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    Cashback, descontos e doações: conheça startups brasileiras que avançam no setor ESG

    Apesar das práticas ESG terem ganhado mais força nos últimos anos, existem algumas empresas que já nascem com essa preocupação em seu DNA

    Dia de trabalho em uma startup: dependentes de capital intensivo, startups sentiram rápido os efeitos da pandemia na economia
    Dia de trabalho em uma startup: dependentes de capital intensivo, startups sentiram rápido os efeitos da pandemia na economia Foto: Startaê Team/Unplash

    Sofia Kercherdo CNN Brasil Business*

    em São Paulo

    Startups com foco em responsabilidade social e crescimento sustentável têm crescido no mercado brasileiro, segundo especialistas consultados pelo CNN Brasil Business. O movimento avança na chamada agenda ESG – ambiental, social e governança, em inglês – que ganhou mais força no mundo corporativo nos últimos anos.

    Trata-se de um mercado em plena ascensão no Brasil, Segundo Marcos Olmos, sócio e diretor de Venture Capital da VOX, que decolou nos últimos dois anos com a pandemia.

    “O mercado está amadurecendo em uma velocidade muito interessante. Estamos vendo cada vez mais receita e rentabilidade, e as startups estão trazendo soluções interessantes. Acredito que, a partir daqui, vá a passadas largas”, diz.

    “Do ponto de vista das empresas, a preocupação com ESG começou a virar uma condição indispensável. Elas começaram a perceber que a perenidade dos resultados depende de como a empresa se comporta nesse aspecto”.

    Apesar do ar de novidade, existem empresas que estão batalhando para implementar uma agenda social no país mesmo antes do ESG cair no gosto do investidor.

    É o caso da Risü. Fundada em 2015, a plataforma permite com que o consumidor ajude instituições sociais por meio de compras que faz na internet. Uma parcela do valor da compra feita se transforma em uma doação para uma instituição social cadastrada.

    “É como se fosse um shopping do bem”, brinca Lucas Borges, co-fundador e CEO da startup.

    Segundo ele, o objetivo da Risü é difundir a cultura de doação no Brasil. “Queríamos desenvolver algo que fosse economicamente viável, mas que também gerasse riqueza social”, explica.

    O PontoE, por sua vez, busca encaixar educação em fidelização. Segundo Christiano Ranoya, presidente da startup, a educação é prioridade aqui no Brasil – na vontade, mas não nos gastos. Pensando nisso, a empresa gera um cashback com compras feitas por meio do aplicativo – que será lançado ao público geral no dia 15 de agosto – e dá ao usuário a oportunidade de usá-lo para investimentos educacionais.

    “Você pode trocar esse valor por materiais escolares, cursos específicos com nossos parceiros, além de poder pagar boletos relacionados à educação usando o PontoE”, diz Ranoya.

    Atualmente, o PontoE trabalha com 480 parceiras em segmentos que, segundo Ranoya, são os mais significativos na vida dos brasileiros: varejo, bancos, empresas dos setores automotivo, alimentar, entre outros.

    Planos de expansão

    Para os próximos anos, as empresas entrevistadas afirmaram à CNN que estão buscando ampliar os horizontes no próprio país – e algumas já com um olho lá fora.

    No caso do PontoE, Christian planeja, nos próximos 3 anos, impactar 10 milhões de famílias e movimentar cerca de R$ 3,4 bilhões com o aplicativo. Além disso, pretende englobar mais de mil parceiros, e diz que parcerias e projetos internacionais estão no radar.

    “Agora, precisamos focar em três pilares: contar isso para o mercado – via publicidade e propaganda –, parceiros e clientes”, afirma.

    A Simbiose Social, que se descreve como plataforma que une patrocinadores e proponentes semelhantes através da inteligência de dados, também vê espaço para crescer, segundo Raphael Mayer, co-fundador e CEO da companhia.

    “Ainda temos um grande espaço de exploração no mercado nacional. Temos 45 multinacionais trabalhando conosco hoje, um número forte. Mas perto das mais de 60 mil empresas no país que poderiam direcionar recursos, isso ainda não dá nem para fazer cócegas”, ressalta.

    Fundada em 2017, a startup é uma plataforma que coleta e analisa dados alocados nas diferentes bases públicas envolvidas com as leis incentivo, e faz a ponte para a distribuição dos recursos financeiros entre projetos e organizações sociais em todo o país.

    “A ideia é aproximar o 1º, 2º e 3º setor no planejamento e realização de investimento social privado”, diz Mayer.

    Lucas, da Risü, pensa de maneira similar. Para o CEO, o foco hoje é facilitar o processo de captação das organizações e continuar ampliando a educação desse mercado, junto à Universidade Risü, feita especialmente para organizações sociais.

    “Nosso objetivo, por ora, não é a internacionalização. Temos muito mercado para explorar no Brasil, e ele é extremamente pulverizado”, diz. “Nosso objetivo agora é crescer o número de organizações parceiras e volume transacionado por meio da plataforma.”

    Ambas Risü e PontoE são startups que nasceram para trazer soluções práticas à pessoa física, criando alternativas inovadoras para fomentar a cultura de doação e investimentos em educação no país.

    ‘Não é filantropia’

    Segundo os empresários, além das dificuldades de toda empresa iniciante, as startups com foco social também precisam batalhar para explicar o modelo de negócio a potenciais parceiros e investidores. “É muito desafiador. Precisei explicar que a Risü não é filantropia, é um negócio que gera receita”, explica Borges.

    Christian, do PontoE, teve o mesmo desafio. Ele ressalta que a proposta social sempre é recebida com cautela, e investidores e potenciais parceiros sempre questionam a margem de lucro e o modelo de negócios da startup.

    Em relação a isso, Marcos acredita que seja uma questão cultural. “As empresas ainda precisam entender como isso agrega valor para elas. Esses tipos de serviço são vistos como um centro de custos. Elas não olham para a evolução, resultado, valor agregado…”

    “Nas empresas, você encontra um corpo de diretores que está preocupado com esse trimestre, ao passo que muitas iniciativas terão resultados em um horizonte mais amplo”, explica.

    Ele ressalta que, ao lidar com greentechs – startups voltadas a promover avanços relacionados à sustentabilidade e meio ambiente – é mais fácil fazer uma mensuração numérica. Em startups com foco social, é mais complexo medir o número de pessoas impactadas: e é aí que começam as complicações.

    “É preciso fazer com que eles entendam que é um mercado sério, que gera capital. Por isso, é difícil conseguir parceiros no começo”, complementa Lucas.

    O amadurecimento do mercado também é uma questão importante. Raphael, da Simbiose, diz que, ao apresentar a startup a outras companhias, essas ainda não tinham maturidade para lidar com o produto que foi inicialmente desenvolvido.

    “Elas queriam nos contratar pela inteligência de dados, mas não tinham ninguém dentro da empresa que soubesse usar as ferramentas e construir uma metodologia. Estávamos vendendo um produto, mas as empresas queriam um serviço”, diz.

    *Sob supervisão Ligia Tuon