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    Conheça o blockchain verde, opção que reduz uso de energia e de emissões da rede

    Tecnologia exige alto consumo e energético, e consequentemente grande emissão de CO2, para operar

    Atualmente, minerador que conseguir validar uma transação envolvendo bitcoin recebe, como recompensa, 6,25 bitcoins
    Atualmente, minerador que conseguir validar uma transação envolvendo bitcoin recebe, como recompensa, 6,25 bitcoins Shubham/ Unsplash

    Artur Nicocelido CNN Brasil Business*

    em São Paulo

    Enquanto investidores e empresas avaliam os possíveis usos – e negócios – da tecnologia blockchain, já emerge um debate importante sobre tema: o grande consumo de energia elétrica na mineração da tecnologia e a alta emissão de carbono durante o processo.

    De acordo com o Digiconomist, plataforma voltada à apresentação das consequências não intencionais das tecnologias, a emissão de carbono do bitcoin anual, por exemplo, é de um milhão de toneladas – o equivalente à emissão anual da República Tcheca, com cerca de 10 milhões de habitantes.

    Enquanto a energia elétrica consumida pelo bitcoin durante o ano é de 204,50 twh (terawatt/hora), a mesma quantidade consumida pela Tailândia anualmente, que abriga um população de quase 70 milhões.

    Dessa forma, surge o conceito do blockchain verde, uma possível solução para as questões ambientais relacionadas à tecnologia.

    A rede “verde” possui duas diferenças do modelo tradicional de blockchain, sendo a primeira voltada à mudança dos protocolos de mineração, do proof-of-work para o proof-of-stake.

    No modelo proof-of-work, ou PoW (prova de trabalho, em português), os computadores usados para mineração competem entre si para encontrar as chaves que validem um nó. Dessa forma, muita energia é gasta pelos mineradores para que, no final, apenas um seja retribuído pelo esforço.

    Com a mudança para o proof-of-stake, ou PoS (prova de participação, em português), o sistema passa para os blocos construídos, e não minerados. Para escolher os mineradores não há uma competição, mas um sorteio, em que uma pessoa é escolhida para descobrir o código. Ou seja, apenas a energia elétrica de um minerador é gasta no processo de validação.

    “No final, blockchain verde é apenas um conceito ou um apelido dado aos blockchains cujo algoritmo de consenso não é prova de trabalho”, afirma Tatiana Revoredo, professora do Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa).

    Já a outra mudança do modelo “verde” é a mesma aplicada para qualquer negócio que queira mitigar suas emissões: a utilização de energia renovável no processo de mineração, “como fazendas de placas de energia eólica ou solar”, afirma Eduardo Ferreira, professor na Universidade Presbiteriana Mackenzie.

    Como funciona a mineração no blockchain

    O blockchain é formado por pedaços de códigos (os blocos), que ficam ligados entre si. E é nesses blocos que ficam registradas informações, como os dados de transações de criptomoedas.

    Alan de Genaro, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), explica que o processo de mineração envolve “verificar se a informação apresentada em um desses blocos é verdadeira ou não”. Caso ela seja verdadeira, o bloco é incorporado à rede e ganha um código de criptografia.

    “Os mineradores são validadores das informações, porque não tem um ente regulatório que diz que uma pessoa tem x dinheiro na conta, ou se pode transferir x dinheiro para outra pessoa”, diz o professor.

    Atualmente, o minerador que conseguir validar uma transação envolvendo bitcoin recebe, como recompensa, 6,25 bitcoins.

    Equipamento usado na mineração de criptomoeda, no Reino Unido / Divulgação/ West Midlands Police

    Outro consumo de energia

    Ferreira explica ser possível utilizar energia renovável no processo de mineração, o que reduz em partes a preocupação do mercado sob o consumo energético. Porém, ele enxerga alguns problemas para a implementação dessa saída.

    “A gente pode pensar nas dificuldades da mesma forma que consideramos trazer água quente por meio de energia renovável. É necessário instalar painéis solares, por exemplo, mas o custo do produto não é acessível [para todos os mineradores]”, explica Ferreira.

    Se considerarmos que um painel custa em torno de R$ 2 mil, ele afirma ser preciso um investimento em torno de R$ 10 mil para construir uma estrutura necessária para conseguir minerar usando energia solar.

    Contudo, ele ressalta ainda ser necessário ter sol o ano inteiro para compensar a instalação, “então, não acho que seja algo simples das pessoas colocarem em casa”.

    ESG

    Quando questionados se o blockchain verde pode ser considerado parte de uma estratégia ESG, sigla em inglês para definir diretrizes ambientais, sociais e de governança corporativa, os professores divergem nas respostas.

    Eduardo Ferreira, do Mackenzie, afirma ser possível considerar ESG se “pensarmos que a sigla é usada para qualquer mecanismo que tenha alguma preocupação com o consumo de energia e emissão de carbono”.

    Ele aponta ainda que o termo não pressupõe que uma companhia irá acabar com o consumo total de algum tipo de recurso, mas que o recurso natural será reposto de alguma forma.

    Dessa forma, para Ferreira,  com a mudança de energia consumida para uma renovável e a troca do modelo de mineração, haverá uma redução na emissão de carbono consequentemente.

    As emissões globais de dióxido de carbono relacionadas ao consumo energia aumentaram 6% em 2021 para 36,3 bilhões de toneladas, seu nível mais alto de todos os tempos, apontou a Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês).

    E o consumo de energia é de longe a maior fonte de emissões de gases de efeito estufa, aponta os dados da plataforma ClimateWatch do WRI, que oferece dados abrangentes de emissões para todos os países.

    Por outro lado, a professora do Insper discorda de Ferreira. Tatiana Revoredo avalia que determinar o blockchain verde como ESG, “é como afirmar que um carro é verde pelo simples fato de algum motor ser mais econômico que outro”.

    Tatiana explica que o mecanismo de mineração, ou algoritmo de consenso, é apenas um componente da tecnologia blockchain, ou seja, não é possível definir todo o sistema como ESG por conta de apenas um elemento consumir menos energia.

    *Com informações de João Pedro Malar, do CNN Brasil Business