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    Após pico em 6 anos, inflação deve frear em 2022, mas com riscos, dizem analistas

    Alta de juros deve aliviar elevação de preços, mas câmbio ficará pressionado com eleição e desdobramentos externos

    Eleição, alta de juros nos EUA e riscos climáticos e sanitários podem limitar queda da inflação em 2022
    Eleição, alta de juros nos EUA e riscos climáticos e sanitários podem limitar queda da inflação em 2022 Pexels

    João Pedro Malardo CNN Brasil Business

    em São Paulo

    A inflação em 2021 ficou consideravelmente acima do teto da meta do governo, de 5,25%, com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechando o ano em 10,06%. O valor é o maior nos últimos seis anos, mas economistas esperam que o quadro inflacionário em 2022 seja menos negativo, apesar de riscos.

    O movimento de alta da taxa Selic pelo Banco Central, que passou de 2% em janeiro de 2021 para os atuais 9,25%, deve ser o principal responsável pela desaceleração da inflação.

    Atualmente, as projeções rondam a casa dos 5%, com pequenas variações para cima ou para baixo, mas ainda superior à meta de 2022 do governo, de 3,5%, e rondando o teto, de 5%.

    Além disso, altas superiores a esse patamar não são descartadas, segundo economistas consultados pelo CNN Brasil Business.

    A instabilidade política em ano eleitoral, a possibilidade de novos gastos do governo e uma alta de juros nos Estados Unidos são os principais riscos inflacionários para o ano, e podem agravar o quadro atual. Além disso, ainda há incertezas com relação à pandemia, com a variante Ômicron podendo gerar novos impactos para a economia.

    Resultado em 2021

    Segundo André Braz, coordenador dos índices de preços do Ibre/FGV, a alta da inflação em 2021 foi acarretada principalmente pela elevação no grupo dos energéticos.

    “A crise hídrica aumentou o preço da energia, e alta do petróleo fez os combustíveis subirem. Pelo menos metade da inflação veio dos energéticos, e isso é um problema porque são insumos essenciais para outros setores, conforme eles sobem, há pressão de custos, que virou aumento de preços, na indústria e serviços”, diz.

    Sérgio Vale, economista da MB Associados, afirma que o resultado para 2021 ficou “um pouco acima do esperado”, mas não foi uma grande surpresa. Ele avalia que o IPCA está pressionado há muito tempo, e todas as surpresas dadas ao mercado em 2021 foram com números acima do esperado.

    Para ele, 2021 foi um “ano atípico”, em que a economia acabou enfrentando um cenário de diversos tipos de pressões inflacionárias. De um lado houve os efeitos da alta do dólar e do preço das commodities, além da crise energética interna.

    Outro fator, inédito, segundo ele foram os problemas nas cadeias de abastecimento mundiais devido à pandemia, encarecendo insumos e produtos. “Foram vários choque ao mesmo tempo, jogando a inflação para cima”, diz.

    Além das altas nos combustíveis e no preço da energia, Juliana Inhasz, professora do Insper, cita o aumento nos preços dos alimentos em 2021. A elevação, de cerca de 7%, ficou abaixo do IPCA e de 2020, mas ainda pesou para os brasileiros.

    “Foi um grupo que subiu bastante, motivado muito por secas em alguns casos mas também aumento de custo de produção por energia e combustível”, diz. Ela cita, ainda, efeitos das mudanças climáticas, como as fortes geadas em 2021 com quebra de safras.

    “Temos outros grupos importantes na composição do IPCA, mas variaram muito ao longo do ano, segurando mais ou menos, como vestuário”, afirma.

    Braz avalia que 2021 “foi um ano difícil, de retomada. Nenhum setor teve um grande desempenho, foi um ano de recuperação dura, e todos foram afetados em algum nível por esses aumentos de preços em cadeia”.

    Perspectivas para 2022

    As projeções para a inflação ao fim de 2022 são menores que as de 2021, apesar de ainda ficarem distantes do centro da meta e beirando o teto. Tanto a MB Associados quanto a Ativa Investimentos mantiveram as projeções após o dado acumulado anual, esperando alta de 4,7% em 2022.

    Já a XP Investimentos também manteve a projeção, mas com elevação de 5%. Enquanto isso, a economista-chefe da Rico, Rachel de Sá, espera uma inflação em 5,2%. A Genial Investimentos também espera uma inflação acima do teto, mantendo a projeção em 5,3% após o dado desta segunda-feira.

    “Muito provavelmente teremos uma inflação menor, com queda, mas ainda com valores historicamente altos. Começamos projetando em cerca de 5%, mas é um ano difícil”, afirma Inhasz.

