Dilma se reúne com presidentes da Rússia e da África do Sul para “tratar de expansão do banco dos Brics”
De acordo com comunicado da presidente do Novo Banco de Desenvolvimento, conhecido como banco dos Brics, a instituição não está considerando empréstimos à Putin em meio às sanções ocidentais
A presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), Dilma Rousseff, confirmou sua reunião nesta quarta-feira (26) com os presidentes da Rússia e de países africanos, mas ressaltou que o chamado “banco dos Brics” não vai ajudar a Rússia a fazer frente às sanções ocidentais.
Ela havia assegurado que o banco cumpriria suas obrigações com “todos os membros fundadores, incluindo a Rússia”, quando recebeu em maio o primeiro-ministro russo, Mikhail Mishustin. Mas, segundo fontes em Xangai, a China bloqueou esse movimento para evitar que o banco se tornasse alvo das sanções americanas e europeias.
“O NDB reiterou que não está considerando novos projetos na Rússia e opera em conformidade com as restrições aplicáveis nos mercados financeiros e de capitais internacionais”, afirma nota à imprensa publicada por Dilma em sua página no X, o antigo Twitter. “Quaisquer especulações sobre tal assunto são infundadas.”
Dilma acrescenta que foi a São Petersburgo discutir com os presidentes russo, Vladimir Putin, e sul-africano, Cyril Ramaphosa, a próxima cúpula dos Brics, que será realizada entre 22 e 24 de agosto em Johannesburgo, África do Sul.
Ela diz ainda vai tratar da expansão do NDB “e outros assuntos”. E que vai se reunir também com governantes de outros países africanos, que estão na cidade russa para uma cúpula com Putin nesta quinta e sexta-feira.
O presidente russo não poderá comparecer à cúpula dos Brics, porque foi avisado por Ramaphosa que seria preso, em cumprimento ao mandado do Tribunal Penal Internacional, por causa do rapto e deportação forçada de crianças ucranianas para a Rússia e Belarus.
Além de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, os sócios originais, o banco acolheu Bangladesh, Egito e Emirados Árabes Unidos. Pela declaração de Dilma, a instituição deve continuar expandindo. Fala-se na entrada de Argentina, Venezuela, Arábia Saudita, Irã e Argélia.
Um dos temas principais da cúpula Rússia-África é a saída russa do acordo de grãos. A decisão de Putin, anunciada na semana passada, interrompeu o fornecimento de trigo da Rússia e da Ucrânia para os países africanos, que são muito dependentes do cereal exportado por ambos. Desde dezembro de 2021, a Rússia bloqueia o Mar Negro, por onde a Ucrânia escoava seus produtos.
Putin prometeu dar trigo de graça para os africanos se necessário, para aplacar a frustração de tradicionais aliados, que têm se abstido ou votado contra resoluções da ONU condenando a invasão da Ucrânia.
O outro tema importante são as consequências do motim promovido pelo grupo mercenário russo Wagner. O grupo é contratado por vários países africanos para defendê-los de grupos armados insurgentes, sobretudo jihadistas. Nesta quarta-feira mesmo, a guarda presidencial do Níger promoveu um golpe de Estado. O país enfrenta duas rebeliões jihadistas simultaneamente.
Putin, que selou um acordo com o dono do Wagner, Yevgeny Prigozhin, deve assegurar que nada muda nas operações do grupo na África. Elas são fonte de receitas milionárias não só para Prigozhin, mas para o próprio Putin, e garantem uma forte projeção da Rússia sobre o continente africano.