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    Corte nos juros pelo Banco Central será devagar devido ao cenário internacional, diz economista

    Assim como outras economias da América Latina que começaram o aperto monetário mais cedo, Brasil se prepara para reduzir Selic

    Terça-feira (20) começa a reunião do Copom, com a decisão divulgada na quarta-feira (21)
    Terça-feira (20) começa a reunião do Copom, com a decisão divulgada na quarta-feira (21) FILEDIMAGE

    Diego Mendesda CNN

    São Paulo

    Na próxima terça-feira (20), começa a reunião Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), com a decisão publicada na quarta-feira (21). A expectativa de analistas é de que a autoridade monetária mantenha a taxa de juros em 13,75% ao ano.

    Segundo economistas ouvidos pela CNN, todos os fatores econômicos que estão acontecendo no Brasil são positivos para a autoridade monetária. Porém, o cenário internacional preocupa.

    Segundo Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, o contexto externo de altas de juros em países com uma economia forte, como Estados Unidos e União Europeia, não irá possibilitar um movimento de corte muito rápido aqui no Brasil.

    “A gente vai ver um início de movimento, mas talvez não acelerado, como seria em outros momentos, devido essa questão do diferencial de juros que mexe no fluxo internacional de investimentos”, diz.

    “Se você tem um juros subindo nos Estados Unidos e caindo no Brasil ou em outras economias emergentes, você desincentiva a deixar o dinheiro aqui e incentiva a estar lá”, explica Cruz.

    O economista diz que, assim como o Brasil, outras economias da America Latina que começaram o aumento de juros mais cedo estão se preparando para começar a cortar juros.

    Cenário diferente do Japão, que manteve a política monetária ultrafrouxa nesta sexta-feira (16), apesar da inflação mais forte do que o esperado, sinalizando que continuará sendo uma exceção entre os bancos centrais globais e que se concentrará no apoio à recuperação econômica.

    Como esperado, o banco central japonês manteve sua meta de taxa de juros de curto prazo de -0,1% e um limite de 0% no rendimento dos títulos de 10 anos, definido sob sua política de controle da curva de rendimento.

    A decisão contrasta com a do Banco Central Europeu, que elevou os custos dos empréstimos para o maior nível em 22 anos na quinta-feira (15) e sinalizou a probabilidade de novos aumentos. A taxa subiu 0,25 ponto percentual, a 3,5%.

    Também nesta semana, o Federal Reserve sinalizou na quarta-feira (14) que ainda não encerrou sua luta contra a inflação nos Estados Unidos. O BofA Global Research espera mais dois aumentos de juros de 0,25 ponto percentual pelo Fed neste ano, enquanto o J.P. Morgan vê mais um aumento em julho, depois que o banco central norte-americano sinalizou que novas altas podem ser necessárias.

    Economias interligadas

    Gustavo Cruz espera que o país terá esse ciclo de queda começando em breve, e que o movimento deve ser longo.

    “Não vai ser pouca coisa que vai ser cortada de juros aqui, justamente para subir bastante em outras economias também. E é importante que as economias avançadas continuem a reduzir sua inflação via política monetária, porque uma parte considerável dos itens hoje, de posse de qualquer inflação do mundo, são globalizados.”

    Ele explica que, como se viu no ano passado — quando houve um choque na Ucrânia — a inflação do mundo inteiro é impactada via preços de alimentos e via combustíveis.

    “Quando a China fecha seus portos, bate no mundo inteiro com insumos mais caros. Não porque não estão chegando com frete mais caro, mas sim porque ele não estão saindo da China. Então, é importante, sim, que essas economias sejam bem sucedidas em levar a inflação para baixo.”

    Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos

    Expectativa no Brasil

    Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú, diz que o Copom volta a se reunir e deve manter a taxa Selic estável em 13,75% ao ano a fim de assegurar a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante de política monetária.

    “Estimamos que as projeções de inflação do Comitê no cenário de referência (que inclui taxa de câmbio seguindo a paridade do poder de compra e taxa de juros segundo a pesquisa Focus) devem recuar de 5,8% para 5,1% em 2023 e de 3,6% para 3,5% em 2024. Para o próximo ano, a melhora se dá com recuo da inércia e expectativas de inflação, enquanto uma revisão de PIB/hiato deve atuar na direção contrária.”

    Para ele, o comitê deve manter a taxa Selic estável na reunião de junho, ajustando a comunicação, mas sem sinalizar ainda que um corte de juros é iminente.

    “Acreditamos que a eventual flexibilização da política monetária deveria ocorrer de forma gradual. Por um lado, a queda da inflação corrente tem sido importante. Mesmo que concentrada em itens voláteis e bens industriais, a desinflação tende a ser repassada para itens mais indexados, pela inércia menor. Esses fatores devem permitir o início de um ciclo de cortes em setembro”, avalia Mesquita.

    O economista-chefe da Neo Investimentos, Luciano Sobral, acredita que o ciclo de cortes começará em setembro, com a Selic caindo 0,50 ponto percentual. Para o especialista, os índices de inflação (IPCA e IGPs) e o início das quedas nas expectativas do mercado dão esse sinal para o BC.

    “O que contribui para essa percepção é nos índices de inflação, sobretudo as quedas recentes nos preços de commodities agrícolas e petróleo. Quanto às expectativas, a impressão de que as metas de inflação não serão significativamente alteradas pelo CMN na reunião de junho.”

    Sobral pontua que a inflação de demanda já está impactando nesse cenário de possíveis cortes de juros. “Os preços de serviços estão desacelerando lentamente; se estivessem mais perto da meta de inflação, provavelmente os juros já estariam caindo.”

    Na visão de Pedro Oliveira, tesoureiro do Paraná Banco Investimentos, o corte na taxa Selic deverá ser anunciado pelo colegiado para a reunião seguinte, em agosto.

    “O maior motivo para o Banco Central manter a Selic em 13,75% até o momento é a preocupação com as expectativas de inflação no longo prazo, os núcleos de inflação elevados e a incerteza fiscal. Desde a última reunião do Copom, em 3 de maio, todas essas variáveis mudaram para melhor, principalmente a incerteza fiscal, após a aprovação do novo arcabouço fiscal na Câmara dos Deputados”.

    Oliveira explica ainda que a inflação projetada na curva de juros para os próximos dois anos, chamada inflação implícita, era de 6% no início de maio e recuou para 4,95% nas negociações mais recentes.

    “A inflação projetada pelo Boletim Focus para 2025 e 2026, recuou abaixo de 4% na última divulgação e deve continuar esse movimento de queda, convergindo para algo em torno de 3,5% até a reunião de agosto, criando um cenário favorável para o Banco Central cortar os juros.”