    A professora considera que a combinação das eleições no Brasil em 2022, a possibilidade de novos aumentos de combustíveis devido aos preços no mercado externo e o risco de ocorrerem novos problemas climáticos ou ligados à pandemia geram uma “incerteza grande”.

    Sérgio Vale afirma que o cenário ainda é preocupante em 2022, principalmente porque “o Banco Central está trabalhando sozinho [para conter a inflação], no 2º semestre o governo meio que abandonou a política fiscal”.

    Como resultado, a expectativa é de novas altas na taxa Selic, o que deve ajudar a conter a inflação, mas às custas de um crescimento menor.

    “A inflação deve desacelerar, pelo menos metade do que foi no ano passado, mas vai ter o trabalho do Banco Central para isso”, diz.

    Como um fator positivo, ele cita a expectativa de uma safra melhor na agricultura, e elevações no câmbio e nas commodities que, mesmo ocorrendo, devem ser menores que em 2021. “As pressões vão aparecer, mas talvez em um grau menor, o que ajuda”.

    Já Braz destaca uma “persistência maior do processo inflacionário, em parte sustentada pelo aumento de insumos”, o que exigirá a manutenção da atuação forte por parte do Banco Central.

    Riscos

    Para Vale, “o risco que temos é que a economia tem inflação pressionada, precisando subir juros com intensidade para evitar que a inflação contamine mais a economia em um ano que já será difícil, com período eleitoral tenso, cenário de política econômico complicado, câmbio complicado também”.

    Ele afirma que a economia já tem dado sinais de setores contaminados pela inflação, caso do de serviços, refletindo em um efeito em cadeia de altas, incluindo em áreas como IPVA, IPTU e educação.

    Olhando para o exterior, o economista considera que o maior risco vem da alta de juros nos Estados Unidos, já antecipada pelo Federal Reserve. “Isso tende a apreciar o dólar e depreciar moedas como o real, em meio a um cenário político incerto no Brasil”.

    “O mercado deve ficar bem estressado, então o câmbio seguirá pressionado, se subir mais, chegar até R$ 6, é um cenário concreto de pressões adicionais na inflação”.

    A pressão cambial acaba sendo perigosa, e pode criar um “ciclo vicioso” em que a inflação vai se retroalimentando conforme se espalha pelos setores da economia, servindo como um elemento de tensão neste ano.

    Na avaliação de Braz, o grande risco interno é a eleição presidencial. “Ela pode fazer com que o governo deixe de lado a política fiscal, como já demonstrou fazer, mas essa política é fundamental para valorizar o real”.

    O risco, nesse sentido, é de reduzir a atratividade do mercado brasileiro mesmo com juros maiores, em um cenário que já será complicado devido aos juros elevados nos Estados Unidos, contribuindo para a desvalorização cambial.

    “Uma moeda ainda desvalorizada é problema para a inflação, pois pode aumentar o volume de exportações e desabastecer o mercado interno, com o preço subindo  no caso da carne, e os importados ficam mais caros, em especial insumos”, diz.

    Ele considera ser “fundamental” ter uma política fiscal ligada à monetária, mas afirma que esse não tem sido o caso.

    Além disso, é importante ficar atento à área de agricultura, com impactos de questões climáticas.

    “Imaginávamos que a agricultura fosse oferecer alguma trégua, mas os efeitos climáticos recentes, de chuva forte no Sudeste e seca no Sul, podem mudar a situação. Se durarem mais, podem comprometer safras com ciclo de produção mais longo, virou uma preocupação e risco inflacionário”, diz.

    Para Inhasz, o Banco Central “está fazendo essa cruzada contra a inflação completamente só. O governo não tem dado as caras para contribuir com o controle inflacionário, não faz medidas como avançar com reforma administrativa, medidas fiscais mais sustentáveis, reforma tributária. O fato de não estar fazendo já contribui negativamente, piora o cenário”.

    Devido ao ano eleitoral, a professora afirma que não é difícil imaginar a realização de greves e outros eventos de pressão sobre o governo que aumentariam custos e preços. A eleição pode acabar sendo um “ponto de inflexão” nesse quadro.

    Na avaliação de Inhasz, “hoje não temos elementos novos para falar de mudanças nas perspectivas, mas talvez exista uma tendência de alta. Uma inflação de 5% é pouco realista hoje, é um 5% apontando para cima”.

    Outro risco é o de novidades negativas na pandemia. A disseminação da variante Ômicron, mais transmissível, “embola o cenário”, segundo Braz. “Ela pode trazer novos problemas para as cadeias produtivas, e se tiver novas paralisações, com novas desmobilizações de cadeia, pode pressionar a inflação”.