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    Argentinos votam nas primárias em meio a crise econômica que assola o país há 20 anos

    Entre seca e câmbio, economia enfrenta grandes desafios que começaram em 2001; país vota neste domingo nas primárias para a Presidência

    Germán Padingerda CNN

    Buenos Aires

    As eleições primárias argentinas ocorrem neste domingo (13), definindo quem disputará a vaga do presidente Alberto Fernández, que não concorre à reeleição.

    Os cidadãos devem ir às urnas neste domingo (13) para as Primárias Abertas Simultâneas e Obrigatórias (PASO); no dia 22 de outubro para as eleições gerais; e, se for o caso, em 19 de novembro para o segundo turno.

    As eleições deste domingo se dão em meio a (mais uma) das maiores crises econômicas do país. No final de julho, a Argentina chegou a um acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para desbloquear US$ 7,5 bilhões (R$ 35 bilhões) e concluir a quinta e a sexta revisões do programa de empréstimos de US$ 44 bilhões (R$ 208 bilhões) do país.

    O acordo, que ainda precisa da aprovação do Conselho Executivo do FMI, facilita alguns requisitos do programa porque uma seca devastadora criou um ambiente econômico “muito desafiador” na Argentina, fazendo com que algumas metas financeiras do final de junho não fossem cumpridas.

    Produtor de alimentos

    A Argentina é um dos maiores países do mundo em território, além de um histórico produtor de alimentos, que nos últimos 20 anos tem alternado períodos de crescimento com fortes crises econômicas.

    Declarada independente da Espanha em 1816, a Argentina ocupa uma área de 3.761.274 quilômetros quadrados (incluindo 2.791.810 do continente americano, 965.597 do continente antártico e 3.867 das ilhas ao sul em disputa com o Reino Unido), segundo o Instituto Geográfico Nacional do país. Isso torna o país o oitavo maior em território do mundo.

    O país está localizado na América do Sul e faz fronteira com Chile, Bolívia, Paraguai, Brasil e Uruguai. Além disso, possui um extenso litoral de 4.725 quilômetros, banhado pelo Oceano Atlântico. A oeste, seu território é cercado pela Cordilheira dos Andes.

    O clima da Argentina é, na maioria das vezes, temperado, embora existam regiões tropicais ao norte e regiões subantárticas ao sul.

    O país tem planícies férteis em sua região central, além de importantes recursos minerais e pesqueiros, com jazidas de petróleo e gás.

    A maior cidade da Argentina é a capital Buenos Aires (com 12,8 milhões de habitantes), seguida por Córdoba (1,45 milhão), Rosário (1,23 milhão) e Mendoza (930 mil).

    De acordo com os resultados preliminares do último Censo, realizado em 2022, a população total ascende a 46.044.703 habitantes.

    Produtos principais

    Devido às extensas e férteis planícies centrais, conhecidas como “os pampas úmidos”, a Argentina se tornou um histórico produtor de alimentos, incluindo soja, milho, trigo, girassol e cevada, além de carne e laticínios.

    Existem também inúmeras operações de mineração no país, que produzem principalmente zinco, ferro, cobre, urânio e outros, entre outros. Também há depósitos de petróleo e gás natural.

    Além de alimentos e matérias-primas, a Argentina possui um setor industrial importante e diversificado, embora alguns setores dependam de medidas protecionistas para sobreviver.

    Seus principais produtos incluem alimentos processados, veículos, bens de consumo, têxteis, produtos químicos e aço, entre outros.

    A indústria local é uma importante fonte de emprego no país (28,6% da força de trabalho total), embora os serviços liderem o ranking (66,1%). Já o setor agropecuário emprega 5,3% do total.

    O desemprego atingiu a marca de 6,9% no primeiro trimestre de 2023, segundo o Instituto Nacional de Estatística e Censos (Indec).

    Veja também – Desinteresse de argentinos por eleição mostra democracia enfraquecendo, diz especialista

    Economia argentina: crise estourou em 2001

    Em dezembro de 2001, a crise econômica e política mais importante da história recente da Argentina estourou em meio a uma onda de protestos contra as restrições impostas pelo governo aos saques em bancos — uma medida conhecida como “corralito” .

    A economia do país já estava em crise devido à recessão e ao alto índice de desemprego.

    Na sequência, veio a renúncia do presidente Fernando de la Rúa e um colapso inédito do Produto Interno Bruto (PIB): após cair 4,4% em 2001, o índice baixou 10,9% em 2002.

    O país parecia ter atingido o fundo do poço em 2003, quando se iniciou um período de recuperação econômica, com altas taxas de crescimento (exceto em 2009, durante a crise financeira global).

    Até que, em 2012, a situação parecia ter estagnado.

