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    Economia dos EUA enfrenta diferentes frentes de instabilidade: como isso pode impactar o Brasil

    Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (banco central dos EUA), discursa nesta quinta para dar mais indicações sobre juros do país

    Principal temor global é de mais aumentos na taxa básica de juros americana
    Principal temor global é de mais aumentos na taxa básica de juros americana vwalakte/Freepik

    Iasmin Paivada CNN

    São Paulo

    Os mercados globais operam em compasso de espera por novas sinalizações sobre a economia dos Estados Unidos. Desde a semana passada, o principal temor é de mais aumentos na taxa básica de juros americana.

    Leandro Consentino, professor de ciência política do Insper, explica que o cenário econômico da maior economia do mundo se encontra em um momento de forte incerteza, que é decorrente do fato de a pandemia não ter sido bem administrada pelo governo desde início. 

    “Estamos falando do centro financeiro do mundo, tendemos a disseminar os problemas dos EUA para todo o globo”, avalia o professor.

    O Federal Reserve (Fed), banco central dos EUA, tem como objetivo trazer a inflação do país para a meta de 2%. Para isso, tem elevado a taxa básica de juros do país, em um ciclo de aperto monetário que começou em 2022.

    Na última quarta-feira (20), o Fed manteve os juros na faixa dos 5,25% a 5,5% ao ano, o maior nível em 22 anos. Em comunicado, a instituição sinalizou que pode voltar a um aperto na política monetária, com novos aumentos nos juros.

    A expectativa dos mercados globais, agora, é pelo discurso de Jerome Powell, presidente da autarquia americana, e pelos dados de inflação de agosto.

    Ele fala nesta quinta-feira (28), e espera-se que traga mais informações sobre o andamento da política monetária do país. Na sexta-feira (29), será publicado os dados de inflação do mês passado.

    Enquanto isso, crescem os temores de que a taxa básica de juros do país se mantenha elevada por mais tempo, o que fez com que o dólar disparasse nos últimos pregões, superando a marca dos R$ 5 aqui no Brasil.

    Bruno Musa, analista da Aqua-Vero Investimentos, avalia que os ajustes na economia americana seguirão ocorrendo nos próximos meses, isso porque existem US$ 7 trilhões em circulação no país a mais do que no período pré-pandemia.

    Com uma base monetária muito grande [em circulação] é difícil trazer a inflação mais para baixo sem passar por algum tipo de adversidade”, pontua.

    Outro problema que os EUA estão enfrentando é o aquecimento da economia, lembra Thiago Oliveira, assessor na iHUB Investimentos. 

    Oliveira explica que os últimos dados do Índice de Gerentes de Compras (PMI) – que mede o desempenho da atividade industrial e de serviços no país – vieram acima dos 50 pontos, mostrando que o país ainda possui uma demanda muito forte, o que corrobora com o aumento da inflação.

    “Enquanto os dados dos EUA não melhorarem, o Fed não deve baixar os juros, eles fizeram uma manutenção na semana passada, mas já deixaram claro que os juros podem subir, se for necessário.”

    Além da política monetária, outros fatores pontuais têm impactado a economia americana, como a maior greve de trabalhadores ativos do país e o risco de paralisação do governo. A iminência de eleições presidenciais, que ocorrem no próximo ano, também colabora para o aumento do clima econômico incerto.

    Maior greve em 25 anos

    A indústria automobilística dos Estados Unidos enfrenta um desafio histórico.  Os contratos do United Auto Workers – UAW (Sindicato dos Trabalhadores Automotivos em tradução literal) expiraram no último dia 14 de setembro.

    Os contratos abrangem 145.000 membros do UAW das três empresas General Motors, Ford e Stellantis, que fabricam veículos das marcas Jeep, Ram, Dodge e Chrysler para a América do Norte.

    Sem acordo alcançado até o término do contrato, o sindicato iniciou greves direcionadas contra três instalações – uma de cada empresa. Essa é a maior greve de trabalhadores ativos no país nos últimos 25 anos.

    Volnei Eyng, CEO e economista da gestora e securitizadora Multiplike, explica que a greve é resultado de uma perda salarial que a mão de obra dessa indústria está enfrentando, já que a inflação está corroendo o poder de compra desses consumidores. 

    Thiago Oliveira avalia que a greve pode representar um risco para as fábricas, não conseguem fazer as peças, interferindo em outros serviços que podem ficar no prejuízo. “Isso serve para qualquer tipo de greve, quem distribui vai repassar esse aumento para o consumidor final.

    Paralisação do governo

    Os departamentos e agências federais iniciaram, nesta semana, o processo obrigatório de planejamento para suspender funções não essenciais, enquanto o Congresso permanece em um impasse sobre um acordo de financiamento.

    O Escritório de Gestão e Orçamento lembrou os funcionários do alto escalão da agência para atualizar e revisar os planos de um “shutdown”.

    Se o Congresso não conseguir aprovar uma lei de despesas de curto prazo para manter o funcionamento dos serviços, uma paralisação poderá ter enormes impactos em todos os americanos, em áreas que vão desde as viagens aéreas até a água potável.

    Bruno Musa explica que esse risco se trata de uma disputa política por orçamento e gastos públicos que acontece todos os anos, mas em alguns é mais acirrado. 

    “Os EUA precisam de aprovação do Congresso para aumentar o teto de gastos, para manter a máquina pública, pagar salários, aposentadoria, etc. Se atingem o teto e não podem gastar mais, a maquina pública para”, explica. 

    Os investidores globais monitoram as negociações para evitar uma paralisação do governo, o presidente Joe Biden tem até a meia-noite do próximo sábado (30) para sancionar alguma proposta.

    Eleições 2024

    Outro fator que traz mais instabilidade para o contexto político-econômico dos EUA é a eleição presidencial de 2024.

    O professor Consentino avalia que um cenário bastante provável é uma segunda disputa entre Biden e Trump no fim do próximo ano.

    “O atual presidente está muito deslegitimado, não tem popularidade e encontra dificuldade por conta do cenário econômico que ele se encontrou. Tudo isso colabora para termos uma nova disputa repaginada de quatro anos atrás.”  

    “Eleições é um fator que traz mais instabilidade, e os elementos em disputa estão precificados na questão econômica”, pontua. 

    E o Brasil

    Por ser a maior economia do mundo e o centro financeiro global, uma instabilidade nos EUA tem efeitos no mundo todo, destaca Consentino.

    No Brasil, a alta taxa de juro norte-americana reflete na saída de investidores que buscam a segurança e rentabilidade dos EUA, explica Adilson Seixas, CEO da Loara Crédito. 

    “Se o Fed continuar aumentando a taxa de juro do mercado americano, poderá impactar negativamente no Brasil, com a desvalorização da moeda brasileira frente ao dólar, potencial elevação da inflação doméstica, saída de capitais do Brasil e uma provável queda no preço de commodities – diante da menor demanda por insumos básicos”, conta.

    Além disso, o especialista diz que a alta da taxa de juros nos Estados Unidos e em outros países desenvolvidos aponta para uma desaceleração da economia mundial.

    Isso porque, quando os juros sobem, torna-se mais caro para as empresas e famílias tomar empréstimos, o que diminui a atividade econômica. “A desaceleração da economia mundial diminui a demanda por bens e serviços, e reduz as exportações brasileiras”, explica. 

    Veja também: Fed eleva juros dos EUA para maior nível em 22 anos