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    Com possível inflação menor no fim do ano, queda nos preços deve ocorrer em 2024

    Apesar de projetarem queda na inflação até o fim de 2022, especialistas ponderam que novos anúncios de reajustes nos combustíveis devem levar índices a subir

    Iuri Corsinida CNN , no Rio de Janeiro

    Ainda que em patamares elevados, a inflação no país deve seguir em queda até o final do ano, mantendo a tendência de redução observada nos últimos três meses. É o que apontam economistas ouvidos pela CNN, que estimam que a inflação acumulada de 2022 feche abaixo dos dois dígitos.

    No entanto, eles também são unânimes em afirmar que a queda dos preços ao consumidor só deve começar a acontecer em 2024. Apesar das perspectivas, o cenário pode mudar caso ocorram novos anúncios de reajustes nos combustíveis — defasados no mercado internacional — o que, avaliam os economistas, devem fazer a inflação voltar a subir no país.

    Felipe Camargo, economista sênior da América Latina pela Oxford Economics, reconhece que o país teve um mês de “surpresa” no IPCA de maio, quando veio abaixo do esperado (0,47%), e que a tendência, observando o panorama atual, é de queda da inflação até o final do ano. Porém, ele pondera que é preciso cautela em relação aos próximos meses.

    “Acho que esse é o cenário base sim (desinflação), mas existem riscos. Não dá para desprezar que o câmbio vai balançar bastante durante a corrida eleitoral. Se o câmbio depreciar o suficiente poderíamos ter mais uma onda de aumento da inflação”, destacou.

    “A Petrobras ainda não deu todos os aumentos ao preço da gasolina que deveria. Há uma defasagem considerável em relação ao preço internacional e o preço da ANP. Se a Petrobras anunciar mais uma alta, a inflação volta a subir também”, explicou.

    De acordo com o estudo feito pelo economista da Fundação Getúlio Vargas, Alberto Ajzental, o Índice de Preços ao Consumidor (IPCA) acumulado de abril deste ano, quando atingiu 12,13%, possivelmente marcou o ápice da inflação. “Daqui para frente, tudo indica que haverá queda gradual dos índices, processo chamado de desinflação”, avalia o economista.

    Ajzental cita que a inflação mensal já vem caindo há três meses e que, desde janeiro, o Índice Geral de Preços (IGP-M), divulgado pela FGV, também está em queda. Ele explica que o IGP-M é um prenúncio do IPCA, com um delay de cerca de três meses.

    Ou seja, os resultados do IGP-M se refletem nos resultados do IPCA três meses depois. E o IGP-M mensal vem apresentando queda desde fevereiro deste ano.

    O economista explica que os principais grupos de commodities — milho, soja, trigo carnes, aço — estão em queda ou pararam de subir. O petróleo é o único que ainda está volátil e que pode sofrer com reajustes mais impactantes.

    “Os grupos de commodities que mais impactaram foram o de petróleo com seus derivados, os metálicos, os grãos e as proteínas. Vários destes estão apresentando queda nos preços. Aço e alumínio estão em queda, milho em queda, soja está estável, trigo já bateu no topo, boi em queda”, disse Ajzental.

    “A queda destas matérias primas é capturada quase de imediato pelo IGP-m, porém, levam mais tempo e são suavizados quando chegam à inflação das famílias, que é o IPCA”, acrescentou.

    Enquanto em maio de 2021 o IGP-M tinha subido 4,10% e o acumulado do ano naquele momento era de 37,04%, o índice de preços em maio de deste ano foi de 0,52% e o acumulado ficou em 10,72%.

    Segundo Ajzental, houve deflação nas matérias brutas de 6,19% nos últimos 12 meses. Além disso, ainda de acordo com o economista, os itens que mais ajudaram na desinflação do índice mensal foram o minério (- 4,71%), farelo de soja (- 7,92%), milho (- 3,62%) e bovinos (- 3,28%).

    Para Juliana Inhasz, economista e professora do Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa), a perspectiva é positiva no que diz respeito a uma melhora nos índices atuais de inflação. Porém, a especialista destaca que o cenário ainda será ruim, mesmo com a desinflação.

    “Está evidente e é importante dizer que os preços não estão caindo, mas que estão sendo reajustados numa velocidade mais lenta. Quando falamos que a inflação está caindo, dizemos que antes os preços subiam muito rápido, mas agora começaremos a ver uma continuidade da escalada de preços, porém em uma velocidade menor”, ponderou.

    Ela diz que o país aparentemente está em um momento de recuperação econômica, mesmo que ainda lento. “O mercado tem absorvido mais trabalhadores o que é sinal de aumento de produção”, disse Inhasz.

    A economista explicou, no entanto, que há a preocupação de que o aumento da demanda seja maior do que a oferta, o que pode pressionar novamente os preços. “Se a demanda crescer frente a uma economia que ainda não consiga absorver esse aumento, talvez haja uma pressão em preços que em algum momento seja inesperada”.

    Para finalizar, a economista destacou que o brasileiro ainda continuará pagando caro mesmo em 2024.

    “É preciso diminuir muito os custos, ou ter um freio muito forte nos custos de produção, o que não acontece hoje, para que a inflação caia de forma considerável. Ainda há pontos de atenção. Mesmo que os combustíveis caiam para o consumidor final, por exemplo, não há garantia que essa redução vá impactar na queda dos preços de produtos. Muitos comerciantes, empresários, podem aproveitar essa queda para recuperar a margem, uma vez que também sofreram os fortes impactos”, concluiu.

    No último boletim parcial do Relatório Focus, divulgado no dia 6 de junho, as previsões do mercado indicaram que a inflação de 2022 fechará em 8,89%, e em 4,39% em 2023. As estimativas foram piores do que as dos dados divulgados no boletim anterior, no dia 2 de maio, quando apontava para uma inflação de 7,89% para este ano e de 4,1% no ano que vem.

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