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    Paulo Hartung
    Coluna

    Paulo Hartung

    Economista, presidente da Indústria Brasileira de Árvores (IBÁ). Foi governador do Espírito Santo

    Opinião

    O desafio brasileiro de não perder a oportunidade

    Nem em minhas mais otimistas previsões enquanto jovem estudante de Economia poderia prever a reviravolta econômica pela qual o Brasil passaria nas décadas que sucederam aqueles anos 1970. A geração que viu o país suspender o pagamento da dívida e declarar moratória jamais esperaria o bilionário saldo de uma balança comercial pendendo positivamente, tal como nos é apresentado hoje.

    Foi justamente em meados daquela década que começou minha militância política. Fui eleito o primeiro presidente do DCE (Diretório Central dos Estudantes) na Universidade Federal do Espírito Santo no processo de reorganização do movimento estudantil em meio à ditadura militar.

    De lá para cá, elegi-me deputado estadual (1983-1991), deputado federal (1991-1993) e prefeito de Vitória (1993-1997). Fui então convidado pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso a assumir a Diretoria de Desenvolvimento Regional e Social do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Em 1998, fui eleito senador (1999-2003) e, em 2002, governador de meu Estado. Após dois mandatos à frente do governo do Espírito Santo (2003-2010), atuei como economista no conselho da EDP Brasil e da Veracel, até voltar para um terceiro mandato no Executivo estadual em 2015.

    Há seis anos, após encerrar meu último ciclo de mandatos eletivos, embarquei na missão de estar à frente da Ibá (Indústria Brasileira de Árvores), entidade que representa um importante setor na economia brasileira: o de árvores cultivadas para fins industriais. Trata-se de um segmento do mercado afinado com o futuro, que há décadas investe pesadamente em ciência e tecnologia para escalar sua produção, ao mesmo tempo em que cuida das pessoas e protege o meio ambiente.

    O treinamento que tive na militância social, na vida pública e na atividade privada me inspira a tecer algumas considerações sobre o Brasil que vivemos hoje, assim como enseja um olhar sobre nosso futuro.

    A primeira delas é a constatação de que a justa insatisfação com certos descaminhos do país turva a visão mais clara sobre questões que conseguimos fazer avançar em tempos recentes. Refiro-me à agenda das reformas nos últimos anos, entre elas a da autoridade monetária, a trabalhista e a previdenciária, além da aprovação de importantes marcos regulatórios, como o do saneamento. Medidas cujos resultados já se mostram perceptíveis no presente.

    Ainda que em meio a muitos tropeços políticos e administrativos, superamos fragilidades do passado apresentando resultados econômicos positivos, como pudemos ver no saldo da balança comercial, no crescimento de nossas reservas internacionais, na queda da inflação e na melhoria do mercado de trabalho.

    Minha segunda consideração, e mais importante, é a de que ainda temos grandes desafios pela frente. Embora carregue certo otimismo lastreado na agenda reformista que percorremos, preocupo-me com sua descontinuidade. Aprovamos a reforma tributária, mas estamos apreensivos com sua regulamentação. Assistimos recentemente a mais um adiamento do enfrentamento de nossa desorganização fiscal. Ademais, é preciso encaminhar a reforma do RH do setor público, ter atenção com a gravíssima questão da segurança e do crime organizado, e cuidar com urgência da educação para a formação de capital humano, déficit escancarado para um conjunto de importantes setores da economia brasileira.

    Somos um país de imensos potenciais, mas ainda não nos livramos do costume, e da má fama, de deixá-los esvaírem-se. Podemos e devemos, por exemplo, ser pioneiros na seara da bioeconomia, assim como em muitas outras frentes. Abrigamos a maior floresta tropical, 20% da biodiversidade e 12% da água doce do mundo. Nossa matriz energética já é 47% renovável, temos um parque de hidreletricidade pujante, vento constante em diversas regiões, sol e boa experiência com biomassa.

    Nossas conquistas até aqui são relevantes, mas não dão conta das dimensões de nossos problemas. Reconhecer os avanços é fundamental, porém mais urgente é dar andamento ao que ainda não endereçamos. Só assim poderemos dar passos importantes rumo à superação de um rico país empobrecido pela displicência com nossas extraordinárias possibilidades. Só assim teremos reais condições de produzir prosperidade compartilhada para as atuais e as futuras gerações.

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