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    Ano de 2022 está “perdido” do ponto de vista do crescimento, diz ex-secretário

    Para José Roberto Mendonça de Barros, combinação de inflação e juros elevados devem resultar em um PIB estagnado

    João Pedro Malardo CNN Brasil Business em São Paulo

    Para o economista e ex-secretário de Política Econômica José Roberto Mendonça de Barros, 2022 já é um “ano perdido” do ponto de vista do crescimento da economia. Segundo ele, o principal fator para isso é a combinação de uma inflação e juros altos.

    Em entrevista à CNN nesta quinta-feira (3), ele afirma que a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de elevar a taxa básica de juros, a taxa Selic, para 10,75% ao ano enquanto sinalizou uma redução do ritmo de alta foi “correta”, e que o órgão deve moderar o ciclo de elevação.

    “Se vai parar em 11,75% ou 12,25% é uma discussão que não vai ter fim até acontecer, mas com segurança o efeito negativo sobre a economia vai acontecer. Mas se não traz a inflação sob controle não tem crescimento, independente do resto”, diz.

    Segundo Mendonça de Barros, as ações do comitê do Banco Central envolvem a “técnica” e a “arte” da política monetária. “A técnica pedia um aumento vigoroso da Selic porque ela partiu de 2% e a inflação disparou para dois dígitos, essa velocidade de alta de juros é inevitável, não tem outro instrumento para isso. O que entra a arte é até onde vai”.

    Ele avalia que a autarquia está “meio sozinha” no combate à inflação, principalmente devido aos gastos públicos ainda elevados, e que a situação poderia melhorar se eles fossem reduzidos e se a situação internacional, como a tensão na Ucrânia e seu efeito sobre commodities, aliviasse.

    Mesmo assim, o economista diz que “já está dado que o crescimento vai ser próximo de zero e as famílias e as empresas vão viver um momento bastante difícil, isso não tem mais como tirar e talvez seja inevitável antes de construir as condições de crescimento”.

    Para o ex-secretário, a taxa de juros em 2% no início de 2021, quando já se notava um descolamento da inflação em relação às metas, foi “a mãe de todos os erros”. “O Banco Central ficou muito atrás, então teve que sair correndo mais atropeladamente. Ele não foi o único, o Fed está fazendo a mesma coisa e a economia global e os Estados Unidos vão sofrer o mesmo problema”, diz.

    Dentre os efeitos negativos de uma Selic alta para a economia, ele citou os problemas que famílias e empresas enfrentarão para renovar empréstimos, muitos deles com juros atrelados à Selic, em um cenário que deve levar algumas companhias à insolvência.

    Apesar de considerar que não há como reverter o quadro de estagnação em 2022, Mendonça de Barros afirma que existem ações que podem ser tomadas para evitar um quadro semelhante no próximo ano.

    “O que de melhor pode ocorrer para o Brasil é com o resultado da eleição acabe prevalecendo para o ano que vem uma política boa o suficiente para trazer de volta as condições para um crescimento sustentável”, diz.

    Ele ainda cita uma aceleração da vacinação para conter a variante Ômicron e permitir uma retomada da atividade, em especial no setor de serviços, e uma intensificação dos investimentos em infraestrutura, via concessões, que já estão em andamento.

    “Isso tem que continuar e acelerar porque o que emprega gente pra valer no curto prazo é construção civil, é o setor que mais precisa deslanchar”, afirma.

    O ex-secretário considera que o mundo enfrenta uma “economia da escassez”, em que choques de oferta têm feito a inflação em diversos países ficar sempre um pouco acima do projetado. No caso brasileiro, ela deve sair do patamar de 10%, mas ainda ficando entre 5% e 6%, e acima do teto da meta.

    “A inflação está demorando para fazer a inversão, e isso é uma das fontes de incerteza atual. Ela vai cair, mas antes dela ser domesticada ainda vai dar um pouco de trabalho”.