Ainda sem impacto da Ômicron, índice de incerteza tem 2ª queda seguida em novembro
Indicador da FGV mostra tendência de redução gradual, que pode ser impactada pela maneira como a variante afetar o cenário da pandemia
O ambiente de incertezas na economia brasileira tem diminuído — ao menos até a chegada da nova variante do coronavírus. É o que aponta o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV/Ibre), que divulgou nesta terça-feira (30) os números atualizados de seu indicador mensal para o tema.
Ele recuou dois pontos em novembro, em relação a outubro. Com essa, que foi a segunda queda consecutiva, está e 129,3 pontos, em uma escala que tem em 100 o ponto de neutralidade.
Apesar do recuo, o Indicador de Incerteza da Economia (IIE-Br) ainda segue 14,2 pontos acima do nível registrado em fevereiro de 2020, o último mês antes do início da pandemia de Covid-19.
Na série histórica, iniciada em 2000, o momento de menor incerteza ocorreu em dezembro de 2000, quando o indicador somou 83,6 pontos. O de maior foi registrado em março de 2020, já na pandemia, quando bateu 210,5.
Antes da pandemia, o indicador se mantinha na faixa de 115 pontos. Conforme a organização da consulta, o cenário atual é influenciado por conta da alta da taxa básica de juros, pela persistência inflacionária, pela crise política e pela instabilidade político-fiscal, provocada pela discussão sobre a PEC dos Precatórios no Congresso Nacional e a possibilidade de o governo federal furar o teto de gastos.
Economista e pesquisadora a do FGV Ibre, Ana Carolina Gouveia destaca que o resultado de novembro ainda não inclui nenhum tipo de impacto da variante Ômicron do coronavírus, considerada de preocupação pela Organização Mundial de Saúde (OMS) por ser mais transmissível que as demais.
Contudo, o comportamento dela no cenário da pandemia tende a influenciar os resultados apresentados nos próximos meses.
“Se ela se disseminar, no cenário de ondas, e o Brasil precisar fechar lojas ou de algum grau de paralisação da economia, é possível que esse cenário de queda gradual seja interrompido. Mas, se isso não acontecer e a vacinação continuar a avançar pelo país, com redução de internações e mortes, o mais provável é que o cenário atual se mantenha. Nesse caso, o ritmo ficaria lento por conta das incertezas internas”, afirma a especialista.
O cenário de instabilidade tem provocado redução nas expectativas para o quarto trimestre, o que levou a uma série de revisões, para baixo, do Produto Interno Bruto (PIB) de 2021. As expectativas negativas também têm provocado revisão nas projeções para o ano que vem.
“Esses problemas têm carregado as projeções para 2022, com toda dificuldade para retomada econômica provocada pelo elevado nível de incertezas. A inflação elevada corrói a renda dos brasileiros, que não conseguem consumir bens essenciais. Nesse cenário, fica cada vez mais difícil prever o comportamento da taxa básica de juros para daqui a um ano”, conclui Ana Carolina Gouveia.