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    Dívidas em contas de serviços básicos batem recorde; veja como se organizar e evitar cortes no fornecimento

    Segundo levantamento da Serasa, contas de água, luz, gás e telefone representaram, em agosto, 24,5% das dívidas dos brasileiros, maior percentual desde o início da série, em 2019

    Luiza Palermoda CNN*

    São Paulo

    Os juros altos, dívidas acumuladas, desemprego e salários reduzidos são alguns dos motivos que podem levar uma pessoa a se desorganizar financeiramente e cair na inadimplência. 

    Segundo dados do Mapa da Inadimplência e Renegociação das Dívidas da Serasa, as famílias brasileiras estão atrasando o pagamento de contas básicas, como água, luz, gás e telefone, em níveis inéditos.

    Em agosto, essas despesas representaram 24,5% das dívidas da população, sendo o maior patamar para esse tipo de conta desde o início da série histórica, em 2019.

     

    Ainda de acordo com o relatório, as contas básicas de água, luz e gás representaram um crescimento significativo entre os segmentos das dívidas, com um aumento de 0,53 ponto percentual (p.p.) em agosto, e de 2,97 p.p. desde o início deste ano.

    Vale lembrar que a inadimplência é o resultado do endividamento em excesso, quando uma pessoa tem uma obrigação financeira e não consegue pagá-la no prazo estabelecido.

    Já a dívida refere-se justamente a uma obrigação financeira ou valor monetário que uma pessoa deve a outra entidade.

    “A inflação de alimentos, os juros altos em cartões de crédito e empréstimos bancários, a corrosão do poder de compra somados a quatro anos sem aumento real de salários, mostram um consumidor cada vez mais enrolado e tendo que escolher qual conta pagará no fim do mês, a comida ou a conta de luz”, diz o documento.

    O educador financeiro Fernando Lamounier explica que a instabilidade da economia do país é um “agente dificultador” de um padrão de vida financeiramente saudável aos brasileiros.

    “A alta inadimplência deve-se à situação dos salários baixos e desemprego elevado”, contextualiza.

    Lamounier ainda destaca o mau uso do cartão de crédito, encarado por muitos como um valor adicional no orçamento mensal. Com isso, os juros só pioram o cenário de desorganização financeira.

    “As pessoas vêm utilizando a modalidade para compras do dia a dia e a capacidade de parcelamento levou-as a acreditar que, ao dividir uma compra, a dívida fica menor, quando na realidade antecipa as dívidas do próximo mês”, destaca o especialista.

    Veja aqui se vale a pena pagar compras de supermercado com cartão de crédito. 

    Uma pesquisa da Serasa mostrou que alguns brasileiros escolhem quais contas vão atrasar, e que mais da metade possui dois ou mais cartões de crédito por pessoa.

    Para Leticia Camargo, planejadora financeira certificada CFP®, o cenário atual de mais pessoas acumulando dívidas em contas básicas também se relaciona com a pandemia da Covid-19 que, no auge do isolamento social, obrigou muitos trabalhadores a deixarem seus trabalhos, e que também levou ao aumento da inflação.

    “Com esse aumento de inflação também houve o aumento de juros, e isso dificulta para quem tem que comprar um geladeira parcelada, por exemplo, e vai ter que pagar parcelas mais altas”, explica.

    A especialista também pontua que a inadimplência com contas básicas pode ser um sinal de que a pessoa já está em uma situação financeira agravada.

    “Normalmente, quando chega nesse estágio de não conseguir pagar uma conta de luz ou de telefone, e esse serviços são cortados, é porque a pessoa realmente já está com bastante dívida”.

    Organização

    Confira a seguir as dicas de Lamounier para se organizar financeiramente e sair do vermelho:

    • Mapear renda total, isto é, salário e rendas extras;
    • Separar as despesas fixas no orçamento, como aluguel, condomínio, internet e contas de serviços públicos (água, luz, gás);
    • Esquematizar as despesas variáveis, como alimentação, transporte e gastos com saúde;
    • Organizar dívidas e pagamentos, como parcelas de empréstimos e cartão de crédito.

     

    Camargo também acrescenta a importância de organizar receitas e despesas para visualizar melhor o dinheiro disponível. O método ajuda a planejar o pagamento das contas e cortar os gastos.

    Segundo a especialista, quando o inadimplente começa a ter mais cuidado com as contas, há melhora na tomada de decisões, como optar por não gastar com coisas que não são necessárias ou buscar alternativas mais baratas.

    “Quando você começa a cuidar dos seus recursos financeiros, do seu dinheiro, de quanto você ganha e quanto você gasta, você percebe que aquele dinheiro também é limitado e escasso. Ele tem um valor fixo no mês que você vai ter que usar da melhor forma”, explica.

    Inadimplência no Brasil

    Após dois meses em queda, o número de inadimplentes no Brasil voltou a subir, de acordo com o levantamento da Serasa.

    Somente no mês de agosto, mais de e 320 mil novas pessoas ficaram sem conseguir pagar suas dívidas. O valor médio dos débitos por pessoa subiu 0,5%, passando para R$ 4.948.

    O Rio de Janeiro é o estado com maior número de pessoas endividadas, com 53,17% da população adulta possuindo débitos em atraso. O nível está acima da média nacional, de 42,56%.

    Além disso, mais de 7,2 milhões de fluminenses estão inadimplentes, com valor médio para cada acima de R$ 5.000.

    Já o Piauí foi o estado com a menor porcentagem de inadimplentes, com 34% a população adulta nessa situação.

    Desde julho, com o início do Desenrola, o programa de renegociação de dívidas do governo federal, os números de inadimplência no Brasil vem mudando.

    Por um lado, o programa diminui o peso da inadimplência nos bancos e nos cartões de crédito. Porém, como mostra o levantamento da Serasa, aumentou o calote nas contas de luz, água e de telefone.

    Em junho, o último mês antes do Desenrola, a pesquisa estima que 31,1% dos brasileiros inadimplentes estavam nos bancos e cartões de crédito. Esse percentual caiu para 29,3% no mês de agosto.

    Já referente a participação da inadimplência em contas básicas o número de pessoas nunca foi tão grande, sendo que em junho foi de 22%, enquanto que em agosto, o percentual aumentou para 24,5%.

    O percentual recorde fica ainda mais alarmante em meio ao momento de ondas de calor extremas, em que as famílias tendem a gastar mais energia elétrica, especialmente pelo uso de ventiladores e ar-condicionado.

    Uma pesquisa da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) mostra que, atualmente, existem 13,5 milhões de aparelhos de ar-condicionado espalhados pelas casas brasileiras, resultando em uma média de 0,18 aparelho por casa, ou seja, cerca de 20% das residências no país possuem um equipamento deste tipo.

    Além disso, o aparelho de ar-condicionado já responde por 17% do consumo de energia elétrica das residências brasileiras, então quase um quinto das contas de luz do Brasil são por causada do aparelho.

    *Com informações de Fernando Nakagawa, analista de economia da CNN.

    Veja também: Dívidas em contas de serviços básicos batem recorde no Brasil