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    Alta dos preços de insumos pressiona os custos das concessionárias

    Patamar alto e persistente de insumos como asfalto e cimento são empecilho na reformulação de contratos

    Trecho da rodovia Presidente Dutra (BR 116) em Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo
    Trecho da rodovia Presidente Dutra (BR 116) em Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo Clóvis Rossi/Divulgação

    Amanda Pupo, do Estadão Conteúdo

    As concessões públicas de serviços de transporte, como de rodovias e de ferrovias, podem passar por uma onda de pedidos de reformulação de contratos que, na prática, pode levar a reajustes das tarifas de pedágios, adiamento de investimentos ou prorrogação dos acordos.

    O que ameaça esses negócios, de acordo com as empresas, é o patamar alto e persistente dos preços dos insumos, como asfalto e cimento, utilizados nos projetos, que estão elevados desde 2021 e não dão sinais de trégua neste ano. As concessionárias ainda estudam detalhadamente os impactos para recorrerem às agências reguladoras.

    O óleo diesel acumula alta de 46,47% em 12 meses e o preço do asfalto subiu 68,33% de outubro de 2020 a dezembro do ano passado, o que tem efeito direto na cadeia de suprimentos das concessionárias de rodovias, diante da obrigação de investimentos em obras. Para o setor de ferrovias, o cimento e o aço igualmente entram na conta.

    Segundo Marco Aurélio de Barcelos, presidente da ABCR, associação que representa as empresas do ramo, o aumento dos insumos está comprometendo a execução dos contratos, e começa a colocar a sustentabilidade financeira dos projetos em xeque.

    Isso porque há um descolamento do preço desses insumos e o IPCA, o índice oficial de inflação do país, que é usado para reajustar os valores das concessões em andamento.

    Procurada, a ANTT disse que acompanha a questão e que “vem dialogando com as concessionárias e entidades ligadas às rodovias concedidas”. “Mas ainda não houve pedido formal de análise de reequilíbrio”, afirmou.

    Impactos serão avaliados

    O governo federal trata o impacto dos insumos nas concessões com cautela. A avaliação é de que há diferença entre o patamar alto das matérias-primas e a queda da demanda durante a pandemia.

    O governo reconheceu a situação como extraordinária, facilitando pedidos de recomposição dos contratos.

    “Em termos de política pública, se vemos a necessidade de uma manifestação como tivemos na época da covid (parecer reconhecendo evento extraordinário)? Não, não vejo”, diz a secretária de Planejamento, Desenvolvimento e Parcerias do Ministério da Infraestrutura, Natália Marcassa.

    Ela reconhece o descolamento da inflação dos insumos para o setor e a inflação do consumidor, mas avalia que o efeito não deve ser tratado horizontalmente em todos os contratos.

    Por exemplo, se a concessão já passou da fase de obras de pavimentação, o preço do asfalto não faz mais diferença à empresa que administra a rodovia. Para ela, o contexto atual pode apenas gerar uma avaliação caso a caso.

    “Temos impacto real, e na maioria dos contextos essa paridade vai ocorrer ao longo dos próximos anos. Isso sempre acontece, para cima e para baixo. Acho que é um risco que o poder privado tem condições de alocar”, disse ela.

    “Pode ser que em algum momento do fluxo de caixa esse tipo de situação impacte muito, e aí sim tenha de ser recomposto o equilíbrio, mas acho que é uma questão caso a caso e de momento do contrato de concessão”, acrescentou.

    O diretor executivo da Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF), Fernando Paes, defende que a crise na cadeia de suprimentos decorrente da pandemia, responsável pela inflação alta das matérias-primas, é um fator que as concessionárias não teriam como prever.

    No segmento de ferrovias, além da repercussão direta do diesel na operação, Paes destacou o impacto dos insumos nas obras do setor, que vive nova fase com leilões recentes — como da Ferrovia Norte-Sul e Fiol — e renovações contratuais.

    “O aumento dos insumos impacta na veia o valor das obras. E agora esse descolamento saiu de qualquer previsão”, disse.

    Segundo as concessionárias, dados do fim de 2021 mostram que, para o material rodante ocorreram reajustes de 10% para componentes de sinalização, de 35% a 40% para rodas de vagões e de 70% a 80% para rodas de locomotivas. Os eixos estão quase 50% mais caros.

    As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.