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    Arrecadação é principal dúvida em projeto de novo marco fiscal, dizem economistas

    Fazenda divulgou nesta terça-feira (18) texto do projeto do novo marco fiscal, que traz detalhamento em relação ao sumário lançado anteriormente

    Redação aponta uma lista de 13 itens, que representam exceções ao limite de gastos
    Redação aponta uma lista de 13 itens, que representam exceções ao limite de gastos Getty Images

    Pedro Zanattada CNN

    em São Paulo

    O governo apresentou ao Congresso nesta terça-feira (18) o texto do Projeto de Lei Complementar (PLP) do novo marco fiscal. As linhas gerais da proposta foram apresentadas no dia 30 de março.

    O texto traz detalhamento em relação ao sumário divulgado anteriormente. A redação aponta uma lista de 13 itens que representam exceções ao limite de gastos.

    Após a divulgação do texto mais detalhado que o apresentado em 30 de março, economistas consultados pela CNN apontam que ainda resta dúvida com relação ao mecanismo para chegar na arrecadação para atingir as metas de superávit, assim como o resultado primário de 2024, estabelecidas no projeto.

    “Ainda sobram as dúvidas, a maior é se de fato a Fazenda vai conseguir aumentar o nível de receita como eles tem dito. A capacidade de aumento de receita que estava sendo indicada será uma frente de batalha para esse arcabouço funcionar, ele precisa desse aumento”, disse Tony Volpon, ex-diretor do Banco Central (BC).

    De acordo com um estudo feito pela Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil (Unafisco), para dar certo a nova regra, a arrecadação precisará de um incremento de R$ 150 bilhões a R$ 200 bilhões.

     

    Sergio Vale, sócio da MB Associados, explica que as projeções que têm sido feitas pelo governo como aquelas apresentadas na segunda-feira (17), com o projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2024, são otimistas.

    A própria coletiva de imprensa do LDO informou ser necessário um esforço de R$ 155 bilhões em receitas para fechar as contas, considerando medidas que ainda não foram anunciadas.

    De acordo com o arcabouço fiscal, o crescimento do gasto público em 2024 deveria ser 70% do crescimento da receita real acumulada até a metade do ano anterior, ou seja, até a metade deste ano.

    A MB Associados projeta que, dada a forte desaceleração da receita, o crescimento real do gasto projetado para 2024 deveria ser no piso de 0,6%. Mas o governo estima crescimento de gasto real para o ano que vem em 2,1%, sem considerar possíveis aumentos em salário mínimo, investimentos e funcionalismo público que poderão acontecer ainda.

    Ao mesmo tempo, o governo trabalha com crescimento real de 7,8% na receita líquida ano que vem.

    “Tem essa estimativa super alta de crescimento de receita para o ano que vem de quase 8%, não vemos isso acontecer, vai depender de esforço do governo para conseguir essa arrecadação”, diz Vale.

    Para o economista, o cenário é de que o governo, com os atuais resultados e projeções, o governo “vai viver contingenciando para entregar os resultados”.

    “A regra é baseado quase integralmente em aumentar arrecadação para fazer o ajuste fiscal. Sem falar das exceções que ainda estão fora, todo o ajuste vai ter que ser integralmente da receita. Tanto que o governo jogou na LDO a arrecadação de quase 8%, quase impossível fazer isso para o ano que vem sem aumento de imposto, alíquota”, conclui.

    Nesta terça-feira (18), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que há medidas no Congresso que podem aumentar a arrecadação, como a regularização de fundos fechados, repatriação e atualização de valores de imóveis no Imposto de Renda.

    “Se decidirmos por uma dessas ou outra, vamos colocar na peça orçamentária”, explicou o ministro. Haddad afirmou que todo o governo tem o direito de mudar os parâmetros da regra fiscal.

    Além disso, os especialistas apontam também para a lista de exceções divulgadas no texto da proposta. A redação aponta uma lista de 13 itens, que representam exceções ao limite de gastos.

    Estão entre elas o piso dos enfermeiros, o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), despesas não recorrentes com a realização de eleições, capitalização de estatais não financeiras e não dependentes e precatórios.

    Para Rafaela Vitória, economista-chefe do Inter, avalia que apesar do limite de crescimento dos gastos ser positivo, tanto pelo teto de 2,5% como pela proporção de crescimento da receita em 70%, ainda há dúvidas sobre a capacidade do governo de cumprir a regra.

    “Considerando as exceções que foram definidas como gastos com educação, saúde e até capitalização de estatais, bem como as propostas de novas políticas públicas que demandam mais gastos, como a valorização do salário-mínimo”.

    A economista também se mostra cética com relação às metas apresentadas pelo governo e pela LDO. Vitória considera que a meta de superávit primário tinha sido vista como positiva, uma vez que mostra o comprometimento do governo em reverter a atual previsão de déficit de mais de R$ 100 bilhões para esse ano, segundo último relatório bimestral do tesouro.

    Contudo, a economista chama a atenção para a meta do próximo ano. “A meta de zerar o déficit até 2024 é bastante ousada e é baseada em aumento de arrecadação que ainda são incertos e, por isso, sua credibilidade deixa dúvidas.”

    Os especialistas ouvidos pela CNN consideraram ainda que a penalização pelo descumprimento das regras é frágil, uma vez que, segundo o projeto, o presidente terá de enviar ao Congresso Nacional uma mensagem com os motivos desse descumprimento e o que poderá fazer para tentar corrigir o rumo das contas públicas.

    O projeto diz ainda que o não cumprimento da meta de superávit primário “não configura infração a esta Lei Complementar”.

    Entenda a proposta

    A nova regra fiscal prevê que — para os exercícios de 2024 a 2027 — os gastos do governo não podem ter crescimento acima de 70% do crescimento da receita.

    Em momentos de avanço excepcional da arrecadação, porém, a despesa primária não poderá ter crescimento acima de 2,5% ao ano. Caso haja retração extraordinária, a despesa primária adotará outro gatilho e não poderá crescer mais que 0,6% ao ano.

    O plano ainda estabelece metas de superávit primário. A ideia é de que o governo tenha déficit primário zero em 2024, superávit de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2025 e de 1% em 2026.

    Se a meta de superávit primário não for atingida e o resultado ficar fora da variação tolerável, haverá obrigação de redução do crescimento de despesas para 50% do crescimento da receita no ano seguinte.

    Confira o texto na íntegra.