Caso Trump e o cântico da seleção argentina: o novo normal
Se tínhamos ainda dúvidas sobre o momento estranho e doentio ao qual passa a humanidade, os últimos acontecimentos, sobretudo nos quesitos violência, discurso de ódio, racismo e transfobia, evidenciaram que estamos distantes de uma sociedade que ousamos sonhar que seria melhor após a crise sanitária do Covid-19, que há bem pouco tempo levou milhões de pessoas a óbito mundo afora.
A tentativa de assassinato do candidato à eleição dos Estados Unidos Donald Trump e o cântico da seleção argentina entoado com versos racistas e transfóbicos, após a vitória na Copa América, onde a letra cita o jogador Mbappé e faz comentários transfóbicos e racistas como: “Eles jogam pela França, mas são de Angola. Que bom que eles vão correr. Eles se relacionam com travestis. A mãe deles é nigeriana, o pai deles, cambojano. Mas no passaporte: francês”.
Após o vídeo viralizar, a Federação Francesa de Futebol (FFF) recorreu à Fifa e à Associação de Futebol da Argentina para cobrar explicações sobre a música cantada pelos jogadores argentinos. A entidade francesa pediu punições para os atletas que ecoaram os cantos.
Embora casos como esse pareça isolado, ele tem uma grande conexão com os discursos de ódio e a intolerância presentes em vários países, sobretudo naqueles onde a polarização política é mais forte.
A rapidez com os avanços tecnológicos dos últimos três anos, principalmente com o advento da inteligência artificial como o ChatGPT, não tem auxiliado em nada nos quesitos discriminatórios no “novo normal”. E esperança que pós-Covid e poderia nos levar a um mundo mais solidário, menos violento, homofônico ficou só no sonho.
Estamos diante de uma concentração de renda ainda maior que antes, com manifestações racistas virando quase fatos corriqueiros, também agimos com normalidade diante de duas guerras como da Ucrânia e faixa de Gaza com normalidade.
A polarização política cada vez mais acentuada, como demonstrou recentemente nas eleições na França, no processo político nos Estados Unidos e nas pesquisas e até mesmo em nossa política doméstica, quando passados mais de dois anos da última eleição o país continua dividido.
Diante dessa atmosfera na qual nos encontramos, como se surpreender com fatos tão ultrajantes como o caso Trump e o do selecionado argentino? A violência, seja ela física, psicológica, racial ou de qualquer origem, deve ser combatida no seu nascedouro, numa educação não violenta, em um ambiente inclusivo e diverso, no respeito à opinião do outro, mas sobretudo na escolha dos representantes políticos e até desportivos que tenham ações e práticas não violentas ou racistas, e isso só depende de nós, seja na escolha de quem nos dirige ou na cobrança quando tais fatos ocorrem. É o mínimo que alguém que leva a representatividade de ser humano pode fazer, para não perdermos nesses tempos difíceis a sua humanidade, achando tudo normal.