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    Copo não tão cheio: balanço da Ambev preocupa analistas, que veem ressaca maior

    Queda no segmento premium está na lista de preocupações. Na quinta (30), as ações da empresa chegaram a subir 5%, mas mudaram de rumo e caíram quase 4%

    Ambev: empresa tem resultados melhores que o esperado por analistas, mas apresenta queda de 4,4% em sua receita no 2º trimestre
    Ambev: empresa tem resultados melhores que o esperado por analistas, mas apresenta queda de 4,4% em sua receita no 2º trimestre Foto: Eeshan Garg/Unplash

    André Jankavski, do CNN Brasil Business, em São Paulo

    Apesar de não poder frequentar bares, a cerveja continuou sendo um produto essencial para diversos brasileiros. Obviamente, o consumo e a produção foram impactados pela pandemia, mas menos do que o esperado por especialistas. E isso ajudou a Ambev a ter resultados melhores do que os imaginados – mas não necessariamente bons, na visão de analistas.

    A saideira da crise, de fato, ficou em abril. A empresa registrou que, em todos os mercados em que atua, os volumes de cerveja vendidas caíram 27% naquele em mês. Em maio, uma nova queda: 7%. Um mês depois, em junho, o copo finalmente estava mais cheio: alta de 5%. O Brasil ajudou para o tombo não ser maior: no acumulado do trimestre, a queda foi de apenas 1,6%.

    Porém, obviamente, o soluço do último mês do trimestre não foi suficiente para evitar uma queda de 4,4% na receita da Ambev, a R$ 12,1 bilhões. O volume de bebidas vendidos total caiu ainda mais: 9,2%.

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    Diante de uma pandemia e uma crise sem precedentes, a maioria dos analistas se impressionou com o resultado – ainda mais diante de passos importantes rumo a digitalização. O aplicativo de entregas de cerveja Zé Delivery, por exemplo, registrou 5,5 milhões de pedidos no trimestre – mais de 3,6 vezes do total registrado em todo 2019.

    Não por acaso, as ações chegaram a subir 5% no início do pregão. Mas aí parece os investidores entenderam que a ressaca pode ser maior do que a esperada – e os papéis mudaram de rumo e fecharam em queda de quase 4%.

    Uma das preocupações do analista Leandro Fontanesi, do Bradesco BBI, por exemplo, é a queda do segmento de cervejas premium. O motivo apontado para a Ambev é que marcas como Original e Chopp Brahma são consumidas mais em bares (que oferecem margens maiores para a companhia).

    “Isso nos faz pensar em que o ponto o crescimento do portfólio premium da Ambev é impulsionado mais pela sua forte presença no comércio do que pela preferência do consumidor”, disse Fontanesi em relatório, em que colocou o preço alvo da Ambev em R$ 15,50. Ou seja, a ofensiva da rival Heineken pode estar incomodando.

    A falta do funcionamento de bares e restaurantes também preocupa a analista Diana Stuhlberger, da casa de análises Eleven Financial. “O desempenho de volume mostrou-se mais resiliente do que imaginávamos, mas nossa recomendação é de venda”, disse ela em relatório a clientes. Para mudar de ideia, a Eleven ainda acredita que é preciso observar melhor a dinâmica concorrencial e a adaptação aos padrões de consumo do “novo normal”.

    Em conferência com analistas, os executivos da Ambev acreditam que a mepresa terá uma recuperação em V, tanto em volumes quanto em receitas, mas as margens devem continuar mais apertadas.

    “Nós nos adaptamos rapidamente às mudanças trazidas pelo Covid-19 em termos de consumo e vemos os volumes melhorando sequencialmente desde abril”, disse o presidente da Ambev, Jean Jereissati.

    As baixas margens foram apontadas como motivo de preocupação pelo BTG Pactual. Os analistas acreditam que mesmo com o aumento das vendas do digital e a impossibilidade de rivais conseguirem fazer investimentos para expandir as operações (a Ambev tem mais de 60% do mercado de cerveja), ainda não está claro como a empresa conseguirá aumentar os seus ganhos com os rumos da pandemia ainda incertos.  

    “E a Ambev continua a trazer declarações cautelosas em relação à recuperação dos resultados futuros”, disseram os analistas Thiago Duarte e Henrique Brustolin.

    Também há otimismo

    O Credit Suisse saiu um pouco do tom e aumentou o preço alvo das ações, de R$ 15 para R$ 20. O banco suíço que essa recuperação mais rápida do que o esperado pelo mercado no segundo trimestre só antecipa uma segunda metade do ano mais tranquila.

    O Itaú BBA também ficou impressionado com o que a empresa apresentou, manteve o preço-alvo das ações da Ambev para R$ 22. Mas faz um alerta: o fim dos benefícios do governo aos desempregados e autônomos pode ser um duro golpe para a empresa.

    Afinal, sem auxílio – e com o aumento esperado do desemprego – sobra menos dinheiro para gastar com cerveja. E o chopp da Ambev poderá ficar mais aguado.

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