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    100 dias de Lula: bolsa tem 2º pior desempenho de um início de mandato e dólar recua para perto de R$ 5

    Ibovespa acumula queda de quase 8%, mas cotação do dólar voltou para a faixa dos R$ 5 e está nas mínimas do ano

    Juliana Eliasda CNN

    em São Paulo

    O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chega ao 100º dia de seu terceiro mandato nesta segunda-feira (10) sob sinais mistos dos principais indicadores financeiros: ao mesmo tempo que os investidores estão dando, em alguns momentos, um voto de confiança ao novo governo, também deixam ainda um pé atrás no aguardo de ações mais concretas da política econômica.

    O Ibovespa, por exemplo, que chegou a recuperar os 114 mil pontos em janeiro, afundou de volta para perto dos 100 mil pontos nos últimos dias, faixa em que não encostava desde julho do ano passado.

    Por outro lado, tanto o dólar quanto os juros futuros tiveram melhoras significativas e estão, hoje, nos melhores patamares do ano.

    “A apresentação do marco fiscal era o que estava demorando e causando apreensão e, mesmo que não tenha o melhor dos formatos, certamente ajudou, mostrando um reflexo nítido na curva de juros”, disse o economista-chefe da Inifinity Asset, Jason Vieira.

    O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, apresentou no fim de março as bases da prometida e aguardada regra que deve substituir o teto de gastos como mecanismo de controle do aumento das despesas e da dívida pública.

    “Mas os indicadores ainda estão oscilando bastante”, acrescenta Vieira. “Quando o governo começou, houve boa vontade dos investidores; a bolsa subiu, houve um fechamento da curva de juros. Mas os mercados reagiram, depois, aos sinais do próprio governo de que não queria reformas e que poderia até reverte-las, além dos ataques a instituições como o Banco Central.”

    Pior Ibovespa desde FHC

    No ano, o Ibovespa acumula queda de 7,9%, considerado o fechamento até 5 de abril. O desempenho vai na contramão do que acontece no exterior. O S&P 500, por exemplo, um dos principais índices das bolsas americanas, avançou 6,8% no mesmo período.

    Foi um dos poucos momentos em que a bolsa brasileira descolou da tendência externa e é o seu pior desempenho para um começo de governo desde o primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso, em 1995.

    Os dados foram levantados pela plataforma de investimentos TradeMap a pedido da CNN, considerando o desempenho nos 100 primeiros dias de todos os presidentes desde o início do Plano Real, em 1994.

    “Bem ou mal, a economia lá fora está resiliente, não tem o cenário de indefinição política e fiscal que temos aqui”, diz o analista de investimentos do Andbank Brasil Fernando Bresciani.

    “Ainda falta confiança e previsibilidade, é isso que o mercado continua esperando do governo. A bolsa é um reflexo: se tudo vai bem, a taxa de risco cai e as empresas crescem, mas o que temos é o contrário, um cenário de economia fraca como risco elevado.”

    Dólar e juros futuros em queda

    As expectativas para os juros, considerada a taxa do DI para janeiro de 2025, que começaram o ano acima dos 13%, cederam para a faixa dos 12% nos últimos dias, nas mínimas para o ano, após a apresentação do marco fiscal por Haddad.

    O dólar, que chegou perto dos R$ 5,30 em março, em meio aos embates de Lula com o Banco Central, voltou para a casa dos R$ 5 na semana passada, também nas menores cotações do ano.

    No ano, a moeda acumula queda de 4,8%, ajudada também por uma tendência de enfraquecimento do dólar frente a várias outras moedas no mundo.

    O próprio Lula já entregou um real mais fortalecido em outros momentos: nos 100 primeiros dias de seu primeiro mandato, em 2003, o dólar caiu 9% frente à moeda brasileira, e, no início do segundo, em 2007, a queda foi de 5,1%.

    Mas houve os governos que começaram com o dólar em disparada. Foi o caso do segundo mandato de Dilma Rousseff, em 2015, e também do segundo de Fernando Henrique, que logo no primeiro mês de 1997 abandonou a política de câmbio fixo que vigorava até então e viu um salto de mais de 40% na taxa de câmbio até o 100º dia daquele ano.

    Juros e inflação

    Os juros altos têm sido um dos principais alvos de Lula desde que assumiu. A Selic, taxa de juros de referência, é atualmente de 13,75%, taxa mais alta desde 2016.

    A variação do CDI em seus 100 primeiros dias, porém, é similar ao que Dilma, Michel Temer e o próprio Lula entregaram em mandatos anteriores: a taxa de juros bancária que acompanha a Selic acumulou variação em torno dos 3% nos 100 primeiros dias dos três ex-presidentes, e foi maior nos anos de Fernando Henrique e também no primeiro governo de Lula.

    O desempenho da inflação, apesar dos choques recentes durante a pandemia, também deixa o novo governo de Lula no meio do caminho: ela acumula alta de 2% até a prévia de março, medida pelo IPCA-15, dado mais recente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

    Pelo mesmo recorte, Jair Bolsonaro entregou a menor inflação, de 1,2% entre o primeiro dia de seu governo e o mês de março, em 2019. Lula, por outro lado, entregou um IPCA-15 acumulado em 5,4% até março de 2003, no primeiro mandato do petista.