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    C&A, Hering, Riachuelo: a salvação do varejo de vestuário está no marketplace?

    Os prejuízos foram grandes, mas a avaliação de analistas é que as empresas fizeram o possível diante das circunstâncias

    Leonardo Guimarães, , do CNN Brasil Business, em São Paulo

    Vender roupa nunca foi tão difícil quanto no segundo trimestre deste ano. Com as lojas físicas fechadas por causa de medidas para conter a pandemia de Covid-19, Riachuelo (GUAR3), C&A (CEAB3), Hering (HGTX3) e Lojas Marisa (AMAR3) viram suas receitas operacionais despencarem. Em um cenário de incertezas e aumento do desemprego, as roupas ficaram em segundo plano – ainda que este não seja um item supérfluo. 

    O e-commerce, que engatinhava antes da pandemia, passou a ser a maior esperança para reduzir as perdas e ajudar as empresas a entregar resultados “menos piores”. Além do investimento para integrar o estoque das lojas físicas à operação online, o varejo de moda viu nos marketplaces uma chance de ouro para crescer, mas em uma estratégia que ainda vai demorar para devolver resultados relevantes nos balanços. 

    Essa oportunidade foi percebida pelas empresas do setor depois de um esforço de todas para impulsionar as vendas pela internet. Todos os relatórios trimestrais mostram incrementos significativos em volume de venda, número de usuários e integração de estoque com as lojas físicas para ganhar agilidade na entrega. 

    Com isso, surge uma tendência no varejo de moda: transformar os e-commerces em marketplaces – quando a plataforma é aberta para que outras empresas vendam nela. É como fazem os maiores players: Amazon, Magazine Luiza, Mercado Livre, Casas Bahia, da Via Varejo e Lojas Americanas, da B2W.

    Por sua vez, a Lojas Renner (LREN3), que é uma das queridinhas do setor, teve uma alta de 122% nas vendas online no segundo trimestre, mas não colocou nenhum dado sobre marketplace em seu balanço.

    Não é o mesmo caso da C&A. Há três anos, a varejista permitiu que outras três empresas vendessem em seu canal online. No segundo trimestre desse ano, porém, a companhia entendeu que precisava acelerar essa estratégia. Agora são mais de 50 vendedores na plataforma chamada de Galeria C&A.

    O marketplace não oferece apenas roupas, mas também conta com joias, brinquedos, itens de decoração e acessórios. A meta é ter pelo menos 100 vendedores cadastrados na plataforma até o fim do ano. “O marketplace é um dos assuntos mais relevantes para a C&A neste momento”, diz Fernando Guglielmetti, head de ecommerce da C&A Brasil em entrevista ao CNN Brasil Business

    Segundo ele, o negócio já cresce acima do e-commerce – a base de comparação menor contribui para essa estatística. No último balanço, a empresa mostrou que a receita online – que envolve marketplace e e-commerce – foi 4,5 vezes maior que a do segundo trimestre de 2019.

    “É uma área que vai ter dois dígitos de participação (nas vendas online), com certeza”, garante Guglielmetti. 

    Entre as varejistas de moda que investiram em um marketplace está a Amaro, uma nativa digital. A empresa mostra uma preocupação grande com a seleção dos vendedores, para que sua plataforma tenha “apenas as mais amadas e aquelas que têm a ver com a Amaro”, diz o CEO da empresa, Dominique Oliver. A empresa não divulga os seus dados financeiros.

    “Nos juntamos a marcas de valores similares e identidade digital, empresas que têm relacionamento conosco há anos”, conta Oliver.

    Curadoria 

    Essa preocupação de se posicionar como curadoras será importante para que essas empresas se protejam dos grandes marketplaces. A Magazine Luiza (MGLU3), por exemplo, está nesse mercado, com Netshoes e Zattini. Amazon e Mercado Livre têm espaços dedicados à moda. 

    A favor dos grandes marketplaces estão a enorme bases de clientes, que podem atrair os pequenos empreendedores. Por isso, a importância da curadoria para as empresas que ainda estão tateando o e-commerce. 

    A C&A recrutou 15 pessoas para buscar parcerias que façam sentido para a marca. A ideia é se tornar uma referência.

    “O nosso diferencial é sermos uma empresa de moda que promove curadoria. Somos reconhecidos por isto. Mercado Livre, Magazine Luiza e B2W (BTOW3) são generalistas. Existe muito espaço para nos posicionarmos dessa forma”, diz o head de e-commerce da C&A. 

    As teleconferências de resultados de Hering e Guararapes mostraram que essas empresas também estão de olho nos marketplaces. “Estamos em busca de ampliar nosso marketplace, atraindo novos vendedores, fazendo curadoria de coleções, investindo e integrando conteúdo com interação, tecnologia e uso de dados”, disse Thiago Hering, diretor-executivo de negócios da empresa. 

