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    Em aceno inédito, chefe do Fed diz que apoia alta de 0,25 ponto nos juros em março

    Segundo Jerome Powell, chair do Federal Reserve System, inflação alta e mercado de trabalho "extremamente apertado" justificam juros mais altos, apesar das incertezas da guerra na Ucrânia

    Chair do Fed, Jerome Powell
    Chair do Fed, Jerome Powell 22/06/2021. Graeme Jennings/Pool via REUTERS

    Thais Herédiada CNN

    Depois da crise financeira de 2008, os bancos centrais passaram a adotar uma comunicação cada vez mais transparente. Depois da pandemia, o que ainda era tratado com mensagens cifradas, ganhou fortes doses de realismo, com sinalizações claras sobre os próximos movimentos da taxa de juros.

    A guerra na Ucrânia adicionou uma novidade no posicionamento da autoridade monetária. Diante do choque de custos que pode impactar a inflação, que já estava no maior patamar dos últimos 40 anos, o presidente do Federal Reserve (Fed, banco central americano), Jerome Powell, resolveu antecipar o que vai propor no próximo encontro do Comitê de Política Monetária do BC americano.

    “Estou inclinado a propor uma alta de 0,25 ponto percentual. Estamos preparados para agir com mais agressividade, elevando os juros acima dos 25 pontos por uma ou mais reuniões e a inflação não cair até o final do ano como esperamos”, disse Powell em seu depoimento ao Congresso americano.

    Mas afirmou que o Fed está preparado para agir de forma mais agressiva posteriormente, caso a inflação não recue conforme o esperado. “Esperamos que seja apropriado aumentar a faixa-alvo para a taxa de juros em nossa reunião deste mês”, disse Powell, acrescentando que o Fed deve promover na sequência, ainda este ano, reduções em sua carteira de títulos do governo, atualmente de cerca de US$ 8,5 trilhões.

    “Sinalização necessária”

    Para o economista chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, esta sinalização aberta do chefe do Fed é positiva e não indica insegurança com o futuro.
    “Esta transparência é boa e demonstra confiança para enfrentar uma situação muito grave”, disse à CNN.

    Para Alexandre Lohmann, economista da Constância Investimentos, só na década de 80, depois do choque do petróleo, houve sinalizações desse tipo. Lohmann pondera que o quadro inflacionário já era preocupante antes da guerra, com uma pressão muito forte sobre o FeD para que os juros subissem com mais força. Agora, o cenário é outro.

    “Temos que entender o dilema que Powell já enfrentava antes da guerra. Agora, o Fed vai entregar uma alta de 0,25 p.p., que é menor do que o esperado há algumas semanas, mas se ele falasse o contrário, o mercado reagiria mal pensando que o Fomc não está tão preocupado com a inflação. Como não sabemos quanto tempo a crise vai durar, o Fed pode ser forçado a subir mais os juros e isso é preocupante não só pela desaceleração da atividade econômica, mas também pela instabilidade financeira que a guerra pode provocar”, disse à CNN.

    “Autoridade monetária evita antecipar o seu voto para não se comprometer. A decisão do BC acontece num momento e até que a próxima reunião aconteça, muita coisa pode acontecer que mude a percepção de risco, uma avaliação de conjuntura. Pelo jeito, parece que está bem certo que em março vai subir mesmo os 0,25 ponto. E isso está já ‘no preço’ do mercado”, disse Thomaz Sarquis, economista da Eleven Financial.

    Inflação persistente

    Em sua declaração inicial a parlamentares, Powell disse que as autoridades ainda esperam que a inflação arrefeça neste ano e contextualizou o início e a conclusão de suas observações com os acontecimentos na Ucrânia.

    A inflação “está agora bem acima do nosso objetivo de longo prazo de 2%. A demanda é forte, e gargalos e restrições de oferta estão limitando a rapidez com que a produção pode responder”, disse o chair do Fed.

    Ele acrescentou que essas interrupções no abastecimento foram “maiores e mais duradouras do que o previsto” e reafirmou a promessa do Fed de ser tão duro quanto necessário para trazer os preços de volta à meta.

    Embora se espere que algumas das pressões inflacionárias atuais diminuam ainda neste ano, “estamos atentos aos riscos de uma possível pressão adicional de alta”.

    “Usaremos nossas ferramentas de política monetária conforme apropriado para evitar que a inflação mais alta se enraíze”, disse Powell. “Os efeitos de curto prazo na economia dos EUA da invasão da Ucrânia, a guerra em andamento, as sanções e os eventos futuros permanecem altamente incertos.”

    “Fazer uma política monetária apropriada neste ambiente requer o reconhecimento de que a economia evolui de maneiras inesperadas. Precisaremos ser ágeis na resposta aos próximos dados e à evolução das perspectivas”, acrescentou.

    *Com Reuters