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    Autônomos terminaram 2020 com renda equivalente a 90% do valor habitual

    Estudo do Ipea mostrou que, no caso dos trabalhadores formais, os rendimentos chegaram ao fim do ano 5% maiores

    Comércio de rua em Brasília, em meio à pandemia de coronavírus e reabertura gradual das atividades
    Comércio de rua em Brasília, em meio à pandemia de coronavírus e reabertura gradual das atividades Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil - 05/08/2020

    Juliana Elias, do CNN Brasil Business*

    O pior momento do mercado de trabalho em 2020 aconteceu no segundo trimestre, logo depois do estouro da pandemia de coronavírus no Brasil, e se recuperou apenas parcialmente dali para frente, com os profissionais que trabalham por conta própria ou sem vínculo formal tendo sido os mais afetados.

    As conclusões são do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que fez uma análise dos dados fechados de 2020 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

    A pesquisa comparou a renda média efetiva com a renda média habitual. Enquanto a renda média efetiva caiu por causa do aumento do desemprego e da contratação com salários mais baixos, a renda média habitual subiu porque a perda de ocupações se concentrou nas áreas mais mal remuneradas.

    O levantamento mostra que, no segundo trimestre do ano passado, a renda total efetivamente recebida pelos trabalhadores por conta própria tinha caído a 76% do que recebiam habitualmente. Ao fim do último trimestre, essa proporção tinha se recuperado, mas não totalmente, chegando a 90%. 

    Entre os empregados sem carteira assinada, que também trabalham sem vínculo formal, essa proporção caiu para 87% no segundo trimestre e subiu para 96% nos últimos três meses do ano. 

    Entre os trabalhadores formais, grupo que inclui os empregados com carteira assinada e os servidores públicos, as perdas foram bem menores. No segundo trimestre, ambos os grupos estavam recebendo 100% dos rendimentos habitualmente recebidos e, no quarto trimestre, já estavam ganhando 5% a mais do que o habitual.

    Segundo o Ipea, a elevação da renda habitual para os trabalhadores privados com carteira assinada e o serviço público se devee ao fato de que a eliminação de postos de trabalho atingiu principalmente os setores de construção, comércio e alojamento e alimentação, além de empregados sem carteira assinada e principalmente trabalhadores por conta própria. Dessa forma, quem permaneceu empregado foram os trabalhadores de renda relativamente mais alta, que puxam o rendimento médio habitual para cima.

    “Os dados de rendimentos e horas trabalhadas apresentam, em linhas gerais, um forte impacto inicial da pandemia e uma lenta recuperação que ainda se encontrava incompleta (especialmente se considerarmos também as informações sobre o nível de ocupação) ao final do ano, quando o país foi atingido pelo início da segunda onda da Covid-19”, diz o relatório do Ipea. 

    Renda efetiva

    Ao analisar apenas a renda efetiva dos três últimos meses do ano passado, sem levar em conta a comparação com a renda habitual, a pesquisa mostra que a queda também foi maior entre os trabalhadores autônomos. Essa categoria encerrou 2020 ganhando 6,7% a menos que no mesmo período de 2019.

    O recuo chegou a 1,4% entre os trabalhadores formais que atuam no setor privado e 0,2% no setor público. 

    Para Sandro Sacchet, técnico de planejamento e pesquisa do Ipea e autor do estudo, o fato de ter havido queda nos rendimentos efetivos em alguns grupos de trabalhadores no quarto trimestre indica potenciais efeitos do início da segunda onda da pandemia da Covid-19. Segundo ele, os impactos poderão ser compreendidos quando forem divulgados os dados no primeiro trimestre de 2021.

    Faixas

    Na comparação por faixa de renda, a pesquisa mostra que a pandemia afetou proporcionalmente os mais pobres. Entre o primeiro e o segundo trimestres de 2020, o total de domicílios sem renda do trabalho aumentou de 25% para 31,5%. No quarto trimestre, a proporção chegou a 29%, mostrando uma recuperação lenta do nível de ocupação.

    Em relação à quantidade de horas habitualmente trabalhadas, o levantamento mostra que a pandemia não afetou significativamente o indicador. No segundo trimestre, o total de horas trabalhadas caiu para 30,7 horas semanais, voltando para 36,2 horas semanais no terceiro trimestre e encerrando o quarto trimestre em 37,4 horas semanais, com queda de apenas 5% em relação ao último trimestre de 2019.

    *Com Agência Brasil