World Wine: venda de vinhos caros dispara na pandemia, mesmo com dólar alto
De acordo com empresa, compra de garrafas acima de R$ 350 cresceu 50%; importação de vinho avançou 34% no 1º trimestre no Brasil
O mercado de vinhos tinha tudo para afundar neste ano de pandemia no Brasil: não bastando o país ter mergulhado em uma das piores recessões de sua história e o desemprego ter batido recordes, o dólar também disparou, o que deixou o acesso aos produtos que são majoritariamente importados –caso dos vinhos– ainda mais difícil.
Mas não foi o que aconteceu. Pelo contrário: o brasileiro completou este primeiro ano de pandemia bebendo muito mais vinho do que antes. É o que garante a World Wine, uma das maiores importadoras de vinhos do Brasil. E, apesar de a bebida de fora ter ficado, de fato, bem mais cara do que um ano atrás, o preço não parece ter sido um grande percalço –de acordo com a companhia, foi na faixa dos vinhos de maior valor, com preço superior a R$ 350 pela garrafa, que houve os maiores aumentos.
“Nossas vendas gerais cresceram cerca de 30%, e, quando olhamos para os vinhos mais caros, o aumento foi de 50%”, disse Juliana La Pastina, presidente do Grupo La Pastina, dono da World Wine e também da marca e importadora de alimentos La Pastina.
“Eu estou há 18 anos nesse setor e nunca vi o vinho tão inserido no cotidiano das pessoas como agora. É um aumento que vem acontecendo desde o início da pandemia. As pessoas passaram a consumir mais em casa e, parece, a buscar uma qualidade superior também.”
De acordo com Juliana, não é só nas bebidas que o tíquete médio subiu, mas também nos pratos. Azeites, sais especiais e massas artesanais, outros importados que estão no portfólio do grupo, também viram um salto na procura. “As vendas da nossa linha de massas especiais, que tem o preço mais elevado, cresceram mais de 100%”, disse ela.
A World Wine não está isolada na tendência. Dados da balança comercial do Ministério da Economia mostram que as importações de vinho no Brasil, em volume, cresceram 26% em 2020. No primeiro trimestre de 2021, ficaram 34% maiores que nos mesmos meses do ano passado, com os vinhos chilenos, portugueses e argentinos liderando as compras.
Dólar 40% mais caro e margens menores
O aumento na procura seguiu firme a despeito dos preços bem maiores com que muitos desses produtos passaram a cruzar a fronteira do Brasil. Desde o início do ano passado, o dólar, hoje negociado perto de R$ 5,70, já subiu 42%, e o real é uma das moedas que mais perderam valor no mundo. Isso significa que não só o dólar e o euro ficaram mais caros para os brasileiros, como também o peso chileno, o peso uruguaio e o rand sul-africano, por exemplo, todas elas moedas de países que também embarcam vinhos para cá.
Além disso, o comum é que as exportações de vinhos sejam negociadas sempre em dólar, independentemente do país de origem e de seus preços internos, de maneira que o peso da conversão do preço de compra para o real, na hora de trazer para o Brasil, deixou vinhos do mundo todo igualmente mais caros.
Boa parte desses aumentos, porém, acabaram incorporados pelas importadoras e apertados em seus lucros. Na World Wine, o repasse médio para os preços finais ficou em 14%, de acordo com Juliana.
Chegamos a pagar até 40% mais pelos vinhos em alguns momentos, quando o dólar chegou a R$ 5,90, mas é óbvio que entendemos que precisávamos diminuir a nossa margem; seria um repasse muito forte para o consumidor.
Juliana La Pastina, presidente do Grupo La Pastina
Menos restaurantes, mais e-commerce
Braço de vinhos do grupo La Pastina, que existe desde 1947, a World Wine foi criada em 1999 e, hoje, é um misto de distribuidora, varejo e comércio eletrônico. Vende seus mais de 2.000 rótulos para clientes de todos os tipos: supermercados, restaurantes, lojas especializadas e o consumidor final, a quem atende diretamente tanto pelo site quanto pelas 18 lojas próprias, espalhadas por seis estados do sul, sudeste e nordeste.
A cara dessa rede, porém, mudou bastante em 2020. “A venda para restaurantes teve, obviamente, uma queda muito expressiva, mas acabou compensada pela venda direta aos consumidores, que aumentou bastante”, conta Juliana. O braço de venda direta cresceu 40% do ano passado para cá, de acordo com ela, sendo que, só pelo site, as vendas dobraram.
Nas lojas físicas, boa parte delas dentro de shopping centers, sistemas de entrega e compras por telefone ajudaram a manter as vendas mesmo nos momentos em que o comércio teve que estar fechado. “Continuamos operando com as lojas fechadas, com poucos vendedores, trabalhando com entrega e retirada”, diz Juliana. “As lojas passaram a funcionar como pequenos centros logísticos, e acabamos ganhando em termos de logística.”