Bilionário indiano tenta tranquilizar credores à medida que crise entra na 3ª semana

O bilionário indiano Gautam Adani está pagando algumas dívidas antes do vencimento, enquanto luta para encerrar uma derrota nas ações de seu conglomerado, que entra na terceira semana de crise nesta segunda-feira (6).

Em um comunicado enviado mais cedo, o Adani Group disse que seus promotores, ou acionistas controladores, pagarão empréstimos no valor de US$ 1,11 bilhão antes do vencimento programado para setembro de 2024.

Os empréstimos foram garantidos por ações da Adani Ports, Adani Green Energy e Adani Transmission, que caíram de valor.

A medida foi tomada “à luz da recente volatilidade do mercado” e “na continuação da garantia dos promotores de pagar antecipadamente todos os financiamentos garantidos por ações”, disse o comunicado.

Um colapso brutal do mercado de ações eliminou mais de US$ 110 bilhões do valor de mercado combinado de empresas pertencentes ao conglomerado indiano de portos para energia nas últimas semanas.

Adani, o fundador do grupo, perdeu mais de US$ 60 bilhões em patrimônio líquido desde o início da crise, quando um vendedor a descoberto americano o acusou de realizar “o maior golpe da história corporativa” em um relatório de 24 de janeiro.

Embora o Grupo Adani tenha negado veementemente a alegação feita pela Hindenburg Resarch como “infundada” e “maliciosa”, os investidores não estão convencidos.

Em sua primeira declaração sobre a turbulência do mercado, o regulador do mercado da Índia, o Securities and Exchange Board of India, disse no sábado que havia observado “movimentos incomuns de preços nas ações de um conglomerado empresarial”. Disse ainda que, se alguma informação chegasse ao conhecimento do SEBI, ela seria examinada e “medidas apropriadas” seriam tomadas.

O regulador acrescentou que “está comprometido em garantir a integridade do mercado”.

Um dia antes, o Reserve Bank of India disse que o setor bancário “permanece resiliente e estável” com base em sua avaliação mais recente e prometeu continuar monitorando a situação.

Há temores de que as consequências da venda não sejam contidas em Adani. Os bancos indianos que detêm os ativos do grupo também podem ser afetados se o valor dessas participações continuar caindo.

Rota de mercado

Os comentários dos reguladores fizeram pouco para acalmar os investidores.

Na segunda-feira, a Adani Enterprises, principal empresa do grupo, caiu 2% em Mumbai. O preço de suas ações caiu quase 55% desde que o relatório de Hindenburg foi publicado.

“Ainda acho que o preço da empresa é muito alto, dados seus fundamentos e antes de considerar o dano que pode ter [sido] causado à reputação da empresa e ao valor de longo prazo, por este episódio de venda a descoberto”, diz Aswath Damodaran, que ensina finanças corporativas e avaliação na Universidade de Nova York, em publicação em um blog no fim de semana.

A negociação de ações de cinco empresas listadas na Adani foi suspensa na segunda-feira depois que elas caíram nos limites diários estabelecidos pelas bolsas de valores indianas. As mesmas cinco empresas também foram suspensas na sexta-feira por atingir esses limites.

Enquanto isso, as ações da Adani Ports, a maior operadora portuária privada da Índia, subiram 9%. A empresa opera o Mundra Port, muitas vezes chamado de “joia da coroa” do grupo, e está localizado no estado de Gujarat, no oeste da Índia.

A maioria das empresas do império Adani é controlada pelo bilionário, sua família e empresas associadas, e os investidores estão questionando o modelo de propriedade.

“Eu comparei a compra de ações de uma empresa familiar a se casar e depois ter todos os seus sogros se mudando para o quarto com você”, escreveu Damodaran. “Esses riscos aumentam, se as empresas do grupo familiar forem construídas em torno de conexões políticas, onde você está a uma derrota eleitoral de sua maior vantagem competitiva.”

O bilionário é visto como um aliado próximo do primeiro-ministro Narendra Modi, e a saga em torno de seu império empresarial tornou-se fonte de crescente turbulência política em Nova Délhi.

Os dois homens são de Gujarat, e o empresário ampliou seu império em setores que o primeiro-ministro priorizou para o desenvolvimento. Os rivais também questionaram o uso de aeronaves Adani por Modi enquanto ele fazia campanha para se tornar primeiro-ministro em 2014.

Consequências políticas

Os legisladores da oposição na Índia exigiram uma investigação sobre o relatório Hindenburg. Eles fizeram um protesto no parlamento na quarta-feira, enquanto o ministro das Finanças do país apresentava o orçamento anual.

Desde aquele dia, ambas as casas do parlamento foram adiadas várias vezes, enquanto os legisladores protestavam ruidosamente contra a falta de debate sobre a turbulência.

“Mais uma vez, pelo terceiro dia consecutivo, a oposição não tem permissão nem mesmo para mencionar no parlamento sua demanda legítima”, para uma investigação sobre a disputa de Adani, escreveu o legislador da oposição Jairam Ramesh no Twitter. “Modi Govt está simplesmente fugindo!”

Em seu relatório, a Hindenburg Research questionou as “valorizações altíssimas” das empresas Adani e disse que sua “dívida substancial” coloca todo o grupo “em uma situação financeira precária”.

Os analistas há muito tempo expressam temor de que a rápida expansão dos negócios da Adani venha com um grande risco. O grupo foi alimentado por uma farra de empréstimos de US$ 30 bilhões, tornando-se uma das empresas mais endividadas da Índia.

As empresas Adani apresentarão resultados trimestrais esta semana. Os investidores estarão debruçados sobre esses relatórios em busca de mais pistas sobre a situação da dívida do grupo.

As agências de classificação alertaram os investidores na semana passada sobre os crescentes riscos relacionados à futura captação de recursos da empresa.

A Moody’s disse na sexta-feira que a queda nas ações das empresas Adani provavelmente reduzirá a capacidade do grupo de levantar capital.

Outra agência, a S&P, cortou a perspectiva de seus ratings de duas empresas, Adani Ports e Adani Electricity, de estável para negativa, citando o risco de custos de financiamento mais altos ou acesso reduzido ao capital.

— Manveena Suri, da CNN, e Julia Horowitz contribuíram para esta reportagem.

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