Crise nos bancos faz investidores se voltarem a ativos como vinho e criptomoedas
Relatório anual da consultoria imobiliária Knight Frank mostrou que 39% dos indivíduos com patrimônio líquido ultraelevado provavelmente investirão em vinho este ano
O colapso do Silicon Valley Bank no início deste mês foi um grande golpe para as empresas de vinho e criptomoedas que confiavam seu dinheiro e dependiam do credor para se manterem à tona.
Mas também deu um grande impulso a essas indústrias, à medida que investidores em pânico saíram do setor financeiro e investiram em ativos alternativos.
O SVB emprestou mais de US$ 4 bilhões a clientes de vinícolas desde 1994, com mais de 400 clientes da indústria do vinho (incluindo vinícolas, vinhedos e fornecedores) trabalhando com a divisão de vinhos premium do banco, segundo o site da companhia.
Documentos recentes da SEC, enquanto isso, indicavam que o SVB tinha cerca de US$ 1,2 bilhão em empréstimos pendentes para clientes de vinhos sofisticados quando o banco quebrou.
Essas vinícolas poderão recuperar seu dinheiro, mas o que acontecerá com suas linhas de crédito ainda é incerto, à medida que os detalhes da venda do banco para o First Citizens BancShares são acertados.
O SVB também tinha laços profundos com a indústria de criptomoedas. A Circle, a empresa por trás da popular stablecoin USDC, disse ter cerca de US$ 3,3 bilhões de seus US$ 40 bilhões em reservas no SVB. A moeda USDC da empresa despencou de valor com a notícia de que o banco havia falido, embora tenha se recuperado desde então.
O colapso do Signature Bank, um grande credor de criptomoedas, também teve sérias implicações para o setor. A Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC) falou recentemente aos clientes cripto do banco que eles devem fechar suas contas e movimentar seu dinheiro até 5 de abril, já que os depósitos não foram incluídos no acordo de resgate acertado com o Flagstar Bank neste mês.
Ainda assim, o bitcoin teve alta de mais de 4% na quarta-feira (29), marcando seu melhor desempenho em mais de uma semana. A moeda subiu 23% este mês. Uma unidade agora custa mais de US$ 28 mil – seu nível mais alto desde o outono passada.
Isso ocorre porque os investidores estão preocupados com a segurança do sistema bancário dos EUA e procuram uma maneira de proteger seu dinheiro fora dele, disseram os defensores das criptomoedas.
“Bitcoin e outras criptomoedas são construídas em um blockchain, uma estrutura descentralizada que não é controlada por apenas uma entidade”, disse Karan Malik, chefe de Estratégia Web3 da Legacy Suite. “O argumento para a descentralização e a adoção da criptomoeda tornou-se mais válido após o colapso dos bancos.”
Cathie Wood, fundadora da Ark Investment Management, disse em um tweet que o aumento nas criptomoedas não é surpreendente. “Seus blockchains são descentralizados, transparentes e auditáveis. Os bancos não o são e, nos últimos dias, tornaram-se menos”, afirmou.
Os investimentos em vinhos finos também aumentaram à medida que a confiança dos investidores no sistema bancário foi abalada.
“O desempenho do vinho fino em diferentes cenários de mercado demonstra sua capacidade de gerar alfa [investimentos que superam expectativas de rendimento] e melhorar retornos ajustados ao risco em um portfólio diversificado devido à sua estabilidade e baixa correlação com o mercado de ações”, disse o CEO e cofundador da Cult Wine Investment, Tom Gearing.
O Knight Frank Wealth Report, uma análise anual da consultoria imobiliária, descobriu que 39% dos indivíduos com patrimônio líquido ultraelevado provavelmente investirão em vinho este ano.
“O interesse em alternativas está aumentando e será onde a riqueza crescerá na próxima década”, disse o relatório.
Outros investimentos seguros, como o ouro, dispararam após os colapsos do SVB e do Signature Bank. O preço à vista do ouro subiu 7,4% no mês, embora tenha se estabilizado nos últimos dias. A prata subiu 11% no mês.
O mercado percebe que estamos “entrando em uma contração no crédito, nos lucros e na recessão que causará o ciclo de inadimplência”, disse Mark Connors, chefe de pesquisa da empresa de gerenciamento de ativos digitais 3iQ, em nota. “Então, quando isso acontecer, para quais ativos você irá?” ele perguntou. “O [Tesouro] de 10 anos está em alta, o ouro está em alta, o iene está em alta – e o Bitcoin está em alta.”
Então, o aumento dos investimentos alternativos durará?
O Goldman Sachs estimou esta semana que as famílias serão vendedores líquidos de US$ 750 bilhões em ações em 2023 e que as empresas comprarão US$ 350 bilhões líquidos em ações em 2023, uma desaceleração de 47% em relação a 2022.
Mas o governo federal, o FDIC e o Federal Reserve Bank têm trabalhado para garantir aos investidores e clientes que o sistema financeiro dos EUA está seguro. Investimentos alternativos em cripto, vinhos e metais, entretanto, vêm com sua própria volatilidade e risco.