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    Após discurso de Campos Neto, analistas continuam a prever manutenção dos juros

    Ao CNN Brasil Business, especialistas ressaltaram que apostas seguem para Selic inalterada a 13,75%, mas aumento de 0,25 ponto percentual não seria surpresa

    Movimentação de pessoas em edifício sede do Banco Central em Brasília
    Movimentação de pessoas em edifício sede do Banco Central em Brasília Foto: BRUNO ROCHA/FOTOARENA/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO

    Fabrício Juliãodo CNN Brasil Business

    em São Paulo

    Após o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, afirmar que continuaria com o pensamento de convergir a inflação, analistas disseram ao CNN Brasil Business que mantêm a expectativa para a manutenção dos juros em 13,75% na próxima reunião do Copom, ainda que o discurso possa ter sido considerado mais duro por parte do mercado.

    Campos Neto afirmou na noite de segunda-feira (5) que avaliaria “um possível ajuste final” na trajetória dos juros nas próximas reuniões do Copom, marcadas para os dias 20 e 21 de setembro. A declaração foi realizada no evento “Prêmio Valor 1000”, promovido pelo Jornal Valor Econômico, em São Paulo, e refletiu na abertura da bolsa nesta terça-feira (6), com os investidores considerando uma margem para um avanço da Selic em 0,25 ponto percentual, indo a 14% ao ano.

    “Não interpreto como um indicador de que será tomada uma decisão pelo aumento dos juros novamente. Faz parte do papel do BC estar vigilante e dizer que continuará atento, mas não é o esperado um movimento que levasse a Selic para 14%”, afirmou o economista-chefe da Órama, Alexandre Espírito Santo

    Segundo ele, o cenário interno apresenta avanços importantes na economia, e um aumento de 0,25 ponto percentual neste momento não teria um impacto relevante que justificasse a continuação da escalada.

    “O que preocupa é a inflação de serviços, e uma possível subida nos juros não vai afetar ela agora. Temos que pensar na questão fiscal, como vamos desatar os gastos no ano que vem. Então não seria uma surpresa se o Copom concedesse mais um reajuste nos juros no próximo encontro, mas não acho que isso vai acontecer, não vale à pena esse estresse”, acrescentou.

    Para André Perfeito, economista-chefe da Nécton, a expectativa de manutenção da Selic em 13,75% ao ano é compreensível à medida que o mundo entra em risco de recessão e está em processo de desaceleração, mas a elevação da taxa básica de juros não seria espantosa por conta da volatilidade do mercado.

    De acordo com os dados do Contrato de Opção de Copom, da B3, o mercado enxerga uma probabilidade de 81% de a Selic permanecer inalterada, contra 15% que acredita em um acréscimo de 0,25 p.p.

    “A projeção ainda é de manutenção [dos juros], mas não seria estranho se decidissem por um aumento, porque a incerteza em torno da economia está grande, estamos diante de um período de eleição, e quanto maior a incerteza, maior o risco”, pontuou Perfeito.

    Na avaliação do economista José Márcio Camargo, o discurso de Campos Neto é mais um recado ao mercado para que não antecipe a queda dos juros do que um alerta efetivo de seguimento com a escalada na taxa básica.

    Na ocasião, em evento do Jornal Valor Econômico, o presidente do BC disse que “não pensa em queda de juros neste momento”, ainda que uma parte do mercado acredite que seria apropriado iniciar um recuo.

    “Temos uma tendência de queda da inflação, mas ainda está muito no começo. O medo do Campos Neto e do Bruno Serra é de que o mercado comece a esperar uma queda nos juros antes do que eles gostariam de fazer”, disse Camargo.

    “Eu acredito na manutenção da Selic a 13,75%. Faltam muitos juros ainda para entrar nas atividades econômicas e, quando isso acontecer, a economia vai desacelerar e o impacto vai bater na inflação”, destacou o economista.

    Por outro lado, o professor de economia do Insper Alexandre Chaia afirmou acreditar que Campos Neto e o Banco Central pretendem alertar o mercado que estão preocupados com a questão fiscal, as políticas expansionistas dos dois principais candidatos à presidência no ano que vem, e vão atuar para deixar a inflação próxima à meta de 2023 e 2024.

    “Acredito que vai haver um aumento na próxima reunião, mas ontem o alerta foi mais no sentido educativo do que eficiente, um sinal de que apesar de eleições, o objetivo é trazer a inflação para próximo da meta nos anos seguintes”.

    “Mas 13,75% ou 14% neste momento não muda muita coisa, o que importa é o recado que o BC quer dar com isso”, salientou o professor.

    Para ele, o cenário externo piorou desde o último comunicado do Copom, com mais dúvidas sobre o petróleo e outras commodities, o que pode estar no radar da entidade monetária brasileira sobre suas próximas decisões para combater a inflação.

    “A próxima reunião não visa o combate da inflação de agora, mas sinaliza a posição do BC para o primeiro semestre do ano que vem, que é um período complicado por conta de um possível novo governo. Seja qual for o cenário, é provável que hajam gastos muito intensos e isso mantenha acesa a precaução com a inflação”, ressaltou.