    A partir desse ano, a economia passou a alternar anos de crescimento e quedas moderadas.

    O PIB voltou a cair desde 2018 e foi duramente atingido pelas restrições impostas em meio à pandemia da Covid-19 em 2020.

    Em 2021, em meio à recuperação da crise anterior, o PIB saltou para US$ 487,230 milhões, em valores nominais. No ano seguinte, o índice atingiu a marca de US$ 632,770 milhões, de acordo com o Banco Mundial.

    Ajustado pela paridade do poder de compra, o PIB real da Argentina atingiu US$ 1.040.000 milhões em 2022. Isso significava um PIB nominal per capita de US$ 13.686, e um PIB real per capita de US$ 26.604.

    Embora as exportações liderem, os produtos agrícolas compõem 10,8% do PIB do país. Os industriais representam 28,1% e os serviços 61,1%.

    Em 2022, após o colapso durante a pandemia e a consequente recuperação a partir de 2021, o total de exportações no país atingiu US$ 88,446 milhões, segundo dados do Indec.

    Deste número, US$ 23.830 milhões foram de produtos primários, US$ 33.050 milhões de manufatura agrícola, US$ 23.050 milhões de manufatura industrial e US$ 8.509 milhões de combustíveis e energia.

    No mesmo ano, foram importados bens no valor total de US$ 81,523 milhões, dividido em bens de capital (US$ 12,454 milhões), bens intermediários (US$ 30,009 milhões), combustíveis (US$ 12,867 milhões), peças e acessórios industriais (US$ 15,036 milhões), bens de consumo (US$ 8,567 milhões), veículos (US$ 1,995 milhão), entre outros.

    Balança comercial

    Afetada pela escassez de dólares em suas reservas, a Argentina vive tensões econômicas devido a sua balança comercial: quando a economia do país cresce junto das exportações, também aumentam as importações.

    Como consequência disso, com o efeito recente da guerra entre Rússia e Ucrânia, em 2021 as importações de combustíveis somaram US$ 5,843 milhões e mais que dobraram no ano seguinte.

    Os dados de exportação não levam em conta o impacto da seca que afetou o país entre o segundo semestre de 2022 e o início de 2023, atingindo sua produção agrícola.

    Segundo relatório da Bolsa de Grãos de Buenos Aires, é esperada uma redução nas exportações de até US$ 14,115 milhões.

    Além disso, por quase uma década, a Argentina tem enfrentado altos níveis de inflação. Em junho, o Indec registrou alta de 115,6% no índice de preços ao consumidor.

    O ex-presidente Mauricio Macri, antecessor de Alberto Fernández, deixou o governo com inflação de 53,8% ao ano. Já Cristina Kirchner encerrou seu mandato em 2015 com inflação entre 18,5% e 30%.

    Moeda e salários desvalorizados

    Enquanto isso, a moeda oficial da Argentina, o peso, vem se desvalorizando consistentemente desde o fim da chamada “conversibilidade” em 2002, quando o país abandonou o regime cambial com o dólar.

    A cotação encerrou 2022 a 179 pesos por dólar, ante 104 pesos por dólar em 2021 e 60 pesos por dólar em 2020, segundo dados do Banco Central. Dez anos antes, em 2010, o câmbio era cotado a 3,98 pesos por dólar.

    No país, as cotações do dólar variam muito por conta das restrições de compra: a moeda vai desde o dólar oficial, utilizado no comércio, até o obtido na Bolsa de Valores (o MEP). Além disso, há o dólar paralelo, ou “azul”, que ultrapassou os 500 pesos em julho e continua em alta expressiva.

    Nesse contexto, o país tem atualmente um dos salários mais baixos em dólares da região: o salário base mensal de 112.500 pesos argentinos equivale aproximadamente a US$ 391 no câmbio oficial ou US$ 225 no “dólar azul”.

    A isso, deve-se acrescentar que 45% dos trabalhadores na Argentina não são registrados como tal, ou seja, são informais, segundo a Organização Internacional do Trabalho.

    O setor público na Argentina tem registrado um alto déficit primário em suas contas públicas, que em abril de 2023 atingiu 331.372,8 milhões de pesos argentinos (cerca de US$ 1.245 milhões pela taxa de câmbio oficial).

    Enquanto isso, o coeficiente de GINI, que mede a distribuição de renda, ficou em 0,42 em 2021 (onde 0 indica maior igualdade e 1 maior desigualdade), segundo o Banco Mundial. Isso coloca o país em 51º lugar entre 174 economias, de acordo com o The World Factbook.

    Veja também: Aumento de despesas e incertezas na arrecadação ameaçam equilíbrio fiscal, dizem economistas

    Publicado por Amanda Sampaio, da CNN.

    Este conteúdo foi criado originalmente em espanhol.

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