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    Ataques em Brasília elevam percepção de risco no Brasil no curto prazo, dizem especialistas

    Evento de domingo pode afastar investidores estrangeiros num primeiro momento, mas efeito negativo deve ser amenizado por união dos Poderes, segundo especialistas

    Vista do prédio do Congresso Nacional em Brasília
    Vista do prédio do Congresso Nacional em Brasília 25/05/2017 REUTERS/Paulo Whitaker

    Fabrício Juliãodo CNN Brasil Business em São Paulo

    A invasão de criminosos em Brasília no domingo (8) pode afastar investidores estrangeiros e aumentar a percepção de risco do país no curto prazo, dizem especialistas consultados pela CNN. No entanto, o efeito negativo pode ser amenizado à medida que os Três Poderes se unem, indicando estabilidade política em meio à crise e o fortalecimento das instituições democráticas.

    Na avaliação de Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master, a violência ocorrida na véspera na capital brasileira traz um pouco da percepção de “República das Bananas”, mas não deve ser um risco preocupante para o investimento recebido no país.

    “O impacto nos mercados tem sido pequeno, eu não acho que teremos uma pancada grande em termos de ativos financeiros. A meu ver, o Congresso, o Executivo e o STF estão bem alinhados, e isso faz com que o processo democrático ganhe força”, destacou o economista.

    Para haver demonstração clara de união e fortalecimento dos Poderes, Raul Veloso, economista e presidente do Instituto Nacional de Altos Estudos (Inae), defende o anúncio e a implementação de uma âncora fiscal robusta, diminuindo assim a sensação de risco.

    “O que temos que fazer quando há uma ruptura desta dimensão é garantir uma âncora fiscal mais sólida para o país. Para esse grande desastre, é preciso colocar uma grande arma para acalmar os ânimos gerais”, pontuou.

    Segundo o economista, o cenário acaba sendo pior para o investidor estrangeiro, que tem menos condições de avaliar tudo o que está acontecendo em razão da distância entre países.

    “Esse tipo de notícia traz repercussão muito negativa para o país. Vimos diversas mídias internacionais noticiando a invasão de manifestantes aos Três Poderes sem resposta da polícia”, salientou Felipe Izac, sócio da Nexgen Capital.

    “Manifestações desse porte, com essa violência, trazem instabilidade politica e incerteza sobre o futuro. Tudo isso traz um risco que só acaba manchando a imagem do Brasil pelo mundo, sobretudo quando falamos em investimento estrangeiro”, observou.

    Próximos passos

    Ainda assim, os analistas acreditam que os investidores estão com os olhos voltados para o Brasil, esperando os próximos passos das autoridades federais, hesitando antes de tomar alguma ação concreta acerca dos investimentos alocados no país.

    “É claro que o investidor estrangeiro não gosta de colocar dinheiro em pais com problemas de democracia, mas não acredito que haverá uma fuga de capitais massiva após o episódio de ontem. Deve ter menos entrada, mas não vejo um cenário de retirada. Acho que eles vão observar o que o governo federal vai fazer a partir de agora”, declarou Alexandre Espírito Santo, economista-chefe da Órama.

    “Quando um novo governo entra, geralmente ele tem uns 6 meses de lua de mel com a população, mas os ataques violentos em Brasília mostraram que a população não dará esse tempo ao novo governo”, afirmou José Márcio Camargo, economista-chefe da Genial Investimento.

    No entanto, para Camargo, os ataques às instituições aumentam a sensibilidade em relação às políticas econômicas que serão feitas.

    “A remuneração dos combustíveis, por exemplo, deve ser vista sob nova ótica, mais sensível. Na minha percepção, o que aumenta o risco sobre o país é pensar em revogar a reforma da Previdência, mudar a reforma trabalhista. Sem a ‘lua de mel’ com a população, é preciso aguardar para saber se o governo vai realizar as medidas necessárias ou medidas populistas”, completou.

    Relembrando a reação ao Capitólio

    Após a invasão de apoiadores do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump ao Capitólio (centro do Legislativo americano) em 6 de janeiro de 2021, os principais índices do país registraram alta nos pregões posteriores.

    Especialistas ressaltaram que a reação ocorreu em meio ao consenso de comprometimento das instituições com a democracia dos EUA e o fortalecimento de Joe Biden como presidente, afastando tensões sobre as falácias de apoiadores de Trump em relação à possível fraude na eleição.

    Em 6 de janeiro, o S&P 500 teve variação positiva de 0,57%, enquanto no dia seguinte registrou alta de 1,48%. O Dow Jones subiu 1,44% no dia da invasão ao congresso americano, enquanto em 7 de janeiro avançou mais 0,69%. Já o Nasdaq teve queda de 1,4% no dia do ataque, mas disparou 2,51% no pregão posterior.

    “Apesar dos possíveis paralelos que possam ser feitos com os ataques ao Capitólio, a situação do Brasil é diferente, dado que somos um mercado emergente que depende mais de 50% do volume de operações em bolsa do investidor estrangeiro”, destacou a Órama.

    “Os rumos dos mercados nos próximos dias serão definidos pela capacidade das instituições brasileiras de conseguir evitar novos atos de vandalismo, e também não permitir a adesão de categorias importantes, como os caminhoneiros. O restabelecimento da ordem pública com demonstração de controle e coordenação política se mostram mais importantes que nunca”, acrescentou a corretora.