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    Eleições, inflação e juros vão atrapalhar cenário para IPOs, dizem especialistas

    Até o momento, quatro companhias desistiram de realizar a oferta: Monte Rodovias, Ammo Varejo, Dori Alimentos e Environmental ESG

    B3 em São Paulo
    B3 em São Paulo REUTERS/Amanda Perobelli

    Artur NicoceliSofia Kercherdo CNN Brasil Business

    São Paulo

    As companhias que querem realizar IPOs e follow-ons neste ano podem ter que enfrentar um cenário não tão favorável quanto o de anos anteriores, ao menos no Brasil.

    Por aqui, devem pesar três grandes fatores para esse contexto menos convidativo: a inflação em alta, a taxa básica de juros e as eleições presidenciais.

    Tradicionalmente, anos eleitorais refletem no mercado de ações com alta da volatilidade e, diante de incertezas, com a queda no número de emissões.

    “A volatilidade este ano é, portanto, amplamente esperada e deve, sim, impactar o desempenho das ofertas”, afirma Daniel Bassan, CEO do UBS BB.

    Em uma situação considerada ideal para os agentes de mercado, o candidato com mais chances de ganhar as eleições deve se comprometer com a responsabilidade fiscal, trazer regras claras de política econômica, apostar em privatizações e indicar que vai trabalhar para controlar os preços em alta, diz Eduardo Cavalheiro, economista e gestor da Rio Verde Investimentos.

    Qualquer cenário diferente desse irá estressar os mercados. “A vitória de um projeto político que agrade aos agentes econômicos deve gerar uma antecipação favorável dos benefícios econômicos esperados para os quatro anos de mandato do futuro presidente”.

    Em 2021, a bolsa de valores brasileira encerrou o ano com 45 ofertas primárias e 26 ofertas secundárias, movimentando R$ 126,9 bilhões.

    A maior oferta primária do ano foi da companhia produtora de açúcar e etanol e de distribuição de combustíveis e geração de energia Raízen, em 4 de agosto, que levantou R$ 6,7 bilhões. Já a maior oferta secundária foi a Vibra (ex-BR Distribuidora) que, em 30 de julho, levantou R$ 11,35 bilhões.

    Inflação e Selic

    Enquanto as taxas de juros continuarem pressionadas para conter a inflação no Brasil, diz Arley Matos da Silva, advisor de investimentos do Santander, investimentos em renda fixa pós-fixada vão atrair cada vez mais investidores.

    Para Vitor Saraiva, responsável pela área de mercado de capitais da XP, o aumento da taxa de juros será um dos principais fatores de influência nos IPOs e na bolsa como um todo em 2022.

    “Pelas nossas observações em captação de assets, resgates, sentimento do investidor local, a questão da taxa Selic para as ofertas públicas será até mais impactante que as eleições.”

    O mercado já espera que a Selic chegue a 11,75% no fim de 2022, ante os atuais 9,25% anunciados na última reunião do Copom, em dezembro. O atual ciclo de aperto monetário começou em março do ano passado, quando a taxa foi de 2%, em sua mínima histórica, para 2,75%.

    A ofensiva do BC vem à medida que a inflação oficial já ultrapassa os 10% ao ano, muito acima do teto da meta, de 5,25%.

    Destaques do ano

    Para este ano, o CEO do UBS BB acredita que setores ligados a commodities ou empresas de alto crescimento podem ser os principais destaques para este ano.

    Porém, ele adverte que em um ano com maior volatilidade como 2022, os investidores preferem ativos com maior liquidez onde conseguem montar e desmontar posições mais facilmente.

    “Por isso, mais do que setores específicos, o tamanho da oferta e liquidez no mercado secundário serão muito relevantes para o sucesso de qualquer oferta”, afirma.

    Ele também não vê nenhum setor específico sendo impedido de migrar para a bolsa, “já que ainda há uma escassez muito grande de empresas listadas no Brasil e há apetite dos investidores por empresas com boa liquidez e potencial de crescimento, independentemente do setor”.

    Já para Saraiva, os setores que estão se destacando esse ano na bolsa são o financeiro e o agro. Em contrapartida, setores como varejo e tecnologia estão com uma performance pior.

    “Isso não significa que esses setores, necessariamente, tenham mais ou menos ofertas a caminho. Só o agro talvez possa ser uma exceção. Eles têm empresa para apresentar ao mercado, e estão performando bem este ano”, diz.

    Em relação a 2021, Saraiva acredita que, com previsões otimistas, teremos entre 60% e 70% da quantidade de emissões esse ano.

    Vitor diz que tanto o número de IPOs quanto de follow-ons devem cair, mas que as ofertas secundárias devem ter um 2022 melhor, por terem mais apelo no cenário.

    “Esse começo de ano ainda é muito volátil. Ano passado, tínhamos estimativas no começo, meio e fim de ano — fomos calibrando e conseguindo projeções. Mas esse ano é muito incerto”, reforça.

    Neste ano e até a publicação desta matéria, segundo o levantamento do CNN Brasil Business, nenhuma companhia solicitou uma listagem à CVM (Comissão de Valores Mobiliários) ou teve a operação aprovada pelo órgão. Apenas quatro companhias desistiram de realizar a oferta: Monte Rodovias, Ammo Varejo, Dori Alimentos e Environmental ESG.

    Migração aos EUA

    Bassan também enxerga que muitas empresas estão avaliando abrir capital via IPO nos Estados Unidos ou até mesmo migrar a listagem atual do Brasil para o mercado norte-americano.

    “A maior parte das companhias avalia esse movimento para terem acesso a uma maior base de investidores, o que pode se traduzir em uma maior valorização das ações, assim como em uma menor volatilidade do preço dos papéis no mercado secundário”, explica o especialista.

    Em 9 de dezembro, por exemplo, o banco digital Nubank realizou sua estreia na Bolsa de Valores de Nova York. Os ativos foram precificados a US$ 9 e, desde então, já desvalorizaram mais de 25%.

    O CEO do UBS BB declarou que não tem uma estimativa sobre as companhias que vão optar pelo mercado internacional.

    Saraiva, por sua vez, acredita que esse movimento não pode ser considerado uma tendência. Ele vê as aberturas fora do país como estruturais das empresas, que já se planejam há anos para abrir capital nos EUA.

    “Quando eu olho para as dezenas de operações que tentaram fazer IPOs ano passado, ou que pretendem fazer esse ano ou até em 2023, não vejo uma amostra significativa migrando para os EUA”, diz.

    “O que eu vejo é que as operações que estão acontecendo lá fora estavam planejadas, desde sempre”, comenta.