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    Alta nos juros dificulta pagamento de empréstimos pelo pequeno empresário

    Sebrae pontua que reajuste na Selic pode acarretar em menos linhas de crédito e aumento na inadimplência

    Getty Images

    Pauline Almeidada CNN

    no Rio de Janeiro

    Se o Banco Central (BC) aumentou a taxa básica de juros para segurar a inflação, a economia brasileira pode enfrentar outro problema em consequência: a dificuldade do empresariado de honrar parcelas de empréstimos, especialmente os pequenos negócios.

    Giovanni Beviláqua, analista da Unidade de Capitalização e Serviços Financeiros do Sebrae, explica que o reajuste da Selic tende a aumentar as taxas das linhas de crédito, como já foi observado no ano passado.

    Um levantamento feito pelo Sebrae, com base em dados do Banco Central, mostra que, em março de 2021, quando a Selic era de 2% ao ano, a taxa média de juros das operações de crédito para os pequenos negócios estava em torno de 26,5% ao ano — com 32,1% a.a. para microempreendedores individuais, 32,6% a.a. para microempresas e 24,9%a.a. para empresas de pequeno porte.

    Já em dezembro de 2021, com a Selic a 9,25%, a média havia subido para 31,1% ao ano, 4,6 pontos percentuais acima.

    “A elevação da Selic tende a tornar os recursos para operações de crédito para essas empresas mais escassos e restritos. Adicionalmente, por serem mais arriscadas, para essas empresas as taxas de juros são bem maiores que a Selic, aumentando assim os riscos de inadimplência pela própria alta dos juros”, apontou Beviláqua.

    Com mais de um milhão de microempreendedores e microempresas, os salões de beleza são uma das categorias afetadas.

    Uma pesquisa mostra que 44% dos estabelecimentos fizeram algum tipo de empréstimo durante a pandemia de Covid-19 — todos eles afetados pela alta dos juros, sendo que 15% estão com parcelas em atraso e 11% em negociação.

    O levantamento foi realizado pela Associação Brasileira de Salões de Beleza (ABSB), em parceria com o Sebrae.

    Nos últimos dois anos, mais de 375 mil salões foram à falência, segundo a ABSB, sendo que 47% dos profissionais em atividade declaram ter muita dificuldade para manter o empreendimento em pé, de acordo com o presidente da entidade, José Augusto Nascimento.

    “O setor de serviços, especificamente o de salões de beleza, vem em uma retomada com relação a 2019, com uma recuperação de 5% ao mês. Vendas de 30% a menos, mas recuperando mês a mês. Acreditamos que, a partir de maio, estaremos com os mesmos números daquele período e, a partir daí, crescendo efetivamente”, disse.

    Nascimento, no entanto, aponta que essa recuperação sofre o obstáculo dos juros. Quem pegou empréstimos do Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), criado durante a pandemia, viu as parcelas crescerem por conta da Selic.

    Inicialmente, a linha oferecia juros de 1,25% ao ano, mais taxa Selic. Depois, 6% mais Selic, sendo que a taxa básica de juros saltou de 2%, da mínima histórica, para 11,75% em um ano.

    Problema afeta dos serviços à indústria

    Bares e restaurantes também mostram dificuldade para honrar pagamentos. Segundo a Abrasel, entidade que representa o setor, dos 69% dos empresários que buscaram crédito durante a pandemia, 73% optaram pelo Pronampe e 19% deles estão com parcelas em atraso.

    “Tivemos novo aumento da Selic, que complica a vida de quem pegou empréstimos via Pronampe, já que o acréscimo nas parcelas gira já supera os 30%”, afirmou.

    “Ainda assim, as condições do Pronampe são melhores que as regulares concedidas pelos bancos. Estamos pleiteando uma revisão junto ao governo federal, de maneira que seja possível por mais um ano pagar somente o custo dos juros, deixando a amortização mais para frente, a exemplo do que foi feito com os municípios”, completou.

    Antonio Everton, economista da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), aponta que as constantes revisões da Selic exigem adequações do empresário.

    “Quem tem dívida, todo o esforço para pagar vai ter que ser maior. E nós temos duas situações, um ‘cobertor mais curto’, que é a possibilidade de redução das vendas. Por outro lado, o aumento do custo, que espreme um pouquinho as condições de funcionamento e operacionalidade da empresa”, ponderou.

    A preocupação vai além do comércio e atinge as indústrias, como elenca o presidente do Sindicato da Micro e Pequena Indústria do Estado de São Paulo (Simpi-SP), Joseph Couri.

    Uma pesquisa realizada pela entidade no estado mostra que 14% do setor tentou empréstimos no mês de fevereiro, sendo que 51% tiveram o pedido negado.

    “Qual é o reflexo disso? Você tem 12% das empresas usando cheque especial como capital de giro, o que é impagável. Isso bate diretamente na habilidade competitiva, o custo sobe… E vivemos a incerteza do que vai acontecer amanhã”, declarou.

    “A cada dia, a nossa economia e a economia do mundo vêm sendo atacadas de forma diferentes”, acrescentou, em menção à guerra na Ucrânia e ao novo surto de Covid-19 na China.