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    BC é órgão técnico e não deveria se envolver em termos políticos, diz Campos Neto

    Presidente do BC enfatizou que Copom não exitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como o esperado

    Diego Mendesda CNN

    São Paulo

    O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta quinta-feira (30), durante coletiva de imprensa, que a autarquia é um “órgão técnico” e que, por isso, “não deveria se envolver em termos políticos”.

    Segundo ele, o BC tem hoje um bom relacionamento com o Ministério da Fazenda e afirmou ainda que tem “convicção” de que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, está “bem-intencionado”.

    Os comentários de Campos Neto surgem na esteira de atritos entre o governo e o BC neste início do governo de Luiz Inácio Lula da Silva. O presidente do BC vem sendo criticado por membros do governo e pelo próprio Lula por manter a Selic em 13,75% ao ano, sem passar indicações claras de quando o ciclo de cortes poderá começar.

    Aos jornalistas, Campos Neto afirmou que o BC está fazendo um trabalho técnico na condução da política monetária. De acordo com o presidente da autarquia, é preciso comunicar à sociedade que o trabalho do BC com os juros tem um custo de curto prazo.

    “Nosso processo aqui não tem nenhum componente político. É estritamente técnico”, afirmou Campos Neto, ressaltando que o custo para combater a inflação é alto e é sentido no curto prazo. “Nosso trabalho é explicar por que existe autonomia e por que isso é importante para a sociedade.”

    Ao mesmo tempo, ele defendeu que a autonomia do BC é importante justamente para a tomada de decisões sobre a Selic e o combate à inflação, sem que se incorra em custo maior no longo prazo.

    Questionado sobre os principais documentos de política monetária do BC — o comunicado e a ata do Copom — Campos Neto novamente destacou o caráter técnico.

    “Acho que a ata, de certa forma, sempre tem dimensão técnica, de tentar explicar o que foi feito tecnicamente. E ela incorpora alguma correção, alguma explicação que precisava ser dada em relação às incertezas desde o comunicado”, afirmou.

    Campos Neto destacou ainda que objetivo fundamental da instituição é de assegurar a estabilidade de preços e que a decisão da taxa de juros também implica a suavização das flutuações dos níveis de atividade econômica e fomento do pleno emprego.

    “Considerando a incerteza ao redor dos seus cenários, o comitê segue vigilante, avaliando a estratégia de manutenção de taxa básica de juros por período prolongado, será capaz de assegurar a convergência da inflação”.

    Reforçou também que o Copom irá perseverar a taxa até que se consolide, não apenas o processo de desinflação, como também a ancoragem das expectativas de entorno de suas metas que mostrou deterioração adicional, especialmente em prazos mais longos.

    “O comitê enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e não exitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como o esperado”.

    Novo marco fiscal

    Questionado sobre a expectativa da nova regra fiscal divulgada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, Campos Neto, disse que ainda não olhou os “detalhes”.

    Segundo ele, quando o BC tomou conhecimento das regras gerais da nova regra fiscal, ainda antes de o governo fixar os seus parâmetros, o arcabouço pareceu “bastante razoável”, mas que havia sido há algum tempo.

    Campos Neto afirmou que o importante para o Comitê de Política Monetária (Copom) é como o colegiado vai incorporar o arcabouço em suas projeções. De acordo com ele, a nova regra entra como um fator nas decisões de política monetária. “Neste momento, não temos nada a declarar sobre o arcabouço; precisamos analisar”, completou.

    A proposta do governo para o novo marco fiscal, regra que substituirá o teto de gastos, terá uma trava para impedir que os gastos federais cresçam mais do que a arrecadação, mas contará também com um limite mínimo para a evolução das despesas, conforme documento divulgado pelo Ministério da Fazenda nesta quinta-feira.

    A medida estabelece que as despesas públicas não poderão crescer mais do que 70% da variação das receitas.

    *Com informações da Reuters.