RDSA) e BP (BP), a Exxon e rival Chevron (CVX) não fizeram grandes investimentos em energia renovável.

    Em um comunicado, a Exxon disse que sua administração e diretores “regularmente se relacionam com nossos acionistas em uma variedade de tópicos e valorizam sua perspectiva construtiva”.

    “Continuamos a investir e a pesquisar tecnologias inovadoras que desempenharão um papel fundamental no tratamento de questões importantes relacionadas com a mudança climática”, disse a Exxon.

    A Exxon é vulnerável

    Em um sinal de quanta pressão a Exxon está enfrentando, a empresa anunciou na segunda-feira (14) que eliminará a queima de metano até 2030 e reduzirá a “intensidade” das emissões de sua produção de petróleo e gás em até 20% até 2025.

    “Respeitamos e apoiamos a ambição da sociedade de atingir emissões líquidas zero até 2050”, disse o CEO da Exxon, Darren Woods, em um comunicado.

    A Exxon também prometeu revelar as emissões de seus produtos, conhecidas como emissões de escopo 3. No entanto, a empresa não estabeleceu nenhuma meta para reduzir essas emissões indiretas e reconheceu que este relatório “não incentiva, em última análise, as reduções pelos emissores reais”.

    Os grupos climáticos não ficaram satisfeitos.

    “Este conjunto de compromissos teria sido de vanguarda cinco anos atrás”, escreveu Andrew Logan, diretor sênior de petróleo e gás da organização sem fins lucrativos de sustentabilidade Ceres, em um comunicado. Ele notou que rivais dos EUA, incluindo a Occidental Petroleum e ConocoPhillips (COP) foram mais longe, definindo metas líquidas de zero para suas emissões operacionais.

    “Este esforço da Exxon é insuficiente”, disse Logan.

    A Engine Nº 1 enfrenta uma batalha difícil para ganhar assentos no conselho da Exxon.

    Mesmo com o apoio do CalSTRS e da Church of England, os acionistas detêm apenas uma pequena fatia do que ainda é uma empresa de US$ 180 bilhões. O destino da batalha por procuração dependerá da Vanguard, State Street (STT) e BlackRock (BLK) Os três grandes gestores de ativos possuem quase um quinto das ações em circulação da Exxon.

    Mas os ativistas têm uma grande vantagem: uma base de acionistas profundamente insatisfeita. Além disso, se esses acionistas frustrados se unirem a grupos ambientais e investidores socialmente conscientes, a Exxon pode ter problemas.

    “É improvável que ação seja bem sucedida”, disse Glickman, o analista do CFRA. “Mas vai ser por pouco”.

    (Texto traduzido, clique aqui para ler o original em inglês).

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