    A Riachuelo também deve ganhar um marketplace. Na teleconferência do Grupo Guararapes o presidente da empresa, Oswaldo Nunes, disse: “no marketplace, começamos com um pequeno número de vendedores e depois abrimos para mais parceiros. Temos ainda a previsão de investimento nisso em 2021”. 

    Aceleração do e-commerce

    Os balanços das varejistas de moda mostraram que o segundo trimestre foi um dos mais desafiadores da história para o setor. O destaque positivo nos relatórios dessas empresas não é exclusivo do segmento, mas um retrato do que aconteceu no varejo como um todo: investimento em tecnologia e ajuste das operações para vender online. 

    Isso aconteceu principalmente nas empresas que não vendem produtos considerados essenciais, mas até os supermercados, que demoraram para se digitalizar e puderam abrir suas lojas durante o segundo trimestre participaram desse movimento. Afinal, já que o consumidor estava trancado em casa, ele mesmo se viu obrigado a criar novos hábitos. 

    Os relatórios do último trimestre deixaram bem claro a força dessa migração forçada para o online nas vendas de roupas e calçados. Na Marisa, as vendas online cresceram 1.135% na comparação anual. A C&A viu o número de usuários do seu app sair de 400 mil no primeiro trimestre para 3 milhões no segundo.

    No Grupo Guararapes, a receita online cresceu quase cinco vezes – passou de R$ 30 milhões no primeiro trimestre para R$ 140 milhões no segundo. 

    Esses resultados dizem muito sobre o que há de vir no setor. Comprar roupa pela internet não é tão simples, afinal, o cliente quer experimentar as peças antes de comprar – o que, obviamente, não é possível no e-commerce. Para amenizar esses efeitos, as varejistas colocam nas lojas virtuais as tabelas de medidas das peças e oferecem a primeira troca grátis.

    Vale investir no setor?

    No geral, as perdas foram grandes para o setor, mas a avaliação de analistas é que as empresas fizeram o possível diante das circunstâncias. Apesar de apresentar prejuízo de R$ 171 milhões, a Marisa continua com moral na praça. Um dia depois do anúncio dos resultados, as ações da empresa – que não estão no Ibovespa – cresceram 8,41% 

    O Bradesco BBI recomenda a compra de ações da empresa: “continuamos acreditando que a gerência está seguindo a estratégia certa para recuperar as vendas e a lucratividade que foram perdidas ao longo dos últimos anos”, disse o banco em um relatório.

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    Na C&A, o tombo foi maior: R$ 192 milhões. No ano passado, a varejista comandada por Paulo Correa lucrou R$ 25,7 milhões no segundo trimestre. 

    Para amenizar a queda, a estratégia foi renegociar aluguéis, suspender contratos e reduzir a jornada de trabalho dos funcionários, de acordo com Medidas Provisórias publicadas pelo governo federal. Essas ações contribuíram para redução de 29% das despesas operacionais. 

    Assim como a Marisa, o prejuízo da C&A foi visto com otimismo, com o Bradesco BBI elogiando a administração da empresa e colocando as ações da varejista como a queridinha nos segmento de roupas e calçados. 

    Das grandes varejistas de moda que já divulgaram resultados, o melhor foi o da Hering, que lucrou R$ 126,85 milhões – um aumento de 212% na comparação com abril a junho do ano passado. Mas o resultado financeiro engana e esconde um fraco desempenho operacional. 

    Na verdade, a empresa só conseguiu esse lucro porque venceu uma ação para exclusão do ICMS sobre contribuições do PIS/Cofins, no valor de R$ 279,4 milhões. Com isso, o Ebtida da Hering no segundo trimestre foi de R$ 73 milhões, mas seria negativo em R$ 41 milhões sem a vitória na justiça. 

    Para classificar os resultados como “fracos”, o BTG Pactual (BPAC3) se concentrou em números como queda de 69% nas vendas em lojas abertas há mais de 12 meses. Com redução no quadro de funcionários e menor investimento em marketing, a Hering ainda conseguiu reduzir as despesas. 

    Por fim, o Grupo Guararapes, dono da Riachuelo, teve um trimestre dentro do esperado por analistas. O prejuízo foi de R$ 296,2 milhões com recuo de quase R$ 1 bilhão na receita. As vendas em lojas abertas há mais de 12 meses apresentaram queda de 69,7%, pressionadas pelo fechamento das lojas da Riachuelo no início do trimestre em razão da pandemia de Covid-19.

    Com os marketplaces na moda, tudo indica que a briga será para atrair vendedores. Ao mesmo tempo, as empresas querem se posicionar como curadoras, o que implica em não aceitar varejistas que não têm ligação com suas marcas.

    Esses “rejeitados” vão procurar os grandes marketplaces? Os grandes players do e-commerce vão investir em moda? São perguntas que começam a ser respondidas ao longo do terceiro trimestre.

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