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    País poupa mais e capacidade para investir fica positiva pela 2ª vez em 14 anos

    Volume de dinheiro guardado no 2º trimestre superou o total de investimentos produtivos, algo que só tinha acontecido em um trimestre desde 2016

    Auxílio emergencial segurou queda da renda, e isolamento social colaborou para redução no consumo
    Auxílio emergencial segurou queda da renda, e isolamento social colaborou para redução no consumo Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

    Juliana Elias, do CNN Brasil Business, em São Paulo

    A queda colossal no consumo causada pela recessão do novo coronavírus no Brasil fez com que o nível de poupança do país – tudo o que é guardado da renda e da receita das pessoas, empresas e do governo – subisse no segundo trimestre de 2020. É o que mostraram os dados do Produto Interno Bruto (PIB) do país divulgados na semana passada.

    O fenômeno é bastante contraintuitivo, dado que a renda e o emprego despencaram e o esperado nessas situações é que as pessoas gastem suas reservas e se endividem para seguir pagando o básico. Mas o fato é que, sim, a renda caiu, mas o consumo caiu ainda mais.

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    O aumento de poupança também ajudou a causar um fenômeno bastante raro na economia brasileira: no segundo trimestre, sobrou dinheiro para investir no país. Essa “sobra” é medida pelo que os economistas chamam de capacidade de financiamento, um dos indicadores que fazem parte das estatísticas do PIB. Desde 2006, ela só tinha ficado positiva em um único trimestre, em 2017. Nesse sentido, trata-se de uma boa notícia.

    A capacidade de financiamento da economia, de maneira simplificada, é a diferença entre tudo o que pessoas, empresas e governo poupam e tudo o que investem, considerados os investimentos produtivos, como compra de máquinas e obras de infraestrutura. São esses investimentos que aumentam a produtividade e a capacidade do país de crescer, mas eles precisam de poupança para ser financiados. 

    O governo, por exemplo, se financia com o que pessoas e instituições aplicam em títulos públicos. Já as empresas se financiam com o capital de suas ações vendidas na bolsa ou com empréstimos concedidos pelos bancos — que, por sua vez, se financiam com os recursos aplicados pelos investidores ou poupadores.

    “A capacidade de financiamento mostra que tem dinheiro, onde quer que ele esteja, disponível na economia para ser usado para financiar investimentos”, explica o economista-chefe da consultoria MB Associados, Sérgio Vale. 

    “No geral, os países que têm taxas elevadas de poupança têm também taxas elevadas de investimento. É o caso da China, da Coreia do Sul ou do Chile, entre os latinos. Ter poupança elevada significa ter um volume grande de recursos disponíveis, e acaba permitindo taxas de juros mais baixas para esses financiamentos.”

    O Brasil, como diversos outros países, fica historicamente negativo nessa conta, o que significa que poupa pouco e que não existe no país dinheiro suficiente para financiar todos os investimentos que são realizados. As consequências são aumento do endividamento e dependência de recursos vindos do exterior para fechar a conta, além de níveis baixos de investimento. 

    No segundo trimestre, essa “sobra” da capacidade de financiamento foi de R$ 37,2 bilhões, o equivalente a 2,2% do PIB. Há um ano, a conta era negativa em R$ 25 bilhões ou 1,4% do PIB. 

    De acordo com Sérgio Vale, entretanto, o mais provável é que essa situação superavitária seja passageira, e, tão logo as incertezas diluam e o consumo retome, o país deve voltar ao perfil original de gastar mais, poupar pouco e seguir não investindo muito.

    Os dados mais recentes do PIB apontaram que o total poupado no país chegou a 15,5% do PIB no segundo trimestre. É o nível mais alto desde 2015. Os investimentos, por sua vez, ficaram em 15%. No mesmo trimestre em 2019, o país investia 15,3% e poupava 13%.

    Em ambos os casos, são níveis ainda bem baixos se comparados aos períodos de bonança do passado: entre 2004 e 2014, no auge do “boom” de commodities que inundou o Brasil de dinheiro, tanto a poupança quanto os investimentos chegavam a 20% do PIB.

    Por que a poupança aumentou em tempos de crise?

    A diferença entre renda e consumo é medida em poupança , que são as reservas que podem ter ido tanto para as diversas aplicações financeiras (como caderneta de poupança ou bolsa de valores) quanto simplesmente para debaixo do colchão. 

    A razão para o aumento inusitado nos níveis de poupança passa por particularidades desta crise sanitária, como a injeção bilionária de recursos do auxílio emergencial, que ajudou a renda total a não cair tanto, e as restrições de circulação do isolamento social, que obrigaram todos a sair menos e a gastar menos.

    O economista-chefe do Banco Fator, José Francisco Gonçalves, explica que esse aumento de poupança, neste momento de fraqueza da economia, é um dos fatores que redundam em mais recessão. Afinal, é um dinheiro que deixou de circular, colaborarando para que o PIB tivesse o pior trimestre da história.  

    “O aumento de poupança diz que há uma parte da renda que não foi consumida, é um dinheiro que está no bolso de quem quer que seja que tenha consumido menos do que o que teve de renda”, disse.

    “Quando você gasta uma parte de sua renda, ela vira a renda de outra pessoa, e é desse fluxo que depende a economia. Se a poupança aumenta, há um pedaço de riqueza que saiu da economia, e isso inibe um crescimento mais rápido.”

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