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    Como Americanas, gigante varejista Sears pediu recuperação judicial em dezembro

    Sears Hometown Inc., franquia da Sears voltada à venda de eletrodomésticos, ferramentas e equipamentos outdoors, enfrenta crise nos EUA

    Há três anos, a Sears Hometown operava mais de 700 lojas em todo o território dos Estados Unidos; hoje, são menos de 100
    Há três anos, a Sears Hometown operava mais de 700 lojas em todo o território dos Estados Unidos; hoje, são menos de 100 CNN

    Tamara Nassifda CNN

    em São Paulo

    A crise deflagrada pela Americanas na última semana já é considerada o maior escândalo contábil do Brasil.

    Segundo fato relevante divulgado na quarta-feira (11), a gigante varejista detectou “inconsistências” da ordem de R$ 20 bilhões na contabilidade, que, segundo a varejista, podem acarretar em uma dívida de mais de R$ 40 bilhões. Nesta quinta-feira (18), a empresa entrou com pedido de recuperação judicial.

    O caso da Americanas faz lembrar o que ocorreu em dezembro nos Estados Unidos com a Sears, também uma tradicional varejista do país, que pediu recuperação judicial de sua franquia voltada à venda de eletrodomésticos, ferramentas e equipamentos outdoors.

    Há três anos, a Sears Hometown operava mais de 700 lojas em todo o território dos Estados Unidos. Hoje, são menos de 100.

    A distância de um mês entre um e outro levantou a dúvida: teriam os casos Americanas e Sears — que inclusive chegou a ter lojas no Brasil antes de decretar falência local em 1980 — a mesma origem?

    Para Alberto Amparo, head de análise internacional na Suno Research, a situação de ambas as empresas reflete um aspecto sintomático do setor varejista: a competição acirrada.

    “Varejo é um negócio difícil para caramba. A Sears, por exemplo, foi destruída pela Walmart, mesmo tendo protagonismo no varejo americano na época que a Walmart surgiu, na década de 1960. No decorrer do tempo, ela deixou de se reinventar, não era tão eficiente, e a Walmart tinha uma gestão mais inteligente e se tornou a maior do mundo em 1990”, disse ele.

    A concorrência reduziu as margens da Sears, que se fundiu à Kmart em 2005 para conquistar mais dominância de mercado. A crise de 2008, porém, bateu à porta, e, somado à competitividade do e-commerce, não demorou muito para que a situação se agravasse.

    De lá para cá, as operações minguaram, e hoje a fatia de mercado da Sears segue enxuta.

    “A Americanas estava crescendo em receita, inclusive na pandemia, mas crescer em receita não significa saúde financeira. O que importa é o retorno sobre o capital investido para ter as mesmas mercadorias que as outras lojas. E também faltou idoneidade nas contas da Americanas, dado que o rombo só foi descoberto agora, mesmo tendo anos de existência, avalia Amparo.

    Victoria Minatto, analista de mercado da Eleven Financial Research, aponta que os motivos que levaram a Sears à recuperação judicial são “bem diferentes” da atual situação da Americanas.

    “A grande varejista americana simplesmente não conseguiu se adaptar ao ‘novo normal’ do varejo, que hoje chamamos de omnichannel”, disse ela em entrevista.

    “No caso da Americanas, foi descoberto que durante anos (provavelmente uma década) contas foram contabilizadas de maneira equivocada em seus balanços, o que implicou numa dívida de R$ 20 bilhões que até poucas semanas não existia.”

    Minatto explica que o dito “novo normal” do varejo se refere à popularização do e-commerce a exemplo da Amazon, que colocou lojas de departamento focadas em vendas físicas em segundo plano. A Sears ainda foi duramente baqueada pela Walmart, hoje a maior do setor nos Estados Unidos.

    “A Sears e outras tantas viram as vendas começarem a declinar e as margens ficarem cada vez mais apertadas. A companhia tentou ao longo dos anos enxugar a operação, fechando lojas e demitindo funcionários, como tentativa para continuar de pé, mas não adiantou.”

    No caso da Americanas, a crise foi detonada pelas ditas “inconsistências contábeis” de R$ 20 bilhões. “Com um caixa de R$ 8,5 bilhões e um passivo já existente de R$ 22,3 bilhões, a companhia não tem dinheiro para pagar todas suas obrigações, resultando então na recuperação judicial”, explica Minatto.

    Para ela, a única semelhança entre os dois casos é a mudança de rumo do setor varejista, de “mais competição, menos diferenciação e, por consequência, uma dificuldade maior de rentabilizar o negócio”.

    “O grande aprendizado que fica, não só de ambos os casos, mas de vários outros varejistas fechando as portas ao redor do mundo, é que, em qualquer segmento, adaptabilidade e geração de caixa são essenciais. Você precisa estar sempre um passo a frente quando o quesito é inovação e tendências, mas sem deixar suas margens e fluxo de caixa de lado.”

    O que diz a Americanas

    Em nota, a varejista informou que “segue na busca por uma solução de curto prazo com os seus credores, para manter seu compromisso como geradora de milhares de empregos diretos e indiretos, amplo impacto social, fonte produtora e de estímulo à atividade econômica, além de ser uma relevante pagadora de tributos.”

    Confira a nota na íntegra:

    “A Americanas informa que a atitude unilateral de compensação dos credores contra o caixa da companhia prejudica sua viabilidade. Somente o Banco Bradesco reteve mais de R$ 450 milhões do caixa, agindo em desconformidade com a decisão da tutela antecipada. A Americanas é uma varejista centenária, que presta um serviço amplo à população e tem um compromisso social forte de levar produtos acessíveis aos seus 53 milhões de clientes. A companhia segue na busca por uma solução de curto prazo com os seus credores, para manter seu compromisso como geradora de milhares de empregos diretos e indiretos, amplo impacto social, fonte produtora e de estímulo à atividade econômica, além de ser uma relevante pagadora de tributos. A Americanas espera que os credores também se comprometam na busca de soluções.”